Nenhum santuário da China entrou na maratona de orações do terço pelo fim da pandemia convocada pelo papa Francisco para ao mês de maio. Na primeira lista de santuários da maratona do rosário, o dia 24 de maio seria em local "a ser confirmado". O santuário Mariano de Maria Auxiliadora de Sheshan, China, era um candidato, por ser destino de peregrinações de católicos de toda a China no mês de maio, especialmente no dia 24 de maio, festa da padroeira. O grupo ACI apurou que houve contatos informais para explorar se o terço poderia acontecer em Sheshan, mas Sheshan acabou ficando de fora. O santuário fica na diocese de Xangai, cujo bispo, Taddeo Ma Daqin, está em prisão domiciliar desde 2012.

O santuário está fechado e as peregrinações suspensas. O governo chinês alega o combate à pandemia de covid-19 como causa. "A pandemia é um álibi fácil, assim o governo pode manter o santuário fechado e ao mesmo tempo não afirmar que seu desejo é que cessem as peregrinações e orações ali", disse à ACI o padre Gianni Criveller, missionário italiano que viveu em Hong Kong, Taiwan, Macau e na China de 1991 a 2017.

"Desde que Bento XVI estabeleceu o dia de oração pela Igreja na China e indicou o santuário de Sheshan como ponto de referência, o governo chinês tornou as peregrinações cada vez mais difíceis", disse Criveller. Em 2008 o então papa compôs uma oração a Nossa Senhora de Sheshan e estabeleceu 24 de maio como dia de oração para a Igreja na China.

Embora o santuário esteja fechado, locais de culto em outros pontos da China foram reabertos. Na própria Sheshan um parque de diversões voltou a funcionar.

Segundo Criveller, as dificuldades para chegar a Sheshan variam de acordo com o estado das relações entre Pequim e a Santa Sé: “quando havia menos tensões, as peregrinações eram mais manejáveis, quando as tensões aumentavam, as peregrinações eram incrivelmente difíceis”. Entretanto, disse ele, "as coisas estavam sob controle crescente do governo chinês".

O terço do próximo 24 de maio será rezado no santuário de Nossa Senhora de Lourdes, em Nyaunglebin, em Myanmar. O arcebispo de Yangon, capital de Myanmar, dom Charles Maung Cardeal Bo, proclamou uma semana de oração pelos católicos chineses.

Em 2018, o Vaticano e a China chegaram a um acordo provisório sobre a ordenação dos bispos. Embora os termos do acordo nunca tenham sido tornados públicos, o acordo supostamente permite que os candidatos às sedes episcopais sejam selecionados pela igreja aprovada pelo governo, a Associação Patriótica Católica Chinesa (APC), com o Vaticano tendo a opção de aprovar ou vetar os candidatos.

Após o acordo, o Papa Francisco levantou a excomunhão de sete bispos ordenados ilicitamente por bispos que pertencem à APC.

Os críticos do acordo têm alegado que o processo de nomeações episcopais ainda é muito lento, e que a perseguição aos católicos no país não diminuiu desde a sua assinatura.

Segundo a agência católica asiática de notícias UCA News, "indiretamente, o regulamento estabelece que a eleição de um bispo católico será feita pelo sistema aprovado pelo Estado sob a direção do Partido Comunista Chinês e nem o papa Francisco nem a Santa Sé terão participação alguma no processo".

A Santa Sé renovou no ano passado seu acordo ad experimentum com a China para a nomeação dos bispos. As medidas sobre o pessoal religioso anunciadas pela Administração Estatal para Assuntos Religiosos da China em fevereiro deste ano entraram em vigor em 1º de maio na China com várias restrições às práticas religiosas.

Sam Brownback, ex-embaixador da liberdade religiosa nos EUA, disse esperar que um novo relatório documentando abusos do Partido Comunista Chinês leve a Santa Sé a repensar seu acordo com a China no que diz respeito à ordenação dos bispos.

"Nós realmente pressionamos o Vaticano a não entrar no acordo com o governo chinês sobre a nomeação de bispos, e espero que eles olhem este relatório e digam 'este não é um regime com o qual deveríamos negociar'", disse Brownback à CNA, serviço em inglês do grupo ACI, na quarta-feira, 12.

Brownback se referia ao relatório anual do Departamento de Estado dos EUA sobre liberdade religiosa internacional. O ex-embaixador da liberdade religiosa disse esperar que a seção sobre a perseguição à religião na China chame a atenção do Vaticano.

"A autoridade moral do Vaticano é significativa", acrescentou ele. "Não se negocia com o mal".

Em 2020, funcionários americanos, incluindo Brownback e o então Secretário de Estado Mike Pompeo, foram a Roma tentar dissuadir o Vaticano de renovar o acordo.

O relatório do Departamento de Estado na quarta-feira classificou a China como "país de particular preocupação", designação reservada aos países que "se envolveram ou toleraram violações particularmente graves da liberdade religiosa".

De acordo com o relatório, a China assediou, deteve e torturou tanto cristãos como membros de outras minorias religiosas no último ano.

De acordo com o relatório do Departamento de Estado, os líderes religiosos na China foram presos por transmitir serviços religiosos ilegais on-line. O clero católico é obrigado a participar das sessões de doutrinação do Partido Comunista, e os sermões e textos religiosos são monitorados e alterados. Durante a pandemia de covid-19, o governo continuou a fechar ou monitorar igrejas, removendo símbolos religiosos de lugares públicos.

Na província de Xinjiang, cerca de 1,8 milhões de Uigures e membros de outras minorias étnicas de maioria muçulmana foram detidos em um sistema de campos de concentração, onde ocorrem espancamentos, doutrinação, trabalhos forçados e tortura. Mulheres estão sendo esterilizadas à força no que, segundo o relatório, é uma campanha em massa para reduzir a taxa de natalidade uigur.

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Citando a tentativa de acordo comercial entre Estados Unidos e China, Brownback disse à CNA: "Não funcionou para nós, o Ocidente, em nossa negociação com a China, e acho que não vai funcionar com o Vaticano".

A devoção a Maria na China data do tempo da missão do padre jesuíta Matteo Ricci. Recebido pelo imperador em 22 de janeiro de 1601, Matteo Ricci trouxe 12 presentes, incluindo a cópia da imagem de Maria Salus Populi Romani, guardada em Santa Maria Maggiore na capela onde Santo Inácio de Loyola celebrou sua primeira missa.

Os jesuítas também foram os defensores da devoção Sheshan. Em 1863, eles adquiriram a colina do santuário e, em 1870, juraram construir uma basílica se Nossa Senhora salvasse a diocese da destruição após uma revolta sangrenta.

Nossa Senhora ouviu a oração e, um ano depois, foi colocada a primeira pedra da primeira basílica dedicada à Virgem Maria no continente asiático. Em 1874, o beato Pio IX concedeu uma indulgência plenária aos peregrinos que visitavam o santuário e, em 1894, houve tantas peregrinações que se decidiu construir uma nova igreja.

Em 1924, o primeiro sínodo chinês, convocado em Xangai pelo então delegado apostólico Celso Costantini, estabeleceu que Nossa Senhora de Sheshan fosse proclamada "Rainha da China".

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