O mexicano Rafael Becerra González, autor do livro Anacleto González Flores: da Palavra à Transformação Social, disse que o exemplo do mártir da perseguição religiosa no México tem particular vigência para os leigos de hoje, para “levar os valores do Evangelho para todos os cantos possíveis”.

Entrevistado por ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Becerra, que é seminarista da arquidiocese de San Antonio, no Texas, Estados Unidos, disse que Anacleto González “foi um profundo analista da realidade que lhe tocou viver”, mas “ia mais longe: não se tratava apenas de analisar a realidade, mas de tomar medidas eficazes para reagir a essa situação”.

A cultura atual, afirmou Becerra, é “pós-moderna”, e está “dessacralizando o que é sagrado para depois esvaziar seu conteúdo e sacralizar o que é profano”. Diante desta situação, “Anacleto González nos ensina a analisar a realidade e a poder responder à situação específica” para, assim, “levar nossa proposta cristã”, disse o autor.

Anacleto González “foi um leigo que se diferenciou por ter sido estudioso, um organizador, um homem de oração, além disso, um esposo extraordinário, um pai extraordinário”, disse Becerra. “Um homem que caminhou com sua Igreja, que foi condecorado pelo papa e que chama os leigos de hoje a viver essa paixão por Cristo, entregar sua vida por Cristo desde a autenticidade de cada um”.

O seminarista mexicano afirmou que esses méritos fizeram com que a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em 2019, com a aprovação do papa Francisco e após o pedido da Conferência Episcopal Mexicana, o declarasse padroeiro dos leigos mexicanos. “Por isso, os leigos no México temos hoje um modelo extraordinário que podemos seguir desde nossa própria autenticidade, como a autenticidade do 'mestre Cleto'”, como ele era conhecido.

Assim como Anacleto, Rafael também nasceu em Tepatitlán, no estado de Jalisco, e pertenceu à paróquia de são Francisco, onde o beato recebeu sua primeira Comunhão. E assim como o padroeiro dos leigos mexicanos, Rafael também passou pelo seminário da diocese de são João dos Lagos.  “Levo no meu coração esse modelo de leigo comprometido, que eu mesmo quis imitar na minha juventude”, disse ele.

No seminário de são João dos Lagos, surgiu o livro sobre Anacleto González escrito por Becerra como resultado de um trabalho acadêmico para a conclusão dos estudos de filosofia.

Rafael Becerra destacou o trabalho de “protesto ativo e pacifista” liderado pelo beato Anacleto nos anos da perseguição religiosa no México, nas primeiras décadas do século XX. “Ele não foi um homem que empunhou armas”, disse. As palavras finais do beato Anacleto González antes de ser executado foram: “eu morro, mas Deus não morre. Viva Cristo Rei!”.

Segundo Rafael, Anacleto sabia com clareza que seu trabalho “não era a sua própria obra, e sim a de Deus”, e que, ao ser morto, não falhou. “Anacleto está deixando claro que não é a sua obra. E está convidando seus seguidores e os seguidores de Cristo a não desanimarem, a irem em frente”, pois “o triunfo já está garantido” pela Ressurreição de Jesus.

Rafael Becerra lamentou que o sistema educativo mexicano tenha silenciado “durante muitos anos” sobre a Guerra Cristera e a perseguição religiosa no século XX no México. “Hoje há muitos documentos, podemos encontrar muito mais bibliografia e podemos aprofundar mais” no tema, disse Becerra. “Com este livro, tento fazer justamente isso: despertar o entusiasmo das pessoas para que conheçam esses grandes líderes, como Anacleto González Flores”.

Segundo o escritor, “hoje vivemos em um momento diferente” daquele que os Cristeros viveram no século XX, mas existem “diferentes ataques contra nossa fé católica”. Devemos lembrar a forma como, tanto “homens e mulheres, ricos, pobres, jovens, velhos, profissionais e não-profissionais, do campo e da cidade, se uniram em um movimento para defender a coisa mais profunda que tinham: sua fé e seu valor cristão, seu desejo de Deus e a possibilidade de ser livres para poder expressá-lo no culto público”.

Assim, seguindo o modelo do beato Anacleto, é importante “primeiro analisar a realidade. Segundo, dar uma resposta eficaz positiva, dando todos os nossos talentos e tudo o que somos ao serviço dos outros”.

“Até chegar ao momento sublime, que pode incluir a entrega da vida para defender nossas liberdades, nossa liberdade de crença e a liberdade religiosa que se vê ameaçada em muitas partes do mundo”, afirmou.

“A proposta de Anacleto, que é muito atual”, disse, é que “devemos estar na escola, na imprensa e na rua, na questão pública. Aí deveriam estar os católicos, para levar os valores do Evangelho a todos os cantos possíveis”, afirmou.

Quem foi Anacleto González Flores?

O beato Anacleto González nasceu em Tepatitlán de Morelos, no estado mexicano de Jalisco, em 13 de julho de 1888. Foi o segundo de 12 filhos.

Seu pai não confiava na Igreja e, por essa razão, recebeu uma educação liberal e não religiosa.

Quando escutou a pregação de um sacerdote em 1905, em Guadalajara, Jalisco, inspirou-se de tal forma que começou a participar na catequese local.

Começou seus estudos de direito em 1913, com o objetivo de “defender a Pátria e a Religião”.

Anos depois, seria membro fundador da Associação Católica da Juventude Mexicana (ACJM).

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Após a entrada em vigor da Constituição de 1917, fortemente anticlerical, Anacleto participou dos esforços para evitar que medidas contra a Igreja fossem aplicadas no estado de Jalisco.

As manobras bem-sucedidas, que incluíram um boicote, fizeram com que as pressões anticlericais fossem detidas até 1926.

Em 1925, recebeu um reconhecimento do papa Pio XI, a Cruz Pro Ecclesia et Pontifice, pelos seus esforços na defesa da Igreja desde anos anteriores à Guerra Cristera.

Organizou um eficaz boicote pacífico contra o governo do presidente Plutarco Elias Calles para evitar que a chamada “Lei Calles”, com graves restrições ao culto católico, entrasse em vigor.

Esforçou-se para evitar, sem sucesso, que a luta armada tivesse início. Na Guerra Cristera, foi preso pelo governo, torturado e finalmente executado em 1º de abril de 1927.

Antes de morrer, perdoou seus assassinos e disse: “pela segunda vez, ouçam as Américas este grito: eu morro, mas Deus não morre. Viva Cristo Rei!”.

Anacleto González foi beatificado em 20 de novembro de 2005, em Guadalajara.

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