No primeiro dia do webinário da Semana Laudato Sì 2021, organizado pela Santa Sé, Gregório Díaz Mirabal, presidente do Congresso das Organizações Indígenas da Amazônia (COICA) iniciou sua palestra agradecendo “aos espíritos da selva: a água, o ar, o fogo e a terra”.

A semana, que debate temas ligados à encíclica Laudato Sì publicada pelo papa Francisco em 2015, teve início no domingo, 16. O evento é uma parceria do Movimento Católico pelo Clima (GCCM) e do setor de Ecologia e Criação do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral. Do webinário que faz parte da semana fazem parte o cardeal Peter Turkson, presidente do dicastério, o arcebispo de Luxemburgo, Jean Claude Hollerich, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE), o padre Augusto Zampini, secretário adjunto do dicastério Christine Allen, diretora da Agência Católica para o Desenvolvimento no Estrangeiro (CAFOD).

“Com base no sucesso da edição 2020 da Semana de Laudato Sì, esta nova edição será uma celebração do encerramento do Ano Especial do Laudato Sì para mostrar o quanto as coisas mudaram para melhor”, informou a organização do evento. “Apresentaremos a toda a Igreja o testemunho vivo das transformações ocasionadas pela Laudato Sì até agora, e ofereceremos uma prévia da ferramenta que ajudará a todos nas próximas etapas de sua jornada: a Plataforma de Ação de Laudato Sì”.

O primeiro dia de webinário foi moderado por Christine Allen. A diretora da CAFOD é uma crítica da doutrina católica sobre contracepção. Em um artigo de 2006 na revista Chartist, que se define como defensora do “socialismo democrático”, Allen escreveu que isto "simplesmente não se sustenta quando se trata de HIV".

“Parte da razão da pluralidade de opiniões dentro da igreja é que não existe um marco doutrinal claro no que diz respeito à prevenção do HIV”, escreveu Allen. “O ensino oficial da igreja simplesmente não tem se mantido a par da realidade do HIV e da Aids. A proibição do uso do preservativo se baseia na prevenção de métodos artificiais de contracepção, que remonta a um documento de 1968 - bem antes de o HIV ser reconhecido. Embora seja um ensinamento relevante sobre contracepção (ainda que na prática seja amplamente ignorado pela comunidade católica), ele simplesmente não se sustenta quando se trata do HIV”, diz a diretora da CAFOD.

A nomeação de Christine Allen para a principal agência de caridade da Igreja britânica no exterior em novembro de 2018, foi criticada no jornal britânico Catholic Herald. “Em 2002, a Progressio, instituição de caridade liderada por Allen, endossou o uso de preservativos na prevenção do HIV”, disse o jornal. “Allen também parece se opor ao ensino da Igreja sobre homossexualidade: ela comentou tweets a favor da redefinição do casamento, incluindo um que descreveu a aceitação da Igreja Episcopal do casamento entre pessoas do mesmo sexo como "progresso"”.

“Esta nomeação é, no mínimo, surpreendente”, disse ao jornal católico britânico o líder pró-vida John Smeaton. “Progressio, a caridade internacional liderada por Christine Allen por 11 anos, tem um registro simplesmente terrível em assuntos relacionados à Igreja Católica e ao ensino católico", afirmou Smeaton. Segundo ele, durante o mandato de Allen, a Progressio se associou a uma campanha para remover o status da Santa Sé como Observador Permanente na ONU.

Do painel mediado por Allen na segunda-feira, 17, participaram o padre Augusto Zampini, do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Ditebogo Lebea, do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA na sigla em inglês), e o equatoriano Gregorio Díaz Mirabal, do COICA.

Em outubro de 2019, enquanto Díaz Mirabal participava do Sínodo da Amazônia, organizado pela Santa Sé em Roma, manifestantes indígenas vandalizaram o patrimônio histórico de Quito, incluindo igrejas e instituições religiosas, causando prejuízos de mais de US$ 500 mil. Na época, Díaz Mirabal disse, em discurso na Sala de Imprensa da Santa Sé, que o “apelo ao levante” foi feito da sede da COICA em Quito e celebrou: “mais de 30 mil indígenas como eu caminharam pelas ruas de Quito para defender mãe natureza, para defender a mãe terra”.

Em sua palestra na última segunda-feira, 17 de maio, o líder indígena disse que, com a Laudato Sì, o Papa Francisco, fez “um chamado mundial a toda humanidade e o chamou o grito da terra, o grito dos pobres, o grito dos excluídos”.

Depois de Díaz Mirabal, falou a ativista do clima, Ditebogo Lebea, da SAIIA. Na página de internet do SAIIA um artigo celebra o Protocolo para os Direitos das Mulheres, que inclui explicitamente o direito ao aborto.

“Inovando o direito internacional, o protocolo pede a proibição da mutilação genital feminina e defende os direitos reprodutivos das mulheres ao aborto médico em casos de estupro, incesto ou perigo para a vida da mãe. Esta é certamente uma vitória do movimento feminino”, diz o artigo no website oficial da SAIIA.

Procurado por ACI Digital para responder diversas perguntas sobre o evento desde o dia 15 de maio por telefone e email, o Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral respondeu, no dia 20 de maio que é "apenas o patrocinador da Semana Laudadato Sì, cuja organização foi confiada a GCCM, Caritas Internationalis, CIDSE e mais de 150 parceiros de organismos católicos."

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