A diocese de Duque de Caxias (RJ) recuperou duas imagens sacras que tinham sido roubadas da igreja de Nossa Senhora do Pilar em 1974, uma do Rei Davi e outra de Betsabá. As esculturas da primeira metade do século XVIII foram encontradas em acervos de colecionadores após mais de quatro décadas desaparecidas.

A primeira escultura recuperada foi a de Betsabá, mulher do rei Davi e mãe do rei Salomão. Em seguida, foi a vez da imagem do Rei Davi. No caso desta última, foram feitas buscas em leilões de arte, livros de arte e catálogos. Em 2015, a escultura foi identificada no livro “O Aleijadinho: Catálogo Geral da Obra: Inventário das Coleções Públicas e Particulares”, de autoria de Márcio Jardim, Herbert Sardinha Pinto e Marcelo Coimbra, lançado em 2011. A imagem estava em uma coleção particular no estado de São Paulo.

Segundo a diocese de Duque de Caxias, o rastreamento e a localização das imagens sacras roubadas de seus templos fazem parte de um esforço permanente da diocese, juntamente com o Ministério Público e esforços da Polícia Federal e do Poder Judiciário.

As imagens do Rei Davi e de Betsabá formavam o conjunto escultórico do altar-mor da igreja histórica no bairro de Pilar, em Duque de Caxias. Ambas possuem características do barroco joanino, em madeira policromada e douramento, com cerca de 1,20m de altura. “O estilo barroco é caracterizado pela grandiosidade, teatralidade e representações visuais das imagens, que nasceu para atuar como instrumento de afirmação e persuasão da fé cristã”, disse ao site diocesano Elaine Gusmão, especialista em História da Arte e membro da Comissão para os Bens Culturais e Patrimônio Histórico da Diocese de Duque de Caxias. Estas imagens “auxiliavam na catequização dos fiéis, que não tinham acesso aos textos da Bíblia. A transcendência estética das obras fortalecia os ensinamentos religiosos através do encantamento dos devotos com a beleza artística”, disse.

Segundo a especialista, “a imagem foi confeccionada em ‘escorzo’, que é a alteração intencional das proporções anatômicas, técnica utilizada pelos artistas para corrigir a perspectiva, uma vez que seriam vistas de longe e de baixo para cima”. Além disso, contou que “a iconografia do conjunto escultórico representa a passagem da Bíblia presente em 2 Samuel 11,2-5:  ‘Uma tarde Davi levantou-se da cama e foi passear pelo terraço do palácio. Do terraço viu uma mulher muito bonita tomando banho, e mandou alguém procurar saber quem era ela. Disseram-lhe: ‘É Betsabá, filha de Eliã e mulher de Urias, o hitita’. Davi mandou que a trouxessem, e se deitou com ela, que havia acabado de se purificar da impureza da sua menstruação. Depois, voltou para casa. A mulher engravidou e mandou um recado a Davi, dizendo que estava grávida’”.

A igreja de Nossa Senhora do Pilar, que abrigada as imagens recuperadas, foi um dos primeiros bens tombados do Brasil, em 1938, um ano após a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O templo foi construído no início do século XVIII nas margens do antigo porto do Pilar do Iguaçu. Foi a sede religiosa de uma das freguesias mais ricas da região durante o ciclo do ouro, pois ficava em um dos caminhos para as Minas. Com a abertura de uma nova estrada que fazia o mesmo trajeto em menos tempo, o caminho foi abandonado, levando a freguesia à decadência.

A igreja histórica, ornada em ouro, sofreu muitos furtos e grande parte de seu acervo foi saqueado. Entre as peças roubadas está a imagem da padroeira da diocese de Duque de Caxias, Nossa Senhora do Pilar, desaparecida até hoje.

A igreja está fechada há sete anos e atualmente passa por um processo de restauração para a realização de reforço da infraestrutura, descupinização, recuperação dos bens móveis integrados e a conservação dos elementos artísticos. Segundo a diocese, a previsão de entrega era dezembro de 2020, mas devido à pandemia de covid-19, foi necessária uma readequação no prazo de conclusão das obras.

Confira também: