Centenas de cubanos tentaram ir ontem, 24 de outubro, ao Vaticano pedir um pronunciamento do papa Francisco e da Igreja sobre a situação de Cuba, três meses depois dos protestos contra o regime comunista de 11 de julho violentamente reprimidos. Com bandeira de Cuba, e gritando lemas a favor da liberdade, os cubanos foram barrados na Via da Conciliação, que dá acesso à praça de São Pedro, enquanto o papa Francisco rezava a oração mariana do Ângelus.

 

“Deus, pátria, vida e liberdade!”, foi um dos gritos de um grupo de mulheres que se manifestava pacificamente pedindo que o Vaticano dê atenção a Cuba.

Os presentes também gritaram: “Direitos humanos para os cubanos!” e “Queremos Cuba livre!”.

 

“Estamos no meio da rua porque o que está acontecendo esta manhã é que eles não nos deixam avançar, não nos deixam passar, colocaram uma barreira entre a Santa Sé e os cubanos”, disse um dos participantes, em um vídeo publicado no Twitter.

“Nós, cubanos, viemos aqui somente para pedir direitos humanos e para professar a nossa fé. Um pedido de oração para o povo que está passando mal. Um pedido de oração para milhares de seres humanos que estão sofrendo as consequências de viver sequestrados sob uma ditadura totalitária e genocida que está acabando com vidas”.

 

Em sua opinião, “o mínimo que milhões de seres humanos em dificuldades merecem é que haja um pronunciamento e um pedido de oração, que haja uma conciliação”.

“E assim tratam aos cubanos livres. Assim estamos, jogados na rua, sem poder avançar. Há gente de muitíssimos lugares. Há necessidade de que as nossas vozes sejam ouvidas e nossos pedidos sejam levados em consideração”, disse.

Um homem que conseguiu entrar na Praça de São Pedro ajoelhou-se segurando uma bandeira cubana aberta enquanto o papa presidia o Ângelus. Agentes da polícia se aproximaram e tiraram a bandeira dele, apesar dos protestos para que não o fizessem.

 

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No domingo, 18 de julho, uma semana após o início dos protestos de 11 de julho e após a oração do Ângelus, o papa Francisco disse estar “próximo também do querido povo cubano nestes momentos difíceis, especialmente das famílias que mais sofrem. Rezo ao Senhor para que o ajude a construir em paz, diálogo e solidariedade uma sociedade cada vez mais justa e fraterna”.

“Exorto todos os cubanos a confiar na materna proteção da Virgem Maria da Caridade do Cobre. Ela vos acompanhará”, disse Francisco na ocasião.

 

Em 11 de julho, surgiram espontaneamente protestos em toda Cuba contra o regime comunista do presidente Miguel Díaz-Canel, sucessor dos ditadores Fidel e Raúl Castro.

O governo respondeu com violência e prisões arbitrárias, também contra padres e leigos comprometidos com a Igreja em Cuba.

Há poucos dias, a Conferência Cubana de Religiosos e Religiosas (CONCUR) denunciou que persistem as irregularidades e os abusos por parte das autoridades contra os cidadãos que ainda estão detidos.

Em nota divulgada na quarta-feira, 20 de outubro, os religiosos cubanos qualificaram de "desumana" a "falta de comunicação presencial" dos detidos com suas famílias, o que "pareceria uma pena adicional".

 

A ONG espanhola de defesa legal dos direitos humanos, Prisoners Defenders, informou em 6 de outubro um “recorde histórico em Cuba de 525 presos políticos nos últimos 12 meses”, bem como 442 casos ativos no mês de setembro.

Prisoners Defenders constatou, além disso, “dentre os mais de 1,5 mil casos de medidas de limitação da liberdade sob autos fiscais ou sentenças, aplicadas aos manifestantes detidos aos milhares desde 11 de julho, uma lista de 442 casos de prisioneiros de consciência e condenados políticos que pudemos determinar ativos durante setembro de 2021 ".

Acrescentou que dos 442 casos, “288 pertencem à repressão relacionada ao 11 de julho em Cuba, cifra inferior ao 20% do total gerado pela onda repressiva, já que é totalmente impossível cobrir os casos entre a população por múltiplos razões".

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