Na manhã desta terça-feira (30) foi realizada uma coletiva de imprensa para a apresentação do livro “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática” organizada pela Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. A obra tem o prefácio do Papa Francisco.

Após o texto de 2020 dedicado às pessoas deslocadas internamente, a Seção de Migrantes e Refugiados destaca outra categoria particular deste último. Porque pessoas deslocadas podem se tornar refugiadas. Mas, ao contrário dos refugiados, muitas vezes elas não entram nas estatísticas. São, portanto, os últimos entre os últimos. As pessoas deslocadas pelo clima, por sinal, ainda são uma categoria pequena.

Nos últimos meses, o tema da "crise climática" tem levado à criação de documentos e relatórios por parte da ONU dedicados não apenas ao tema do clima, mas também à resposta da população às mudanças climáticas. O novo documento da Seção de Migrantes e Refugiados, presidida pelo Cardeal Michael Czerny, não deixa de mencionar números que devem ser transformados em diretrizes pastorais já que a Igreja não trabalha com estatísticas, mas com pessoas.

O texto que tem prefácio do Papa Francisco está dividido em dez capítulos, que abordam diversos temas: a necessidade de reconhecer a ligação entre a crise climática e o deslocamento, a necessidade de promover pesquisas acadêmicas sobre o tema, os desafios da pastoral, a preparação de pessoas para o deslocamento, mas também trata sobre ações dos governos, promoção da inclusão e integração e outras diretrizes que visam influenciar processos decisórios e cooperar no planejamento estratégico e na ajuda concreta a estas pessoas.

O prefácio do livro escrito pelo Papa Francisco, apresenta a obra como “um guia repleto de fatos, interpretações políticas e propostas relevantes …mas, - continua o Papa - desde logo, sugiro que adaptemos o famoso “ser ou não ser” de Hamlet e afirmemos: ‘Ver ou não ver, eis a questão!’ Tudo começa com a capacidade de ver de cada um, sim, a minha e a vossa”.

Segundo o Papa Francisco, atualmente nós “somos submersos por notícias e imagens de povos inteiros desenraizados devido a cataclismos climáticos e forçados a migrar. Mas o efeito que estas histórias produzem em nós e a nossa resposta (...) dependem da nossa capacidade de ver o sofrimento contido em cada história”.

“O fato de as pessoas se deslocarem porque o seu habitat local se tornou inabitável, pode parecer um processo natural, algo inevitável. No entanto, a deterioração climática resulta muito frequentemente de escolhas erradas e atividade destrutiva, egoísmo e negligência que colocam a humanidade em conflito com a criação, a nossa casa comum”.

O Pontífice recorda ainda o impacto da situação da pandemia de Covid-19, que atingiu a humanidade sem aviso, mas alerta também para o fato de que, ao contrário do coronavírus, o impacto das mudanças climáticas “manifesta-se desde a Revolução Industrial”. O Pontífice frisou também que a crise das alterações climáticas não atinge de modo uniforme a humanidade e que o maior efeito é sempre sentido pelos que “menos contribuíram para elas”.

O Papa alerta ainda que “números impressionantes e crescentes de deslocados pela crise climática estão rapidamente a tornar-se uma emergência grave do nosso tempo”.

“Forçadas a abandonar campos e zonas costeiras, casas e aldeias, as pessoas fogem às pressas, levando consigo apenas algumas lembranças e tesouros, fragmentos da sua cultura e patrimônio. Partem com a esperança de recomeçar as suas vidas num local seguro. Mas na maioria dos casos acabam em favelas perigosamente sobrepovoadas ou em alojamentos precários, à mercê do destino”.

“As pessoas expulsas dos seus lares pela crise climática necessitam ser acolhidas, protegidas, promovidas e integradas. Elas querem recomeçar. Para criar um novo futuro para os seus filhos, precisam ter condições e ser ajudadas. Acolher, proteger, promover e integrar são verbos que implicam uma ação útil. Retiremos, uma a uma, as barreiras que bloqueiam o caminho dos deslocados, o que os reprime e marginaliza, os impede de trabalhar e ir à escola, tudo o que os torna invisíveis e nega a sua dignidade”.

O Santo Padre recorda que as “Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática exigem um novo olhar sobre este drama do nosso tempo” e convidam a Igreja e outros atores da sociedade a “agir em conjunto e especificam o modo de o fazer”.

“Não vamos superar crises como as alterações climáticas ou a COVID-19 refugiando-nos no individualismo, mas apenas com o esforço de “muitos em conjunto”, através do encontro, do diálogo e da cooperação”.

“Enche-me assim de grande alegria o fato de estas Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas pela Crise Climática terem sido elaboradas sob a égide do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, juntamente pela Seção Migrantes e Refugiados e pelo Setor de Ecologia Integral. Esta colaboração é, em si mesma, um sinal do caminho a seguir. Ver ou não ver é a questão que nos conduz à resposta numa ação conjunta. Estas páginas mostram-nos o que é preciso e, com a ajuda de Deus, o que fazer”, conclui.

O documento está traduzido em português e pode ser descarregado no link:

https://migrants-refugees.va/resource-center/documents/#pastoral-orientations-on-climate-displaced-people

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