Uma capela do final do século XIX dedicada a São José foi demolida na cidade de Lille, na França, em pleno ano que a Igreja recorda especialmente este santo, com a finalidade de dar lugar a um novo campus universitário. Apesar de manifestações contra a destruição do templo, a demolição acabou sendo concluída em fevereiro deste ano. A Chapelle St. Joseph não existe mais e outras igrejas simbólicas na França correm o risco de terminar em escombros.

No dia 21 de fevereiro deste ano, quando praticamente todo o trabalho na região de Hauts-de-France havia cessado devido devido à nevasca, construtores começaram o que parecia ser uma obra urgente: a demolição da Chapelle St. Joseph, uma capela do final do século XIX construída pelo célebre arquiteto Auguste Moureau. A igreja já havia sido desativada, e foi objeto de uma licença de demolição emitida em 2019 pelo município de Lille para a construção de uma parte do novo campus da escola de engenharia.

Na terra da laicidade, a memória dos edifícios religiosos também se converteu em algo a ser apagado para dar lugar a novos edifícios. E não é de surpreender-se, considerando que os franceses já chegaram a considerar a possibilidade de acabar com a Catedral de Notre-Dame quando estava em mal estado, antes da grande renovação realizada por Viollet le Duc, no século XIX, que conferiu ao templo a imagem que hoje conhecemos.

O projeto que substitui a Capela de São José inclui 40 mil metros quadrados de instalações educativas, dos quais 22 mil são instalações novas. Com um investimento de 128 milhões de euros, o campus deverá receber um total de 5 mil a 8 mil alunos. Para salvar a capela, foi solicitado ao Ministério da Cultura que reclassifique o prédio. O Ministério da Cultura rejeitou o pedido, ressaltando que "impedir a demolição da capela resultaria no abandono de um importante projeto para o desenvolvimento do ensino superior, que representa um investimento de 120 milhões de euros", e que o projeto do campus inclui "a restauração completa do Palácio Rameau", o prédio localizado exatamente ao lado da capela, também projetado pelo arquiteto Moureau.

Resta saber por que a capela teve de ser demolida e o palácio preservado. Já que, segundo Etienne Poncelet, inspetora-geral honorária dos monumentos históricos, "não é verdade que a capela estivesse em más condições", como afirmou o Ministério da Cultura. Pelo contrário, afirma Poncelet, era "um edifício em bom estado, um exemplo arquitetônico único, com um claustro suspenso" e que também representava um testemunho histórico da presença dos jesuítas em Lille.

A destruição teve início apesar da oposição de muitas figuras políticas e culturais, e de uma petição de 12.400 assinaturas lançada por Urgence Patrimoine. A associação também reclamou que o trabalho começou às pressas, e não durante as férias escolares como de costume, por supostas razões de segurança.

Há mais igrejas em risco na França e o destino de outra capela, a igreja de Sainte-Germaine-Cousin, em Calais, poderia ser o mesmo da capela de Lille.

Em agosto de 2020, a Diocese de Arras havia afirmado que queria se desfazer da igreja por causa do alto custo de manutenção do templo. Mais tarde foi descoberto que a diocese estava presumivelmente em negociações com agentes imobiliários, que pretendiam construir uma residência com vários apartamentos, onde uma nova capela seria construída e dada em concessão à diocese.

O problema é que vinte e oito vitrais da igreja de Sainte-Germaine-Cousin, assinados pelo mestre Louis Barillet, estão registrados desde 1997 no inventário de monumentos históricos, e, portanto, é um patrimônio tombado.

Mas não são só as janelas que tornam a igreja relevante. A capela preserva outros tesouros artísticos, como um mosaico do Caminho da Cruz, provavelmente obra de Barillet; os pilares brancos com decorações neo-bizantinas; e outros pequenos arranjos arquitetônicos realizados pelo artista Louis Barbier, a tornam uma das igrejas mais simbólicas de Calais.

A destruição ocorreria a custos muito altos e injustificados, considerando que a igreja, apesar da umidade, está em bom estado e que, portanto, demoli-la também implicaria remover os fundamentos que a sustentam para depois substituí-los.

O futuro da igreja de Saint-Èloi em Trith-Saint-Léger du Poirier também é incerto. Mas, nesse caso, as perspectivas são melhores já que Xavier Bertrand, presidente da região, abordou o assunto, e talvez seja possível superar o impasse devido ao desinteresse do Município.

Segundo a Prefeitura, a reforma da igreja custaria 800 mil euros. A estimativa foi feita por um arquiteto há dez anos atrás e o município insiste que demolir a igreja é bastante mais barato que renová-la. Entretanto, o presidente regional Xavier Bertrand não se convence, e encarregou seu Conselheiro Regional e Presidente da Comissão de Conscientização de interceder junto ao vice-presidente da região de Hauts de France e salvar a igreja.

Além das demolições por parte das prefeituras, as igrejas na França têm sofrido ataques por ódio à fé cristã, e um grande incêndio destruiu parcialmente o mais simbólico templo do país, a Catedral de Notre-Dame, na capital Paris.

Texto originalmente publicado em ACI Stampa, traduzido e adaptado por Rafael Tavares. 

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