Durante a missa solene da festa de Nossa Senhora Aparecida, no santuário nacional, na manhã de 12 de outubro, o arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, pediu, numa homilia bastante política, que todos construam juntos a “pátria amada”, que “não pode ser pátria armada” e deve ser “sem ódio, sem mentira e fake news, sem corrupção”. À tarde, o presidente Jair Bolsonaro participou da missa no santuário, quando fez uma das leituras da missa e rezou a consagração à padroeira do Brasil.

Dom Orlando Brandes destacou duas palavras da liturgia do dia: povo e aliança. O arcebispo afirmou que são Paulo VI, são João Paulo II, Bento XVI e o papa Francisco, ao enviar mensagens aos brasileiros, se referiram ao povo. “E eu quero pedir que cada um de nós abrace o Brasil, abrace o nosso povo”, disse, citando os indígenas, os negros, os europeus, as crianças, os pobres e os enlutados “pelas 600 mil mortes” por covid-19 no país. “E abraçamos também nossas autoridades, para que juntos construamos um Brasil pátria amada. Para ser pátria amada não pode ser pátria armada. Para ser pátria amada, seja uma pátria sem ódio, sem mentira e fake news, sem corrupção. E pátria amada com fraternidade”, afirmou, ao se referir a Fratelli Tutti, encíclica do papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social.

Sobre a aliança, o arcebispo disse que “é sinônimo de amizade, amizade pessoal, mas, o papa pede e a doutrina social da Igreja também, uma amizade social”. “Aliança significa parceria, diálogo mútuo, empatia, união e democracia”, afirmou dom Orlando, pedindo ainda que todos sejam “aliados do bem-comum” e “que nenhum brasileiro e brasileira possa caçar no lixo ossos para sobreviver”.

Por fim, dom Orlando agradeceu a Nossa Senhora Aparecida, porque durante a pandemia “foi consoladora, conselheira, mestra, companheira e guia do povo brasileiro, que hoje te agradece de todo coração”. “Porque vacina sim, ciência sim e Nossa Senhora Aparecida juntos salvando o povo brasileiro”, concluiu. Sem nomear ninguém, a fala de dom Orlando tocou em todos os pontos pelos quais o presidente Jair Bolsonaro tem sido atacado por seus críticos e opositores.

À tarde, o presidente Jair Bolsonaro chegou ao Santuário de Aparecida acompanhado pelos ministros da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e da Cidadania, João Roma. Eles participaram da missa das 14h, presidida por dom Orlando Brandes. Na ocasião, Bolsonaro foi encarregado de fazer a primeira leitura e rezou a oração de consagração a Nossa Senhora Aparecida.

Dom Orlando Brandes não pronunciou a homilia durante esta celebração. A reflexão ficou a cargo do redentorista padre José Ulysses da Silva, que falou sobre a pandemia de covid-19. “Podemos dizer, graças a Deus estamos vivos, estamos aqui. Talvez, tivemos que chorar pessoas que se foram. Nossa Senhora, ao longo de toda essa pandemia, tenho certeza, enxugou as lágrimas de muitas pessoas, de muitas famílias”.

Segundo o sacerdote, “ao longo dessa pandemia certamente algo temos que aprender”. Disse que a “primeira lição que Nossa Senhora nos dá é o valor da vida de cada um de nós, um valor que deve prevalecer sobre todo e qualquer valor desse mundo, nossos interesses políticos, econômicos e até religiosos”. Além disso, afirmou que outra lição é que “nossa vida é conectada uns com os outros”. “Ninguém vive sozinho e certamente foi graças à solidariedade, ao cuidado que nós não atravessamos crises ainda mais violentas do que poderíamos atravessar”, disse e agradeceu “a Nossa Senhora por todos os agentes de saúde que se cansaram demais para dar conta desse tempo tão difícil”.

“Ficam as sequelas, as consequências e acho que Nossa Senhora pede a nós: continuem se cuidando. Há mesas vazias, há desemprego, há sequelas da enfermidade e tudo isso ainda vai levar algum tempo”, disse. Por isso, pediu para olhar “para Nossa Senhora e, com o mesmo carinho que Ela olha para você, continue sendo solidário, continue estendendo a mão, continue ajudando”.

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