O ativista dos direitos humanos Benedict Rogers denunciou que a minoria cristã de Myanmar sofre violenta repressão por parte do governo militar que tomou o poder em 1º de fevereiro e que já causou a morte e mais de mil pessoas. Em 28 de setembro, Rogers, analista sênior sobre o leste da Ásia do grupo de direitos humanos Christian Solidarity Worldwide (CSW), falou em um seminário virtual no Parlamento Europeu.

“Um dos exemplos mais recentes de perseguição cristã foi o assassinato, há apenas dez dias, em 18 de setembro, de um pastor batista de 31 anos no estado de Chin, o pastor Cung Biak Hum”, disse Rogers.

O ativista explicou que o pastor “foi assassinado a tiros enquanto tentava extinguir o fogo” das casas, que estavam em chamas depois que “os militares dispararam artilharia”. “E não só o mataram, como lhe cortaram o dedo anelar para lhe tirar a aliança”, explicou.

Myanmar é um país predominantemente budista de 54,8 milhões de habitantes,  maioria da etnia bamar. O país abriga 4,4 milhões de cristãos, dos quais cerca de 750 mil são católicos, liderados pelo arcebispo de Yangon, dom Charles Maung Bo, o primeiro cidadão de Myanmar a se tornar cardeal.

A ADF International, organização de defesa jurídica da liberdade religiosa, estima que o acesso a alimentos e cuidados médicos é atualmente negado aos mais de 100 mil cristãos que vivem em campos de deslocados internos no norte de Myanmar.

Rogers disse que era importante reconhecer que os cristãos pertencem, em grande parte, a grupos étnicos minoritários que, durante muito tempo, foram atacados por um exército que “sempre teve uma agenda nacionalista budista”.

O ativista se perguntou se, no futuro, Myanmar será realmente a sociedade multiétnica e pluri-religiosa que atualmente é, ou será “uma sociedade budista birmanesa (bamar) em que as minorias étnicas e religiosas são tratadas, na melhor das hipóteses, como cidadãos de segunda classe”.

O seminário virtual, organizado pelo parlamentar europeu holandês Bert-Jan Ruissen, também teve como convidado Alex Aung Khant, jovem ativista que fugiu do país depois do golpe de Estado.

Khant afirmou que as minorias étnicas e religiosas foram perseguidas durante décadas e que a discriminação persiste até hoje. “Em Myanmar, o escritório para obter sua carteira de identidade tem duas entradas. Uma entrada para os budistas bamar e outra para todas as outras etnias e religiões”.

“Se o exército permanecer no poder, por enquanto, então, sem dúvida, a situação dos direitos humanos continuará sendo extremamente grave”, disse Benedict Rogers. “Tendo dito isso, tenho alguma esperança de que, se de alguma forma for possível tirar os militares e restaurar a democracia, a unidade das pessoas em oposição ao golpe é realmente extraordinária e me dá um motivo de esperança”.

“Vimos exemplos de budistas birmaneses, que antes tinham acreditado em parte da propaganda do regime contra as minorias religiosas e étnicas, desculpando-se por suas atitudes no passado e reconhecendo que as minorias étnicas e religiosas têm sofrido muito, e que agora compartilham o mesmo objetivo de [restaurar] a democracia”, concluiu.

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