O Vale dos Caídos volta a ser ameaçado pelo Estado espanhol; desta vez trata-se da Procuradoria Geral que apoiou denúncia da esquerdista Associação para a Recuperação da Memória Histórica para expulsar os monges beneditinos que vivem no conjunto da basílica, abadia e hospedaria desde 1958.

A Procuradoria Geral do Estado encaminhou ao governo controlado por uma coalizão de partidos de esquerda denúncia de que os monges estão de forma ilegal na abadia, já que o acordo entre o Estado e a comunidade beneditina está pendente de renovação desde 2 de outubro de 2020.

O conjunto do Vale dos Caídos é composto por uma basílica escavada na rocha, uma abadia beneditina, uma hospedaria e uma grande cruz monumental de 150 metros de altura a partir da base, ou 300 metros contando a altura da colina sobre a qual se ergue. É a cruz mais alta da cristandade. 

O monumento foi construído entre 1940 e 1958. A basílica foi erigida como basílica pontifícia menor em 1960, durante o pontificado de São João XXIII. Há beneditinos na abadia desde 1958 e lá funciona uma escola onde crianças menores de 14 anos estudam e recebem ampla formação musical.

O monumento pertence ao Estado e é administrado pelos beneditinos por meio de uma fundação que o governo socialista deixou sem a concessão anual a partir de 2019

Segundo explicou à ACI Prensa, Alberto Bárcena, historiador e professor da Universidade CEU São Paulo de Madri, trata-se de "um monumento a todos aqueles que morreram durante a Guerra Civil (1936-1939) sob os braços pacificadores da cruz".

Estão enterradas lá 34 mil vítimas de ambos os lados da Guerra Civil Espanhola. Entre os mortos, há 57 beatos e 15 servos de Deus, mártires assassinados por ódio à fé pelos republicanos.

Até 24 de outubro de 2019, estava enterrado ao lado do altar o general Francisco Franco, que governou a Espanha de 1939, ano em que terminou a Guerra Civil Espanhola, até sua morte em 1975.

O governo, liderado pelo PSOE em aliança com Podemos, anunciou em 16 de setembro sua intenção de expulsar os beneditinos. Agora, com essa recusa em renovar o acordo, pretenderia pressionar os religiosos a fim de conseguir um translado pacífico e consensual.

A presidente da Associação Espanhola de Advogados Cristãos, Polonia Castellanos, afirmou em declarações à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que o governo não pode desalojar os beneditinos porque "a permanência dos beneditinos não depende exclusivamente do governo" e fazê-lo seria algo "ilegal".

Caso o governo avance e tente desalojar os beneditinos, ou destruir a Cruz de 150 metros que preside a abadia, por meio de um decreto ou de outra medida, Polonia Castellanos disse que com a Associação Espanhola de Advogados Cristãos “interporíamos medidas cautelares”.

Esta ofensiva do governo contra o Vale dos Caídos responde a "seu ódio feroz à cruz, que se manifesta sobretudo na Cruz do Vale dos Caídos, que é a maior cruz da cristandade", disse Castellanos.

Trata-se de “um ódio patológico por parte deste governo que se demonstrou” com “especial aversão durante a pandemia”. “Com a desculpa da pandemia, atacaram os cristãos de forma reiterada e de forma sistemática, desprezando outros trabalhos como cuidar dos cidadãos diante de semelhante crise”, denunciou. “Entendemos que o governo está interferindo na vida privada dos cristãos, algo que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos proíbe de forma especial”.

Para Polonia Castellanos "devemos agir do ponto de vista jurídico", mas não só. Também seria necessário agir “do ponto de vista civil. Já é a gota d’água, e acho que os cidadãos deveríamos começar a nos mobilizar, sempre de forma pacífica, mas teríamos que começar a organizar manifestações, concentrações e a nos mobilizar porque é a gota d’água”.

Em  2019, o governo do Partido Socialista (PSOE) exumou os restos mortais de Franco para o cemitério de Mingorrubio, nas proximidades por causa da Lei da Memória Histórica, de 2007, que estabelece medidas de reparação aos prejudicados durante a Guerra Civil Espanhola e a posterior ditadura de Franco.

Com esta Lei, foram retirados monumentos, símbolos e nomes de ruas relacionados com o regime de Franco e a ditadura; mas também foi usada para justificar a destruição de símbolos religiosos, como cruzes ou placas em memória de mártires da Guerra Civil, considerados franquistas, muitas vezes de forma arbitrária e não muito transparente.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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