O arcebispo de Arequipa, dom Javier del Rio, se disse preocupado com a possível infiltração do Sendero Luminoso, organização guerrilheira de esquerda que atuou no Peru nas décadas de 1980 e 1990, no novo governo peruano. Em sua mensagem semanal publicada ontem, 19 de setembro, o bispo disse que a morte de Abimael Guzmán, líder do Sendero Luminoso, em 11 de setembro, “fez retornar, às primeiras páginas dos jornais e aos noticiários, fotografias e matérias da imprensa que eram habituais na década de 80 e no início dos anos 90, quando o Sendero Luminoso assassinava e destruía por toda parte. Nós, que vivemos aquela época, continuamos lembrando com dor a morte de cerca de 70 mil irmãos nossos causadas pelo terrorismo, além dos danos materiais ao nosso país calculados em bilhões”.

Abimael Guzmán morreu aos 86 anos no presídio de segurança máxima da base naval de Callao, onde cumpria prisão perpétua desde 1992.

Guzmán encabeçou, na década de 1960, uma facção do Partido Comunista Peruano que tinha como lema “pela trilha luminosa (sendero luminoso, em espanhol) de Mariátegui”, tomando como inspiração o escritor e político peruano José Carlos Mariátegui. Naquela época, Abimael Guzmán começou a utilizar o codinome de “presidente Gonzalo”.

No final da década de 70, o Sendero Luminoso iniciou o caminho da violência e do terror, seguindo a ideologia que os terroristas descreviam como “marxismo-leninismo-maoísmo-pensamento Gonzalo”. A atuação violenta do Sendero Luminoso se estendeu da serrania sul do Peru a todo o país, com assassinatos de camponeses, líderes de comunidades, profissionais, policiais, militares, políticos e qualquer pessoa que fosse considerada um obstáculo no seu caminho ao poder.

Em 12 de setembro de 1992 a polícia prendeu Abimael Guzmán em Lima, capital do Peru. Com a captura do líder terrorista, o Sendero Luminoso iniciou um processo de retirada que os levou a se associar com o narcotráfico em regiões inóspitas do Peru e a criar um braço político chamado Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais (MOVADEF).

Durante a campanha eleitoral de 2021, o atual presidente Pedro Castillo e vários membros do seu partido Perú Libre foram acusados de ter vínculos com o MOVADEF.

Em seu plano de governo, o partido de Castillo afirma que, quando uma pessoa “se diz de esquerda sem reconhecer-se marxista, leninista ou mariateguista”, o que faz “é simplesmente agir em favor da direita”.

Dom Javier del Rio, no final dos anos 80, foi missionário em Ayacucho, “o berço desse movimento subversivo e antipatriota. É impossível esquecer o sofrimento de tantas famílias. Quase todas as que eu conheci tinham perdido entes queridos, assassinados ou desaparecidos”.

O arcebispo homenageou vários sacerdotes e religiosas assassinados pelo Sendero Luminoso, como o padre Víctor Acuña Cárdenas, “sacerdote dedicado a ajudar os pobres” que foi assassinado “pelo Sendero Luminoso na manhã de 3 de dezembro de 1987, ao terminar de celebrar a missa na capela do mercado de Magdalena, em Huamanga”.

Também lembrou da religiosa Agustina Rivas López, mais conhecida como irmã Aguchita, da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, assassinada pela Sendero em 27 de setembro de 1990 e que será declarada beata em breve. “Ela tinha chegado ao vicariato apostólico de San Ramón, na região de Junín, três anos antes. Com o aumento das ações terroristas, ela teve a possibilidade de voltar pra Lima, mas optou por permanecer na missão em La Florida, onde se dedicou a apoiar meninas, mulheres e famílias inteiras que viviam em situação de extrema pobreza e abandono pelo Estado”, contou o bispo.

Dom Del Rio também lembrou do assassinato de três sacerdotes em 1991: os poloneses Miguel Tomaszek e Zbigniew Strzalkowski, e o italiano Alessandro Dordi, beatificados em 5 de dezembro de 2015, em Chimbote.

O arcebispo afirmou que “todos eles foram assassinados porque aqueles que professam a ideologia marxista em suas diversas versões e consideram que o evangelho, a cruz de Cristo e as obras de caridade são obstáculos para a revolução, já que esta se baseia no ódio, na divisão e na violência”.

“Como não nos preocuparmos agora que se fala tanto de uma possível infiltração de membros ou simpatizantes do Sendero Luminoso, ou dos seus organismos de fachada, no governo peruano?”, concluiu.

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