Joseph Cheng, ativista católico a favor da democracia em Hong Kong, disse à CNA, agência em inglês do Grupo ACI, que mudanças dramáticas e rápidas na sua cidade fizeram com que muitos, como ele, abandonem seus lares. Aos 71 anos, Cheng afirmou que sua fé católica lhe dá a força para aceitar o sofrimento e ter esperança. “Como católicos, acreditamos na outra vida, acreditamos na vida eterna. E acreditamos no amor de Deus, acreditamos que manter nossa fé, manter o nosso amor pelos membros da sociedade, é algo importante”, disse. “Devido à nossa fé nessas coisas, tendemos a aceitar os sofrimentos, as dificuldades, os desafios do mundo atual de uma maneira mais preparada”.

Hong Kong é uma “região administrativa especial” da China, com governo próprio, embora permaneça sob o controle chinês. Foi colônia britânica até 1997, quando foi devolvida à China na condição de “um país, dois sistemas”, com a permissão para ter sua própria legislação e sistema econômico.

A abertura de Hong Kong ao mundo exterior e a transparência na regulação comercial e bancária, em contraste com a China continental, transformaram o país em um empório de negócios, ações e finanças globais.

Nos últimos anos, mais de um milhão de pessoas, incluindo muitos católicos, saíram às ruas para protestar contra o governo e pedir mais democracia. As manifestações atingiram seu ponto crítico no verão de 2019. Desde então, mais de 10 mil pessoas foram presas em Hong Kong.

As manifestações tiveram efeito contra os esforços dos parlamentares de Hong Kong, que queriam aprovar um projeto de lei que permitiria a extradição de supostos criminosos da ilha à China continental. No entanto, após a aprovação das novas leis de segurança, o governo chinês ganhou mais forças para reprimir os protestos, que são vistos como um desafio direto ao seu poder.

Cheng disse que, em 23 de julho, que “as mudanças foram rápidas e superaram as expectativas das pessoas comuns de Hong Kong, dos habituais partidários do movimento a favor da democracia”. Ele lamentou que “quase dois terços dos participantes mais ativos no movimento a favor da democracia estão detidos ou estão sendo processados e, portanto, não podem ir embora ou já foram embora”. “Entre meus amigos ativistas, e são ativistas acérrimos, a história é muito triste. A maioria deles foram detidos”, afirmou.

Cheng é professor de ciências políticas aposentado e um dos muitos manifestantes de Hong Kong que foram forçados a sair, diante da ameaça que a lei de segurança nacional representa.

Ele conta que fugiu com sua família para a Austrália, em julho de 2020, e que logo se estabeleceu em Auckland, na Nova Zelândia. Segundo ele, outros fugiram para o Reino Unido ou Taiwan, que ofereceram vistos especiais por causa da situação que estão enfrentando.

“Nunca esperei deixar Hong Kong”, disse Cheng. “Estava bastante preparado para me retirar em Hong Kong, mas fui severamente atacado pela mídia pró-Beijing e fiquei muito preocupado diante da possibilidade de ser preso e processado”.

Cheng acha que não poderá voltar à sua terra tão cedo.

“Muitos dos jovens ativistas foram embora nos últimos meses”, disse ele. Estima-se que, nos próximos anos, cerca de 1 milhão de pessoas abandonem Hong Kong, que tem uma população de 7,5 milhões de habitantes.

Apesar de tudo, Cheng afirmou que sua fé católica o tem ajudado a dar sentido ao seu sofrimento e a talhar sua convicção de que vale a pena lutar pelos valores, mesmo quando se entende que “não é possível conseguir muita coisa e que a situação provavelmente continuará deteriorando-se”.

Para Cheng, isso também pode explicar por que “muitos dos líderes e ativistas a favor da democracia são católicos”.

Eles “receberam uma educação católica”, disse. “E eu sou dos que têm essas crenças, que têm esses valores e, por isso, estou um pouco mais disposto para sacrificar-me e participar em atividades para defender os valores que estimamos”, concluiu.

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