O arcebispo de Boston, EUA, cardeal Sean O`Malley, afirmou durante sua participação em uma conferência sobre abusos que “os males cometidos contra o povo de Deus devem ser corrigidos”.

De 19 a 22 de setembro, em Varsóvia, na Polônia, foi realizada a conferência internacional “Nossa missão comum de salvaguardar as crianças de Deus”, organizada pela Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores.

A conferência reuniu, durante quatro dias, “representantes de conferências episcopais e profissionais que trabalham no campo da proteção de crianças e jovens em quase 20 países da Europa central e oriental”, segundo a página oficial do evento.

Na sua homilia do dia 20 de setembro, o cardeal O`Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, pediu o fim dos abusos e dos encobrimentos por parte dos clérigos.

“Estamos reunidos aqui porque muitos de nossos irmãos e irmãs sofreram nas mãos de clérigos abusivos que cometeram atos malvados ao usar seu cargo para abusar de outros ou para encobrir” abusos, afirmou.

Créditos: episkopat.pl

Muitas vezes as vítimas foram “rejeitadas em seu sofrimento” quando decidiram falar sobre estes lamentáveis acontecimentos e afirmou que “isso não pode ser o que Jesus quer para a sua Igreja”, disse O’Malley. “A Igreja de um Deus amoroso e reconciliador não pode ser assim. O abuso e seu encobrimento devem terminar e os males cometidos contra o povo de Deus devem ser corrigidos”, acrescentou.

O cardeal O`Malley elogiou os sobreviventes de abusos. “A coragem e o testemunho de tantos sobreviventes e suas famílias, e a sua profunda preocupação para que outros não sofram danos similares, devem ser reconhecidas e acolhidas. Damos graças a Deus pelo seu testemunho e sua presença entre nós”, disse ele.

A conferência começou com um discurso do dom Stanisław Gądecki, presidente da Conferência Episcopal dos Bispos Poloneses. “Novas tragédias estão sendo descobertas e a quantidade de casos que chegaram da nossa região nos últimos anos à Congregação para a Doutrina da Fé assombra esta experimentada instituição”, disse Gądecki sobre a situação da Europa Central e Oriental.

Dom Gądecki descreveu os passos que a Igreja polonesa deu para responder a uma série de escândalos de abuso, destacando a nomeação de dom Wojciech Polak como delegado para a proteção das crianças e dos jovens e a criação da Fundação São José, que cuida das vítimas de abuso.

O clérigo acusado e condenado, quando cai em solidão, “cria uma frustração perigosa” tanto para ele mesmo como para a vítima, disse Gądecki. “É por isso que criamos o papel de tutor do clérigo acusado ou condenado, para supervisionar essas pessoas, exigir que elas cumpram todas as restrições impostas e apoiá-las em momentos de depressão ou desespero”, acrescentou.

Dom Gądecki disse que os leigos criaram uma organização chamada “Feridos na Igreja”, que disponibiliza uma linha direta para as vítimas e o acesso a terapeutas e advogados. “Menciono essas pessoas e instituições para mostrar a magnitude do esforço realizado pela Igreja na Polônia e para agradecer àqueles que fizeram muitas coisas boas nesta área ao longo dos anos”.

Segundo ele, existe o perigo de “que todas estas ações adormeçam o nosso senso de responsabilidade ao acreditar que, afinal, já estamos fazendo muito por esta causa”. “No entanto”, continuou o bispo, o “contato com a tragédia de tantas pessoas que foram prejudicadas, como pude experimentar pessoalmente ao ouvir várias pessoas antes da cúpula do Vaticano em 2019, revela que, diante da enormidade das feridas, tantos esforços continuam sendo insuficientes”.

O papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do encontro exortando aos líderes a que coloquem o bem-estar das vítimas à frente da reputação da Igreja.

“Nossas expressões de dor devem se tornar vias concretas de reforma para prevenir novos abusos e dar confiança aos demais de que nossos esforços produzirão uma mudança real e confiável”, afirmou Francisco. Ele encorajou a “ouvir o grito das vítimas” e a dedicar tempo a estas “importantes discussões, porque realmente dizem respeito ao futuro da Igreja na Europa central e oriental”.

Por fim, o cardeal O`Malley pediu a Deus que “estes sofrimentos sejam a semente de uma Igreja mais resistente, mais amorosa e mais fiel, reconhecendo humildemente suas faltas e firmemente comprometida a buscar a justiça e a reconciliação com aqueles que foram prejudicados”. “Apenas trabalhando com coragem para levar justiça e cura às vítimas que nós mesmos podemos ser curados”, concluiu.

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