O papa Francisco disse sobre o caminho sinodal alemão que “não tomaria o assunto de forma trágica. Não existe má vontade em muitos dos bispos com os quais conversei. É um desejo pastoral, que por ora não leva em conta algumas coisas. E eu explico isso na carta, que é preciso ter em consideração”. A carta a que o papa se referiu na entrevista dada à rádio Cope, da conferência episcopal espanhola, divulgada nesta quarta-feira, 1º, foi enviada aos bispos alemães e, junho de 2019, três meses antes do início do caminho sinodal. Ela expressa “tudo o que sinto sobre o sínodo alemão”, disse Francisco.

O caminho sinodal alemão, que deve terminar em fevereiro de 2022, é um conjunto de debates entre bispos, clérigos e leigos sobre a Igreja na Alemanha. Os debates giram em torno de quatro temas principais: a forma como o poder é exercido na Igreja, a moral sexual, o sacerdócio e o papel das mulheres. Há propostas sendo discutidas de mudança na moral sexual, inclusive com a aceitação do homossexualismo, o fim do celibato sacerdotal e a ordenação de mulheres.

Na carta, o papa fala de uma tentação de pensar que, “frente a tantos problemas e carências, a melhor resposta seria reorganizar as coisas, fazer mudanças e especialmente ´remendos` que permitam pôr em ordem e em sintonia a vida da Igreja adaptando-a à lógica presente ou a de um grupo particular”. Para Francisco, esse caminho “só provocaria, com o tempo, adormecer e domesticar o coração do nosso povo, diminuindo e inclusive silenciando a força vital e evangélica que o Espírito quer dar”.

“Cada vez que a comunidade eclesial tentou sair sozinha de seus problemas confiando e focalizando-se exclusivamente em suas forças ou em seus métodos, sua inteligência, sua vontade ou prestígio, terminou por aumentar e perpetuar os males que tentava resolver”, diz a carta.

Para o papa, “presente cenário não tem o direito de nos fazer perder de vista que nossa missão não se sustenta sobre previsões, cálculos ou pesquisas encorajadoras ou desalentadoras, nem no nível eclesial nem no nível político, bem como econômico ou social. Tampouco sobre os resultados bem-sucedidos de nossos planos pastorais”.

Por isso, “a transformação a ser feita não pode ser uma reação de resposta exclusiva a dados ou exigências externas, como poderiam ser o forte descenso dos nascimentos e o envelhecimento das comunidades que impedem a possibilidade de uma substituição geracional”.

“A transformação verdadeira também responde e reivindica exigências que nascem da nossa identidade de crentes e da própria dinâmica evangelizadora da Igreja, reivindica a conversão pastoral”, disse o papa. Ele insistiu na necessidade de “recuperar o primado da evangelização para olhar o futuro com confiança e esperança”.

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