O Cardeal Angelo Scola, Patriarca de Veneza (Itália), e Relator Geral do Sínodo, fez um apertado elenco dos principais desafios referidos à Eucaristia e à Missa –desde a ‘intercomunhão’ com os evangélicos até a comunhão dos divorciados–; e chamou a responder a eles a partir da fé da Igreja e não das pressões do mundo.

Em sua extensa Relatio ante disceptationem –o tradicional relatório que precede o debate em todo Sínodo– o Cardeal Scola advertiu que "o apagar do assombro eucarístico depende, em última análise, da finitude e do pecado do sujeito. Freqüentemente isto encontra um terreno de cultura no fato de que a comunidade cristã que celebra a Eucaristia está longe da realidade. Vive abstratamente. Já não fala ao homem concreto, a seus afetos, a seu trabalho, a seu descanso, a suas exigências de unidade, de verdade, de bondade, de beleza"; e assinalou que "a Assembléia Sinodal deverá indagar atentamente este estado de coisas e sugerir os remédios possíveis".

Eucaristia e ecumenismo

O Cardeal assinalou em seguida que "a Celebração Eucarística é o ato do culto chamado a manifestar de modo eminente o único evento pascal". "O sacramento é dado pela comunhão dos homens em Cristo. Fora desta comunhão eucarística e sacramental a Igreja não está plenamente constituída: A Eucaristia faz a Igreja", acrescentou.

"Antes de tudo –acrescentou– se deve destacar a substancial comunhão de fé entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas sobre o tema Eucaristia e sacerdócio, comunhão que, através de um maior e recíproco aprofundamento da celebração eucarística e da divina liturgia, está destinada a crescer".

O Cardeal Scola chamou além a "receber positivamente o novo clima a propósito da Eucaristia nas comunidades eclesiásticas nascidas a partir da Reforma. Segundo diversos graus e com alguma exceção, também tais comunidades destacam cada vez mais o caráter decisivo da Eucaristia como elemento chave no diálogo e na praxe ecumênica".

O Cardeal assinalou, entretanto, que a ‘intercomunhão’ dos fiéis pertencentes a diversas Igrejas não tem fundamentos teológicos nem ajuda ao verdadeiro ecumenismo: "Embora provoque um grande sofrimento, sua falta não confere ao fiel e ao povo de Deus direito algum à Eucaristia. Pela mesma razão, o dom da Eucaristia não pode ser nunca idolatricamente ‘possuído’ por parte do homem, não tolera uma atitude quase gnóstica de pretendido domínio".

Comunhão dos divorciados

O Patriarca de Veneza destacou mais adiante que "uma adequada catequese eucarística nunca pode ser separada da proposta de um caminho penitencial. Na confissão finca também suas próprias raízes a venerável prática do jejum eucarístico, ao que seria útil dedicar alguma reflexão nesta Assembléia"

"A ninguém escapa a difundida tendência à comunhão eucarística dos divorciados que voltam a casar, além do indicado pelos ensinamentos da Igreja", assinalou então o Cardeal Scola; e advertiu que "é necessário que toda a comunidade cristã acompanhe os divorciados que voltaram a casar na tomada de consciência de que não estão excluídos da comunhão eclesiástica. Sua participação na celebração eucarística permite, em todo caso, essa comunhão espiritual que, se é bem vivida, é um reflexo do sacrifício de Jesus Cristo".

"A participação consciente, ativa e frutífera do povo de Deus –principalmente por ocasião do preceito dominical– coincide, de fato, com a adequada celebração dos Santos mistérios. (...) trata-se de obedecer ao rito eucarístico em sua extraordinária integridade, reconhecendo a força canônica e constitutiva do momento em que, não por acaso, há dois mil anos assegura a existência da Santa Igreja de Deus".

"A consideração do rito eucarístico como ação sacramental que por si só é capaz de justificar a Eucaristia como fonte e cume da vida e da missão da Igreja, não seria completa se não se mostrasse sua força de transformação da vida pessoal e comunitária dos fiéis e, através dela, sua fecundidade em relação a toda a família dos homens e dos povos", acrescentou o Cardeal.

"A dimensão comunitária da ação eucarística permite além disso aos cristãos não esquecer que o criado-cosmos é um bem comum e universal e que o compromisso com respeito a ele se estende não somente às exigências do presente, mas também às do futuro".

"Esta forma eucarística da personalidade e da comunidade cristã não é uma utopia. Vive já plenamente em Maria, mulher eucarística", concluiu.