O bispo de Regensburg propôs, nesta sexta-feira, um texto alternativo ao Caminho Sinodal Alemão. Dom Rudolf Voderholzer, um dos maiores críticos às propostas feitas pelos bispos e leigos reunidos no caminho sinodal, apresentou suas sugestões através em uma nova página lançada em 3 de setembro. “Estamos convencidos de que só um Caminho Sinodal que se empreenda junto e por toda a Igreja pode ser sólido e alcançar seu objetivo. A Igreja inteira não é apenas a Igreja universal, mas também a Igreja primitiva e a Igreja dos santos que já chegaram ao seu destino”, disse o bispo. “Seu fundamento é Deus-Homem Jesus Cristo, que está verdadeiramente presente na Eucaristia e a partir dela se edifica a Igreja”.

O Caminho Sinodal Alemão é um processo iniciado em 2019 que reúne bispos e leigos para discutir quatro temas principais: a forma como se exerce o poder na Igreja, a moral sexual, o sacerdócio e o papel da mulher. Há propostas de ordenação de mulheres, fim do celibato sacerdotal e aceitação da homossexualidade. O caminho sinodal pretende que suas decisões sejam vinculantes. O papa Francisco criticou essa intenção porque os temas discutidos são da alçada da Igreja universal e não das igrejas particulares em cada país.

Na apresentação da página, dom Rudolf Voderholzer escreveu: “Estamos nos unindo ao Caminho Sinodal, mas estamos cada vez mais convencidos de que não alcançará seu objetivo se continuar com o caminho que tem tomado até agora”.

Uma sessão plenária do caminho sinodal está marcada para os dias 30 de setembro a 30 de outubro em Frankfurt, sudoeste da Alemanha. Será a segunda reunião da assembleia sinodal, órgão supremo de tomada de decisões do caminho sinodal, integrada pelos bispos alemães, 69 membros do Comitê Central laico dos católicos alemães (Zdk) e representantes de outras áreas da Igreja na Alemanha.

Dom Voderholzer, bispo de Regensburg e professor de teologia dogmática, escreveu: “Nesta página você encontrará, entre outras coisas, textos alternativos, comentários e declarações do Vaticano sobre os temas e fóruns do Caminho Sinodal, sobre os quais apresentamos o nosso ponto de vista”.

“Baseamo-nos em argumentos e na 'sã doutrina'. Apresentamos os argumentos da melhor forma que pudemos e se incorporaram ao processo do Caminho Sinodal, mas devido à maioria que prevalece ali, não foram levados em conta até agora”.

A página inclui um documento de 36 páginas chamado “Autoridade e responsabilidade”, que oferece uma alternativa ao texto apoiado pelos membros do Fórum I do Caminho Sinodal, dedicado à forma como se exerce o poder na Igreja.

O documento é o primeiro de uma série que também abordará os temas dos outros três fóruns sinodais.

Colaboraram com o documento: o padre Wolfgang Picken, decano da cidade de Bonn; Marianne Schlosser, professora de Teologia em Viena, Áustria; a jornalista Alina Oehler; e o bispo auxiliar de Augsburgo, dom Florian Wörner. Eles expressaram sua preocupação pela direção tomada pelo caminho sinodal.

“No debate atual sobre a renovação da Igreja, cuja necessidade se tornou óbvia através da crise de abusos, muitas vezes são apresentadas posições cujos conteúdos não têm uma conexão segura com a reavaliação ou prevenção do abuso de poder dentro da Igreja”, escreveram.

“Portanto, os chamados à introdução da ordenação de mulheres ou o desejo de uma adaptação integral das estruturas da Igreja aos padrões das democracias modernas (especialmente no que diz respeito à separação de poderes), bem como as dúvidas sobre a autoridade espiritual do ministério ordenado, o pedido de sua constante dessacralização ou uma reorganização de grande alcance da moral sexual da Igreja são componentes de uma agenda de reforma cujas origens se encontram muito antes da crise de abuso e só se associaram secundariamente com ela”.

Os autores também garantiram que “tal combinação de interesses não responde à séria preocupação com que se iniciou o Caminho Sinodal e traz consigo o perigo de novas divisões dentro da Igreja alemã, assim como em sua relação com o Vaticano e a Igreja universal...”.

“Se você tem a esperança de que a maioria dos votos de uma assembleia sinodal alemã pode levar a mudanças na doutrina oficial da Igreja e direito canônico universal ou pelo menos legitimar um Sonderweg (estrada especial) alemão em questões da doutrina da fé e da moral, o resultado final ameaça ser uma potenciação da frustração que esgota a energia que já se associou durante décadas com a luta por reformas radicais na Igreja Católica".

“O Caminho Sinodal alemão faria bem em evitar tais decepções, estabelecendo as prioridades corretas de antemão. Só então será possível encaixar, de maneira frutífera, com o processo sinodal para toda a Igreja, que o Papa Francisco iniciou na primavera de 2021”.

O documento propõe 14 “teses” sobre “um novo enfoque do poder e do abuso de poder na Igreja”.

Dom Voderholzer, eleito bispo de Regensburg em 2012, foi uma das vozes mais críticas ao caminho sinodal. Junto com o cardeal Rainer Woelki, arcebispo de Colônia, ele redigiu estatutos alternativos para guiar o processo. A proposta foi rejeitada pelo conselho permanente dos bispos alemães em agosto de 2019.

Um mês depois, o bispo de Regensburg votou contra os estatutos adotados pelos bispos alemães por uma margem de 51 a 12.

“Após um debate de muitas horas, houve algumas melhorias”, disse. “Mas deixei claro em várias ocasiões que a orientação temática dos fóruns parece passar pela realidade da crise de fé em nosso país”, afirmou.

Em fevereiro de 2020, dom Volderholzer disse que havia detectado um “despotismo autoritário” nos trâmites do caminho sinodal e em setembro do mesmo ano criticou duramente um texto elaborado pelo fórum sobre o papel da mulher.

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