Stefan Heße, arcebispo de Hamburgo, na Alemanha ofereceu sua renúncia ao Papa após a publicação de um relatório sobre abusos sexuais ocorridos nesta Arquidiocese durante o período em que o prelado era Vigário-geral da mesma. Antes dele, o Cardeal Arcebispo de Colônia também se mostrou disposto a entregar seu cargo por conta dos abusos revelados.

O arcebispo disse em pronunciamento transmitido no YouTube: "Acredito firmemente que assumir a responsabilidade é parte do nosso dever de abordar ativamente este capítulo sombrio da melhor maneira possível e avançar para um futuro melhor para todos, sobretudo para as próprias vítimas."

"Eu nunca participei de qualquer encobrimento. No entanto, estou disposto a assumir minha parte de responsabilidade pela falha do sistema", disse ele.

O prelado alemão foi responsável pela pastoral da Arquidiocese de Colônia de 2006 a 2012. Ele atuou como vigário geral de 2012 a 2015 antes de ser ordenado arcebispo de Hamburgo em 14 de março de 2015.

Heße é acusado de negligenciar seu dever em nove casos dividos em 11 acusações, de acordo com o relatório.

"Devo e tomarei as consequências de minhas ações naquele momento e, em última instância, portanto, também das violações de deveres pelos quais sou acusado. Sinto muito se causei mais sofrimento aos afetados e seus parentes devido às minhas ações ou incapacidade de agir", disse o arcebispo em seu depoimento.

O caso do Cardeal Woelki

Firme opositor do Caminho Sinodal da Igreja alemã e de propostas como a comunhão para protestantes e bênçãos para casais homossexuais, o Cardeal Woelki tem sofrido pressões para renunciar por conta dos abusos reportados em Colônia, muitos dos quais cometidos anos antes da instalação do Cardeal em 2014.

O documento isenta o cardeal Rainer Maria Woelki de ocultar a extensão dos abusos sexuais contra crianças, entretanto, o Prelado se disse disposto a entregar o cargo.

Um relatório independente feito à pedido da Arquidiocese de Colônia concluiu que 314 menores foram abusados e acusa mais de 200 membros do clero e funcionários da Arquidiocese de terem cometido ou acobertado os casos entre 1975 e 2018.

Mais da metade dos abusos envolveram crianças, afirma o relatório de cerca de 800 páginas sobre a diocese com maior número de fiéis da Alemanha.

“Em primeiro lugar, lerei todas as 800 páginas do relatório. Nos próximos dias, terei muitas discussões com minha equipe e, claro, com aqueles em cargos de responsabilidade, com o objetivo de então anunciar quaisquer mudanças de pessoal e organizações em 23 de março", afirma o Cardeal.

"O Relatório Gercke não é a conclusão do nosso trabalho, mas sim o ponto de partida para novas revisões."

"Encontramos um sistema com falta de responsabilidade, falta de clareza jurídica, falta de controle e falta de transparência, que em qualquer caso favoreceu o sigilo e no qual muitas partes estavam envolvidas, incluindo aquelas fora da Arquidiocese de Colônia", pontuou.

Dom Woelki anunciou que, como primeiro passo, "suspenderá temporariamente" dois funcionários de suas funções: o Bispo Auxiliar e ex- vigário geral de Colônia, Dom Dominikus Schwaderlappe Günter Assenmacher, um funcionário da diocese.

O relatório identificou preocupações sobre o tratamento de ambos em casos de abuso e eles permanecerão suspensos até que as alegações sejam esclarecidas.

Woelki explicou à CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI, que decidiu não publicar a primeira versão do relatório e lamentava que isto tenha “causado mais dor às vítimas”.

"Infelizmente, não tivemos alternativa senão encomendar um segundo parecer de um especialista, porque precisávamos de uma base metodologicamente limpa e sustentável para identificar claramente as responsabilidades organizacionalmente em nossa igreja e ser capaz de evitar que os mesmos erros sejam cometidos no futuro."

Um dos bispos que criticou severamente o Cardeal Arcebispo de Colônia foi o atual presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Georg Bätzing, que acaba causar polêmica por seu rechaço à indicação vaticana de não abençoar casais do mesmo sexo. Em declarações publicadas esta segunda-feira, 15, Dom Bätzing respondeu à negativa do Vaticano às bênçãos para homossexuais dizendo que não há "respostas fáceis" para esta questão e que a mesma seguirá sendo discutida pelos bispos alemães nas próximas assembleias do Caminho Sinodal que a Igreja deste país vem realizando.

A arquidiocese realizará uma segunda conferência de imprensa em 23 de março na qual o Cardeal Woelki comentará com mais detalhes sobre sua reação ao relatório, com possíveis consequências adicionais para os funcionários criticados no relatório.

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