Um grupo ecumênico de advogados que defende os cristãos perseguidos pediu aos Estados Unidos que condenem as agressões da Turquia e do Azerbaijão contra os armênios, em um conflito por uma área disputada nas montanhas do Cáucaso que causou a morte de mais de mil armênios nos últimos meses.

Na carta de The Philos Project, um grupo que defende o pluralismo religioso no Oriente Médio, mais de 40 signatários culpam a Turquia por sua "política externa incrivelmente agressiva e antiamericana" e seu apoio às agressões do Azerbaijão contra os armênios.

“A Turquia e o Azerbaijão, com uma população combinada de 100 milhões de pessoas, estão trabalhando com terroristas mercenários para atacar a Armênia, que tem uma população de três milhões, em um esforço de um século para destruir um Estado fechado, bloqueado e partido que está cheio de sobreviventes do genocídio”, afirma a carta.

“O pior é que eles estão usando jatos fabricados nos Estados Unidos e os dólares dos contribuintes desse país para suas políticas genocidas. O Azerbaijão está até usando bombas coletivas para atacar áreas residenciais, um crime de guerra documentado pela Anistia Internacional”, continua a carta.

Os signatários pediram aos Estados Unidos que suspendam as vendas de armas à Turquia e ao Azerbaijão até que termine o conflito. Também solicitaram que o país norte-americano envie ajuda à Armênia e faça os esforços diplomáticos necessários para resolver a situação de disputa na região.

Os signatários incluem Toufic Baaklini, presidente do Conselho de Defesa dos cristãos, e o Bispo Gregory Mansour da Eparquia de São Maron, no Brooklyn.

No genocídio armênio perpetrado pelo Império Turco Otomano entre 1894 e 1924, cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos.

“O mundo ignorou o genocídio da Turquia contra os armênios e outros cristãos há um século. Seria um erro trágico ignorá-lo novamente”, disse Robert Nicholson, autor da carta e presidente de The Philos Project.

Mais de 1.300 soldados morreram no lado armênio desde 27 de setembro passado, quando o Azerbaijão lançou uma ofensiva para retomar o território de Nagorno Karabakh, informou o New York Times.

A Turquia apoia o Azerbaijão no que as organizações humanitárias e cristãs consideram uma campanha de violência contra os cristãos armênios no território. As exportações militares da Turquia para o Azerbaijão, que incluem drones, munições e outras armas, aumentaram seis vezes este ano, informou a Reuters no mês passado.

Nagorno Karabakh é uma área reconhecida pelas Nações Unidas como parte do Azerbaijão, um país muçulmano, mas é administrada por armênios que pertencem à Igreja Apostólica Armênia, uma das seis igrejas cristãs que pertencem à comunhão ortodoxa oriental.

A Armênia é a primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial, uma decisão tomada em 301.

O território disputado, que se reconhece como a República de Artsakh, teve uma identidade armênia por um milênio e, portanto, uma rica história cristã.

Em 8 de outubro, militantes atacaram a catedral da Igreja Apostólica Armênia no território em disputa, destruindo parte do telhado e danificando as paredes da Catedral de Shusha. Os armênios denunciaram que as forças azerbaijanas, reforçadas pela Turquia, estavam por trás do ataque.

A disputa pelo território remonta ao colapso da União Soviética, com uma guerra ocorrida entre 1988 e 1994. Em 2016 houve um conflito de quatro dias com muitas mortes. No confronto atual, já houve várias tentativas malsucedidas de cessar-fogo. A Rússia vende armas para os dois lados do conflito.

O presidente turco, Tayyip Erdogan, se posicionou nos últimos anos como um líder do mundo muçulmano sunita. Em julho, transformou a histórica Catedral ou Hagia Sofia em mesquita, uma medida que vários analistas de liberdade religiosa disseram que poderia ter sérias consequências religiosas e geopolíticas.

As relações dos Estados Unidos com a Turquia, membro da OTAN, ficaram especialmente tensas após a decisão da Turquia de comprar um sistema de defesa aérea russo em julho de 2019. Desde então, vários membros do congresso norte-americano teriam bloqueado a venda de armas dos Estados Unidos para a Turquia, embora a administração Trump tenha levantado as sanções contra o regime turco em outubro do ano passado.

A Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos indicou em outubro que "lamentou saber" dos danos à catedral e solicitou que "os locais de culto e os locais religiosos sejam protegidos".

Publicado originalmente em CNA.

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