O cardeal Raymond Leo Burke, prefeito emérito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica do Santa Sé, pôs em dúvida a autoridade do pontífice para eliminar a missa tradicional em latim através do motu proprio Traditionis custodes. “A plenitude do poder do romano pontífice é o poder necessário para defender e promover a doutrina e a disciplina da Igreja”, escreveu o cardeal americano em sua página na internet. Mas “não é um ´poder absoluto´, o que incluiria o poder para mudar a doutrina ou para erradicar uma disciplina litúrgica que tem estado viva na Igreja desde o tempo do papa Gregório Magno, e inclusive antes”.

O cardeal disse que “muitos fiéis leigos, ordenados e consagrados, me expressaram a angústia profunda que lhes tem causado o motu proprio Traditionis custodes”.

“Aqueles que estão unidos ao Usus Antiquior (UA), que o papa Bento XVI chamou a forma extraordinária do rito romano, estão profundamente desencorajados pela severidade da disciplina que o motu proprio impõe e ofendidos pela linguagem que emprega para descrevê-los, suas atitudes e seus comportamentos”, disse Burke.

“Como um membro da congregação, que também tem um vínculo intenso com o UA, compartilho completamente seus sentimentos de profunda dor”, afirmou, acrescentando que apresenta suas observações como “bispo da Igreja e como um cardeal, em comunhão com o romano pontífice”.

O motu proprio Tratidionis custodes do papa Francisco, publicado em 16 de julho, regula a possibilidade de que os sacerdotes celebrem a missa segundo o missal anterior a 1970 e à reforma do Concílio Vaticano II. Em uma carta que acompanha e explica o motu proprio, Francisco afirmou que “entristece-me o uso instrumental do Missal Romano de 1962, que se caracteriza cada vez mais por uma rejeição crescente não só da reforma litúrgica, mas do Concílio Vaticano II, com a afirmação infundada e insustentável de que ele traiu a Tradição e a verdadeira Igreja”.

O cardeal Burke analisou também o artigo 1º do motu proprio, no qual o papa Francisco determina que “os livros litúrgicos promulgados pelos santos pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano”.

Para o cardeal, “a correta interpretação” deste artigo “não pode ser a negação de que o UA é uma expressão sempre vital da ´lex orandi do rito romano'”. “Nosso Senhor, que deu o maravilhoso dom (da missa na forma extraordinária), não permitirá que seja erradicada da vida da Igreja”, afirmou o cardeal.

O cardeal Burke disse ter tido ampla experiência, durante muitos anos e em muitos lugares, com fieis que adora a Deus usando o missal antigo. “Com toda a honestidade, devo dizer que esses fiéis nunca rejeitam a Igreja e suas instituições em nome da que é chamada de ´verdadeira Igreja´”, disse.

“Pelo contrário, eles amam o romano pontífice, seus bispos e sacerdotes e, enquanto outros elegeram o cisma, eles sempre quiseram permanecer na plena comunhão com a Igreja, fiéis ao romano pontífice, muitas vezes com o custo de grande sofrimento”, disse.

Embora tenha reconhecido que “há indivíduos e até certos grupos que abraçam posições radicais, como ocorre em outros setores da vida da Igreja, eles não são, de modo algum, característicos do maior e cada vez mais florescente número de fiéis que desejam adorar a Deus segundo o UA”.

O cardeal enfatizou que “a Sagrada Liturgia não é um assunto da assim chamada ´política eclesial´, mas o encontro mais completo e perfeito com Cristo para nós neste mundo”.

Na parte final de sua mensagem, o cardeal encorajou os católicos a “rezar fervorosamente pelo papa Francisco, bispos e sacerdotes”.

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