Podem os mortos se comunicar com os vivos? A página da CNN publicou um artigo intitulado “Perderam seus entes queridos por causa da covid-19. Depois, ouviram-nos novamente”. A visão secular do artigo pode ser perigosa, caso não sejam entendidas a partir dos ensinamentos da Igreja Católica e da experiência de sacerdotes exorcistas.

O artigo relata experiências sobrenaturais após a morte, explicadas apenas a partir das ADC, “comunicações após a morte” (do inglês “after death communications”), fenômeno estudado pela psicologia. O texto descreve eventos que vão desde a suposta aparição de familiares mortos em sonhos vívidos, o odor de uma fragrância usada pelo parente morto, até encontros mais pessoais, como a impressão de ser tocado por um defunto, ouvir uma voz ou ver uma silhueta humana.

Segundo Blake, as ADC ocorrem depois de tragédias massivas, como os ataques terroristas contra as Torres Gêmeas de 11 de setembro, ou o tsunami que assolou o Japão em 2011 e deixou pelo menos 20 mil mortos. Muitos afirmaram ter visto seus mortos e, inclusive, “um livro e um documentário foram feitos sobre essa cidade de fantasmas errantes”.

Segundo o artigo, as ADC poderiam ocorrer para que “os familiares mortos possam assegurar aos seus entes queridos que se reunirão com eles, ou que estarão ali para recebê-los e saudá-los quando morrerem, ou inclusive ajudá-los na vida ou na morte”.

Primeiro, o que diz a Igreja Católica?

O Catecismo da Igreja Católica ensina, no artigo 2.116, que “todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente ´reveladoras` do futuro”. E explica que “a consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenômenos de vidência, o recurso aos ´médiuns`, tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele”.

Patti Maguire Armstrong, escritora premiada, mãe de dez filhos e co-autora da série Amazing Grace e outros livros de ajuda no crescimento da fé na vida cotidiana, declarou para o jornal National Catholic Register que “a tentativa da CNN de abordar o tema da vida após a morte foi muito limitada” pois omite toda relação com Deus, a religião, a oração ou o purgatório. Além disso, chama a atenção que a CNN afirme com “naturalidade” e de forma perigosa, que muitas pessoas recorram “a práticas ocultas, como a tábua de ouija e médiuns, numa tentativa de contatar-se com os mortos”.

“Deus, o criador de todas as almas, não foi mencionado em nenhum momento. Tampouco apareceu a palavra ´alma` em nenhuma parte. Tampouco houve a menor advertência para afastar-se do oculto”, disse a escritora, que lembrou que, na Bíblia, Deus proíbe as práticas ocultas, e que, “às vezes, um demônio disfarçado” se apresenta como um morto.

O livro do deuteronômio ensina: “Não haja, no meio de ti, quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem consulte adivinhos, ou observe sonhos ou premonições, nem quem use a feitiçaria; nem quem recorra à magia, consulte oráculos, interrogue espíritos ou consulte os mortos. Pois o Senhor abomina quem pratica essas coisas. É por tais abominações que o Senhor, teu Deus, os expulsa de tua frente” (Dt 18, 10-12).

Maguire também lembrou da condenação de são Paulo ao mago Elimas, narrada nos atos dos apóstolos. Ele é chamado de “filho do diabo, cheio de falsidade e de malícia, inimigo de toda justiça” (At 13, 10).

Os católicos vivem estas experiências?

Maguire lembrou que são Pio de Pietrelcina dizia que as almas do purgatório apareciam e pediam orações. Maguire afirmou que os católicos devem rezar por elas, porque poderiam estar no purgatório sendo purificadas de seus pecados. Lembre-se que o livro do apocalipse afirma que “nada impuro pode entrar no céu”, disse ela.

O que dizem os exorcistas?

Maguire citou o artigo “Two Exorcists Weigh In On Ghosts and Haunted Houses” (Dois exorcistas investigam fantasmas e casas assombradas, em tradução livre), do padre Vincent Lampert, exorcista da diocese de Indianápolis. Ele relatou a experiência de uma mulher que temia que o seu ex-marido, já morto, a perseguisse. O casamento terminara pela infidelidade do marido. Depois de sofrer uma doença terminal, ele se arrependeu e pediu perdão à mulher. Ela respondeu: “apodreça no inferno!”

Depois da morte do marido, a mulher encontrava os móveis fora do seu lugar, apesar de morar sozinha. Na mesa da casa, reaparecia uma velha foto do seu casamento, que ela voltava a guardar toda vez.

Depois de avaliar a situação, o padre Lampert disse que Deus estava permitindo ao morto dar a conhecer sua presença à sua ex-mulher, porque estava no purgatório e precisava de orações. O padre, então, convenceu-a a perdoá-lo e orou “por ele, junto com ela, e tudo parou”, afirmou.

Segundo Maguire, o padre Lampert conta que essas experiências sucediam com frequência. “Celebrei missas em lugares onde acontecem esse tipo de coisas e isso costuma solucioná-lo”, disse ele. “Quando rezamos pela pessoa na missa e tudo se cala, então sabemos que isso é o que se necessitava. Acho que as almas podem atuar nesta realidade se precisam de orações e Deus o permite”, acrescentou o padre.

Além disso, disse que muitas pessoas lhe informam sobre coisas estranhas que acontecem em suas casas. “Se é uma alma que está presa, está procurando orações e tentando chamar a atenção das pessoas [...]. Ela precisa dessas orações para avançar para onde deve estar”, disse.

Para Maguire, “os ADC reportados pela CNN são, na verdade, almas no purgatório que precisam de orações”. Portanto, como católicos, embora possamos ficar assustados ou confortados nestas situações, a melhor reação é rezar pelas almas dos nossos defuntos e por todas as almas do purgatório que não têm ninguém que rezem por elas.

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