O papa Francisco reconheceu as virtudes heróicas do político francês e um dos fundadores da União Européia, Robert Schuman, neste sábado, dia 19 de junho. Nascido em 29 de junho de 1886, em Clausen, Luxemburgo, Schuman foi educado nos valores cristãos que impregnaram sua vida política e inspiraram os princípios fundadores da integração europeia que começou depois da Segunda Guerra Mundial e culminou com a criação da União Européia.

A nota biográfica distribuída pela Congregação para as Causas dos Santos afirma que o Servo de Deus Robert Schuman “viveu a virtude da fé como uma dimensão totalizante. Tomou a decisão de se dedicar à política como um ato de obediência à vontade de Deus”. O documento enfatizou que “a fé alimentou e sustentou o seu empenho em trabalhar por uma Europa unida e reconciliada. Sua participação diária na Eucaristia foi recolhida e silenciosa, suscitando deslumbramento e admiração em quem o encontrou”.

Testemunha de ambas as guerras mundiais, Robert Schuman trabalhou pela concórdia nos territórios disputados da Alsácia e Lorena. O político foi preso pela Gestapo, polícia política da Alemanha nazista, de 14 de setembro de 1940 e 12 de abril de 1941.

Embora Robert Schuman tenha sido ministro da economia, das relações exteriores, da justiça e primeiro-ministro do governo francês, nos períodos de maior compromisso político “visitava com regularidade o Santíssimo Sacramento” e “frequentava regularmente o sacramento da reconciliação”. Era um “homem de oração pessoal e litúrgica”, que “celebrava regularmente a liturgia das horas”.

Também era “assíduo e fiel à meditação diária das Escrituras, bem como à oração do rosário. Um aspecto singular e característico da espiritualidade de Schuman era o seu amor pelas grandes abadias, onde procurava refugiar-se para passar períodos de meditação e oração”.

Como político, Robert Schuman era um “homem de governo ao serviço de um Estado laico”, que “respeitava plenamente a laicidade do Estado”, mas que “nunca aceitou agir contra sua consciência, formada na obediência aos mandamentos de Deus e à lei da Igreja”.

Robert Schuman estudou em Luxemburgo, Metz e Estrasburgo. Durante os seus estudos na faculdade de direito, “inscreveu-se na associação estudantil Unitas, composta por estudantes católicos e fundada nos princípios da virtus, scientia et amicitia (virtude, ciência e amizade).

Em Metz, em 1912, deu seus primeiros passos como advogado. O então bispo da diocese, dom Benzler, confiou-lhe o cargo de presidente da Federação Diocesana das Associações Juvenis Católicas. Naqueles anos, dedicou-se também ao apostolado pela infância abandonada e sujeita à delinquência.

Foi o responsável pela organização do 60º Katholikentag, o Congresso Católico Alemão, celebrado em Metz, em 1913.

Robert Schuman sempre teve uma forte vocação europeísta. Impulsou o sonho de uma Europa unida após ver as terríveis consequências da Primeira Guerra Mundial. Durante o conflito, ele trabalhou na administração civil. A integração da região da Lorena à França suscitou nele o sonho de uma Europa unida, onde a solidariedade e a promoção da paz entre os diversos povos, fundados sobre laços comuns, fossem os pilares do projeto.

Movido por esse ideal, em 1919 iniciou a sua carreira política, que assumiu como missão e com compromisso apostólico. Foi eleito deputado por Marselha e dedicou-se à integração legislativa das regiões da Alsácia e da Lorena na estrutura nacional francesa. Trabalhou arduamente na defesa da concordata com a Santa Sé e na defesa da justiça social.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Schuman viu frustrado o seu primeiro período de ação política. Depois de libertado pela Gestapo, ele foi obrigado a residir em Neustadat, na Alemanha.

No dia 1 de agosto de 1941, conseguiu escapar da prisão domiciliária e viveu na clandestinidade, refugiando-se em conventos e mosteiros até ao fim da guerra.

Após a guerra, Robert Schuman voltou à sua atividade política e foi eleito deputado da Assembléia Constituinte francesa, entre os anos de 1945 e 1946. Foi deputado por mais dois mandatos e desempenhou diferentes cargos no governo francês.

De junho de 1946 a novembro de 1947, foi ministro da economia. De novembro de 1947 a julho de 1948, foi presidente do conselho de ministros. De julho de 1948 a janeiro de 1953, foi ministro das relações exteriores. Em 1953, foi eleito ministro da justiça, cargo que na época significava ser a referência moral do país.

Na sua carreira política, esforçou-se por promover um sistema comum de crescimento económico e social que respondesse às necessidades de uma Europa devastada pelas guerras mundiais. Comprometeu-se com o projeto europeu e foi o redator da declaração de 9 de maio de 1950, conhecida como “Declaração Schuman”, ato constitutivo do projeto de união dos países europeus. Voltou ao governo francês em 1955 como ministro da justiça, cargo em que ficou até 1956.

Schuman se uniu ao chanceler alemão Konrad Adenauer, ao ex-presidente italiano Alcide De Gasperi e a Jean Monnet, presidente da primeira das comunidades europeias, a Comunidade Européia do Carvão e do Aço, na elaboração do Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Econômica Européia.

O tratado foi assinado em 25 de março de 1957, na Colina Capitolina, pela França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. Por esse motivo, Schuman, Adenauer, De Gasperi e Monnet são considerados os quatro pais fundadores da União Européia.

Em 19 de março de 1958, Schuman foi eleito o primeiro presidente do Parlamento Europeu, recentemente constituído.

Vítima de esclerose cerebral grave desde 1959, faleceu em Scy-Chazelles, na França, em 4 de setembro de 1963.

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