Durante a Missa celebrada na Casa Santa Marta nesta terça-feira, 12 de maio, o Papa Francisco contrapôs a paz do mundo à paz do Senhor. Enquanto a paz do mundo é uma paz narcisista, que visa apenas a si mesmo e que é provisória e estéril, a paz do Senhor é gratuita e permite começar a viver o céu.

Em sua homilia, o Santo Padre explicou que “antes de partir, o Senhor saúda os seus e concede o dom da paz, a paz do Senhor: ‘Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá’. Não é uma questão de paz universal, essa paz sem guerra que todos queremos que haja sempre, mas paz de coração, paz de alma, paz que cada um de nós tem dentro de si”.

No Evangelho, o Senhor enfatiza que não dá paz como o mundo. Então, o Papa se perguntou: “Como dá a paz o mundo e como a dá o Senhor? Serão pazes diferentes? Sim, são. O mundo dá-te paz interior, estamos a falar disto, da paz da tua vida, deste viver com o coração em paz. Dá-te paz interior como uma tua posse, como algo que é teu e te isola dos outros, mantém-te em ti mesmo, é uma aquisição tua: eu tenho paz. E sem perceber, fechas-te nesta paz”.

“É uma paz para ti, para cada um; é uma paz sozinha, é uma paz que te deixa calmo, até feliz. E nesta tranquilidade, nesta felicidade, põe-te a dormir um pouco, anestesia-te e faz-te ficar contigo mesmo numa certa tranquilidade. É um pouco egoísta: paz para mim, fechado dentro de mim. É assim que o mundo a dá. É uma paz dispendiosa porque temos de mudar constantemente os instrumentos da paz: quando uma coisa te entusiasma dá-te paz, depois acaba e tens de encontrar outra... É dispendiosa porque é provisória e estéril“.

Em vez disso, “a paz que Jesus dá é algo mais. É uma paz que vos põe em movimento: não vos isola, põe-vos em movimento, faz-vos ir ter com os outros, cria comunidade, cria comunicação. A paz do mundo é dispendiosa, a paz de Jesus é gratuita, é grátis; é um dom do Senhor: a paz do Senhor. É fecunda, leva-nos sempre em frente”.

“A paz do Senhor é aberta, para onde Ele foi, aberta para o Céu, aberta para o Paraíso. É uma paz fecunda que se abre e também leva outros contigo para o Paraíso”, reforçou Francisco.

Por isso, o Papa convidou “a refletir um pouco: qual é a minha paz, onde encontro a paz? Nas coisas, no bem-estar, nas viagens - mas agora, hoje, não se pode viajar - nos bens, em muitas coisas, ou será que encontro a paz como um dom do Senhor? É preciso pagar pela paz, ou recebo-a gratuitamente do Senhor? Como é a minha paz?”.

“Quando me falta alguma coisa, fico zangado? Esta não é a paz do Senhor. Esta é uma das provas. Estou tranquilo na minha paz, adormeço? Não é do Senhor. Estou em paz e quero comunicá-la aos outros e levar algo em frente? Esta é a paz do Senhor!".

“Mesmo em tempos negativos e difíceis, esta paz permanece em mim? É do Senhor. E a paz do Senhor é fecunda também para mim, porque é cheia de esperança, isto é, olha para o Céu".

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“Esta paz que Jesus nos dá, é uma paz para agora e para o futuro. É começar a viver o Céu, com a fecundidade do Céu. Não se trata de anestesia. A outra, sim: anestesia-te com as coisas do mundo e quando a dose desta anestesia acaba, procuras outra paz, outra, e outra... Esta é uma paz definitiva, fecunda e até contagiosa. Não é narcisista, porque olha sempre para o Senhor. A outra faz com que olhes para ti,  é um pouco narcisista".

O Papa Francisco concluiu sua homilia pedindo "que o Senhor nos conceda esta paz cheia de esperança, que nos torna fecundos, que nos torna comunicativos com os outros, que cria comunidade e que olha sempre para a paz definitiva do Paraíso".

Evangelho comentado pelo Papa Francisco:

João 14, 27-31a

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
27Deixo-vos a paz,
a minha paz vos dou;
mas não a dou como o mundo.
Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
28Ouvistes que eu vos disse:
'Vou, mas voltarei a vós'.
Se me amásseis,
ficaríeis alegres porque vou para o Pai,
pois o Pai é maior do que eu.
29Disse-vos isto, agora, antes que aconteça,
para que, quando acontecer,
vós acrediteis.
30Já não falarei muito convosco,
pois o chefe deste mundo vem.
Ele não tem poder sobre mim,
31mas, para que o mundo reconheça que eu amo o Pai,
eu procedo conforme o Pai me ordenou.

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