No meio da pandemia de coronavírus, o ciclone Amphan atingiu a terra nesta quarta-feira, 20 de maio, e deixou cerca de 84 mortos, milhões de afetados, vastas áreas inundadas e destruiu plantações e casas em Bangladesh e na Índia.

Durante a crise da COVID-19, que causou a morte de 3.584 pessoas na Índia e 408 mortes em Bangladesh, o ciclone Amphan, formado em 16 de maio na Baía de Bengala, chegou no final da tarde do dia 20 de maio e devastou os dois países.

 

Segundo UCA News, o ciclone danificou as vilas costeiras dos estados de Bengala Ocidental e Odisha no leste da Índia, deixando diversos mortos. Da mesma forma, as autoridades de gestão de desastres de Bangladesh disseram que o ciclone afetou 14 distritos costeiros no sul do país, onde alguns dos falecidos foram vítimas da queda de postes elétricos, paredes cobertas de lama e queda de árvores.

Também em Bangladesh, o fenômeno isolou as áreas mais remotas do país, pois os troncos das árvores que caíram obstruem as ruas e impedem a passagem de equipes de resgate, assinalou AsiaNews.

Como o ciclone aumentou o nível do mar em até 4,5 metros de altura, também inundou e destruiu as colheitas, devastando mais de 500 incubadoras de peixes na maioria das áreas da região costeira de Bangladesh, afetando severamente a economia local.

De acordo com o Conselho estadual de Eletrificação Rural de Bangladesh, ventos fortes arrancaram os postes elétricos e as conexões em muitas áreas, portanto, atualmente, cerca de 3,3 milhões de pessoas da costa estão sem eletricidade. A tempestade também cortou as conexões telefônicas e de internet na maioria das áreas costeiras, informou UCA News.

Algumas aldeias onde a maioria da população é católica também sofreram graves danos, assim como as paróquias, cuja comunicação é afetada pela falta de eletricidade. No entanto, de mãos dadas com os governos, estão atendendo os necessitados que, além disso, são afetados pela crise do coronavírus.

"Devido ao coronavírus, colaboramos para apoiar 1.700 fiéis católicos, mas agora também ajudaremos os que sofrem pelo ciclone Amphan", disse Dom James Romen Boiragi, de Khulna, na Índia, à AsiaNews.

"Estou preocupado, principalmente com os assentamentos perto da floresta de Sundarbans [localizada na Baía de Bengala], onde moram quase 3 mil católicos", disse Dom Boiragi. “A paróquia de Barisal [localizada em Bangladesh] sofreu danos parciais. As pessoas evacuadas foram acolhidas nas igrejas, nos pensionatos e nas escolas. No momento, não tenho notícias de mortes nessas áreas", acrescentou.

Jibon D. Das, diretor regional da Cáritas Khulna, Bangladesh, assinalou que relatórios preliminares de avaliação de danos sugerem que o ciclone Amphan foi mais devastador do que o recente "Bulbul", que na maior parte só destruiu casas e arrancou árvores. De fato, foi classificado como um super ciclone, mas enfraqueceu quando chegou a Bangladesh, acrescentou.

“A maioria das pessoas na faixa costeira perdeu tudo: suas casas e colheitas foram destruídas e os criadores de peixes e camarões foram arrastados. Agora, estão sem-teto e sem dinheiro", assinalou Das.

Das também informou que cerca de 150 mil pessoas se refugiaram em 47 centros administrados por Cáritas Khulna, preparados para evacuar os cidadãos diante da chegada do ciclone, onde receberam comida seca, água potável e solução salina oral.

“Eles vão conseguir comida hoje e amanhã, e aqueles que perderam casas e não podem voltar terão o mesmo apoio enquanto precisarem. Acho que as pessoas das áreas afetadas precisarão de pelo menos dois anos para se recuperarem da perda”, acrescentou.

Por sua parte, Pe. Paul Moonjeli, diretor da Cáritas Índia, disse que as equipes estão trabalhando para avaliar a situação e fornecer ajuda de emergência às pessoas em estado crítico. "Também estamos enviando nosso pessoal e materiais de serviços de emergência para outros lugares para ajudar as pessoas atingidas pelo ciclone", disse o sacerdote à UCA News.

Da mesma forma, as autoridades locais da Índia, que estão recebendo o apoio total da Igreja Católica em resposta à emergência, assinalaram que a Arquidiocese de Calcutá pediu a seus voluntários que avaliem os danos causados ​​na área, informou UCA News.

A este respeito, a agência de notícias mencionou que o Arcebispo de Calcutá, Dom Thomas D'Souza, assinalou que "cerca de 2,5 milhões de pessoas foram transferidas para lugares mais seguros antes do ciclone", por isso "milhares de pessoas agora estão desabrigadas". Diante disso, ele afirmou que ofereceram os edifícios da Igreja ao Governo para abrigar as pessoas afetadas.

"Estamos gravemente afetados tanto na cidade quanto nas áreas costeiras, especialmente rio abaixo", afirmou o Prelado. "O ciclone de alta velocidade destruiu colheitas e gado", acrescentou.

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Pe. Lijo George, diretor de assistência social da Diocese de Balasore, Índia, disse que o impacto do ciclone foi muito mais severo em Odisha. Por isso, a diocese enviou seus voluntários e assistentes sociais ao campo para avaliar os danos. Relatórios indicam inundações de milhares de hectares de plantação de arroz, assinalou UCA News.

Na região costeira da Índia, o estado de Bengala Ocidental evacuou quase 1,5 milhão de pessoas, e o estado de Odisha começou a evacuar mais de 1 milhão de pessoas.

 

Enamur Rahman, ministro de Estado para gerenciamento e assistência em desastres em Bangladesh, assinalou que mais de 2,4 milhões de pessoas vulneráveis ​​no sul de Bangladesh foram evacuadas por segurança em refúgios contra os ciclones. No entanto, não conseguiram utilizar a capacidade regular dos abrigos, em um esforço para impedir a disseminação do coronavírus.

"Tínhamos capacidade para acomodar cerca de cinco milhões de pessoas, mas devido às medidas de distanciamento social da COVID-19, evacuamos apenas as pessoas mais vulneráveis", disse Rahman. Do mesmo modo, assinalou que doaram arroz, pacotes de alimentos secos e dinheiro em efetivo aos administradores locais para apoiar as pessoas durante e depois do ciclone.

Mamta Banerjee, ministra-chefe do estado de Bengala Ocidental, na Índia, disse aos meios de comunicação que a situação é mais preocupante do que a pandemia de coronavírus e que "quase tudo ficou destruído nas aldeias costeiras", por isso "levará meses para voltar ao normal”, assinalou UCA News.

Banerjee também assinalou que, além da perda de vidas e propriedades, o ciclone também destruiu a infraestrutura do local, assim como as plantações, que foram devastadas pela intrusão de água salgada e inundações em grande escala.

O ciclone Amphan foi tão poderoso e destrutivo quanto um furacão de categoria 5, registrando rajadas de vento de até 270 km por hora, por isso é considerada uma das tempestades mais fortes a atingir o país desde 1999, acrescentou.

Bangladesh sempre foi vulnerável a fenômenos atmosféricos extremos, que causam centenas de vítimas todos os anos.

 

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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