Depois de cerca de 20 anos como missionário na África, dos quais sete e meio como Bispo de Pemba (Moçambique), Dom Luiz Fernando Lisboa volta ao Brasil, mas, garante que o que viveu em terras africanas ficará marcado em sua memória, sobretudo os últimos três anos de guerra na província de Cabo Delgado, que para ele foi “uma experiência de cruz”.

“A minha passagem pela diocese de Pemba foi uma grande aprendizagem para mim. Sempre quis trabalhar em África como missionário e Deus concedeu-me essa graça”, disse o Prelado brasileiro em um telefonema à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) de Portugal.

No último dia 11 de fevereiro, o Bispo foi nomeado pelo Papa Francisco como Bispo de Cachoeiro de Itapemirim (ES), Diocese na qual tomará posse em 20 de março. Entretanto, ressaltou que das duas décadas que passou na África, aprendeu e mudou muito.

“Quando nós mudamos de local, de lugar, temos de reaprender, que recomeçar, temos de respeitar as pessoas, a cultura, as línguas, o modo de ser e de estar e isso tudo nos enriquece. Tenho a certeza de que muito mais eu recebi do que dei”, afirmou e garantiu: “África nunca vai sair de mim”.

De todo este período, foi marcante para o Prelado os últimos três anos, quando a província de Cabo Delgado se sobressaltou com ataques terroristas que ganharam intensidade especialmente em 2020 e que, até o momento deixou um saldo de mais de 2 mil mortos e mais de 600 mil deslocados.

“Foi uma experiência muito forte, uma experiência de cruz, uma experiência de dor”, expressou Dom Lisboa, segundo o qual tudo o que viveu também lhe permitiu testemunhar a generosidade do povo.

“Dessa guerra, eu pude tirar muitas lições. A principal delas é a grandeza desse povo que é pobre, mas que é muito solidário. Eu vi muitas histórias, ouvi muitas histórias, vi muitas situações e percebi quanto é que, mesmo na pobreza, nós podemos ajudar, nós podemos repartir, partilhar”, contou.

Segundo ele, “nesse tempo de guerra cada família que não era deslocada acolheu uma ou duas ou até três famílias deslocadas, dentro da sua casa, no seu quintal repartindo o pouco que tinha com aqueles que não tinham nada e estavam ainda no desespero, na estrada, sem ter norte”.

Por isso, assinalou, “penso que essa experiência do povo de Cabo Delgado vai ficar sempre marcada na minha vida”.

Frente a esta escalada de violência em Cabo Delgado, Dom Luiz Fernando Lisboa surgiu como a voz do povo, buscando alertar o mundo sobre a situação de guerra em Moçambique. Agora, após sua nomeação para a Diocese brasileira de Cachoeiro de Itapemirim, o Prelado afirma que deve continuar a ajudar a população do país africano.

Apesar dos mais de 8 mil quilômetros de distância entre as duas localidades, Dom Lisboa expressou assume a vontade de ser como que um “embaixador” de Pemba no mundo.

“Pela minha vontade, farei isso, mas só o farei se o Bispo que vier, como Bispo de Pemba, quiser que o faça, que o ajude… eu estarei sempre disposto. Sempre aberto a ajudar, a colaborar com a Diocese e com esse povo”, manifestou.

Quanto a decisão do Papa Francisco de o transferir para Cachoeiro de Itapemirim, o Prelado se disse “tranquilo”. Conforme explicou, “a missão é de Deus, não é nossa.Nós somos apenas instrumentos de Deus”.

“Na Igreja, uma das características do missionário e sobretudo do religioso, porque eu sou também da vida religiosa, é a itinerância. Nós nunca nos fixamos num lugar. Nós somos transferidos para onde a Igreja precisa, para onde Deus nos manda, e nós temos que estar sempre prontos a desmontar a nossa tenda e montá-la em outro lugar”, disse.

Em seguida, acrescentou que, “neste momento, o Papa Francisco entendeu que seria melhor que eu fosse trabalhar em outro lugar e eu acolhi e agradeço todo o apoio que ele deu, todo o empenho que ele teve em nos ajudar e toda a preocupação que ele teve e ainda tem para com Cabo Delgado, porque além de rezar ele quer continuar a ajudar aquele povo”.

Em relação à ajuda internacional ao povo de Cabo de Delgado, Dom Luiz Lisboa sublinhou o apoio recebido da Fundação ACN. De acordo com ele, da Fundação Pontifícia e dos que colaboraram com a mesma “recebemos carros para os missionários, nós já recebemos ajuda para a formação de padres e seminaristas, para retiros, ajuda de subsistência para irmãs, projetos, agora no tempo da guerra, para a alimentação da população deslocada, projetos para a compra de material agrícola para o pessoal deslocado”.

Além disso, recordou que há “alguns projetos em pleno desenvolvimento”. “Nesse tempo da guerra” em Moçambique, indicou, a ACN tem ajudado com “vários pequenos projetos que têm possibilitado ao nosso pessoal missionário trabalhar e levar o socorro às vítimas dessa guerra”.

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