Amara é nome fictício de uma mulher real que precisa preservar sua identidade por segurança. Ela viu o próprio pai ser decapitado, foi sequestrada e abusada por jihadistas do Boko Haram, na Nigéria. Após conseguir escapar, encontrou apoio para superar este trauma em um projeto da diocese de Maiduguri, com o acompanhamento psicológico de padre Joseph Fidelis Bature.

O sacerdote também é psicólogo clínico e trabalha no Centro de Recursos Humanos para Cura de Trauma, administrado pela diocese de Maiduguri, com apoio da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN). Este projeto busca ajudar as vítimas do Boko Haram, pessoas traumatizadas após terem vivido, de alguma forma, a violência extrema causada por este grupo terrorista muçulmano.

Uma das pessoas assistidas por este projeto é Amara e padre Fidelis contou sua história à ACN. A mulher, que hoje tem 21 anos, viu o pai ser assassinado e depois foi sequestrada pelos terroristas do Boko Haram em 2018.

Amara estava na fazenda da família, perto de Maiduguri, com os pais e as irmãs, quando homens armados apareceram e cercaram o local. Os terroristas exigiram que o pai lhes entregasse as filhas. Ele recusou e foi imediatamente decapitado. A jovem desmaiou quando lhe colocaram a cabeça do seu pai em suas mãos. Em seguida, foi levada para a floresta pelos terroristas e, segundo o padre Fidelis, “foi repetidamente torturada e abusada de todas as formas imagináveis”.

Depois de um tempo, conseguiu escapar. Mas, ao retornar para casa com a mãe e as irmãs, precisou de ajuda para superar o trauma. Foi então que a mãe decidiu procurar a igreja. “Naquela época, Amara não conseguia falar nem explicar o que havia acontecido”, disse padre Fidelis. De acordo com ele, a jovem “via espíritos e pessoas sem cabeça. Estava atormentada por constantes flashbacks, alucinações e pensamentos perturbadores”.

No Centro de Recursos Humanos para Cura de Trauma, Amara passou por um período de terapia e medicação. Agora se prepara para ser costureira, mas sonha em continuar estudando.

Este projeto da diocese de Maiduguri, com apoio da Fundação ACN, busca ajudar pessoas que viveram diretamente a violência dos terroristas, como Amara, mas também tantos outros que se viram afetados pela ação dos jihadistas. Muitas pessoas tiveram que fugir e perderam tudo o que tinham. “A crise do Boko Haram causou dificuldades incalculáveis. Pessoas perderam as vidas e meios de subsistência. Muitos ainda vivem em campos”, disse pe. Fidelis.

Por isso, o Centro também busca reintegrar essas pessoas na sociedade. “Trabalhamos com todas as partes envolvidas para criar consciência sobre os perigos da estigmatização e a necessidade de integração social”, afirmou o sacerdote.

Segundo o Relatório da Fundação ACN sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, a Nigéria é um dos países mais atingidos pelo terrorismo islâmico. As Nações Unidas estimam que cerca de 36 mil pessoas morreram por causa da violência do Boko Haram, que teve início em 2009, e cerca de 2 milhões estão deslocadas. Já o Comitê Internacional da Cruz Vermelha registra cerca de 40 mil pessoas desaparecidas na África devido à violência terrorista, das quais a metade é da região norte-nordeste da Nigéria.

Em uma recente mensagem à Fundação ACN, o bispo de Maiduguri, dom Oliver Dashe Doeme, disse que “a componente religiosa neste conflito é clara”, pois a ideologia jihadista está na gênese dos diferentes grupos que atacam também a comunidade muçulmana moderada. Esta realidade, porém, não está presente apenas na Nigéria. Segundo dom Doeme, a “África se tornou o novo epicentro do extremismo”, após a derrota do Estado Islâmico no Iraque e na Síria.

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