O Arcebispo italiano Carlo Maria Viganò acusou o Cardeal Robert Sarah de lhe causar "danos graves" em uma amarga guerra de palavras sobre uma controversa carta aberta que trata sobre a crise do coronavírus.

Em um comunicado publicado em 8 de maio, Dom Viganó criticou a decisão do Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos de se distanciar da carta, intitulada "Apelo para a Igreja e para o mundo", que argumenta que a pandemia de coronavírus foi explorada para criar um governo mundial.

O comunicado detalha o relato de Dom Viganó sobre suas interações com o Cardeal Sarah a partir de 4 de maio. O primeiro afirma que, na noite de 7 de maio, o Cardeal africano pediu que ele o retirasse da lista de signatários da carta, que já havia sido publicada neste então.

"Com surpresa e profundo arrependimento", escreveu, "soube que Sua Eminência havia usado sua conta no Twitter, sem me avisar, para fazer declarações que causam sérios danos à verdade e à minha pessoa".

Dom Viganò se referia a três tweets de 7 de maio, nos quais o Cardeal Sarah disse: “Um cardeal prefeito da Cúria Romana tem que observar certa reserva em temas políticos, então pedi explicitamente, na manhã de hoje, aos autores do apelo intitulado ‘para a Igreja e para o mundo’ que não me mencionem”.

"Compartilho de maneira pessoal alguns assuntos ou preocupações em relação às restrições das liberdades fundamentais, mas não assinei a petição", acrescentou o Purpurado.

A declaração de Dom Viganò continua da seguinte forma: “Lamento muito que este assunto, que se deve à fraqueza humana, e pelo qual não guardo nenhum ressentimento contra a pessoa que o causou, tenha desviado nossa atenção do que deveríamos nos preocupar seriamente neste momento dramático".

Depois que Dom Viganò emitiu sua repreensão, o Cardeal Sarah twittou em 8 de maio: “Não vou falar sobre esta petição, que hoje parece ocupar muitas pessoas. Deixo à consciência daqueles que querem explorá-lo de uma maneira ou de outra. Decidi não assinar este texto. Eu aceito totalmente a minha escolha”.

Em sua declaração, Dom Viganò disse que havia escolhido divulgar suas conversas particulares com o Cardeal Sarah porque tinha o dever de dizer a verdade e "também por uma correção fraterna".

O arcebispo italiano disse que o Cardeal Sarah lhe disse inicialmente: "Sim, concordo em colocar meu nome, porque é uma luta na qual devemos participar juntos, não só pela Igreja Católica, mas por toda a humanidade".

Também confirmou que a assinatura do Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos foi agora removida da carta aberta.

Dom Viganò saltou à luz pública em agosto de 2018 com uma carta aberta na qual assinalava que oficiais do Vaticano ignoraram as advertências em relação aos abusos sexuais do ex-cardeal Theodore McCarrick. Desde então, o ex-núncio publicou numerosas cartas onde expressa seu ponto de vista sobre assuntos da Igreja, que incluem a crítica ao Papa Francisco e a outros membros da Cúria Romana.

A carta que gerou controvérsia pede em uma de suas seções o seguinte: “Não permitamos que, com o pretexto de um vírus, se apaguem séculos de civilização cristã, instaurando uma odiosa tirania tecnológica na qual pessoas sem nome e sem rosto possam decidir o destino do mundo, confinando-nos a uma realidade virtual".

"Temos razões para crer, com base nos dados oficiais relativos à incidência da epidemia no número de mortes, que existem poderes interessados ​​em criar pânico entre a população com o único objetivo de impor permanentemente formas de inaceitável limitação das liberdades, de controlo de pessoas, de rastreamento das suas deslocações. Estes métodos de imposição arbitrária são um prelúdio perturbador da criação de um Governo Mundial isento de qualquer controle", continua.

Entre os signatários da carta, além do Cardeal Sarah, que agora nega tê-la assinado, estão o Cardeal Gerhard Müller, prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Bispo Emérito de Hong Kong, e o Cardeal Janis Pujats, Arcebispo Emérito de Riga (Letônia).

A carta também inclui dois bispos dos Estados Unidos: Dom Rene Gracida, Bispo Emérito de Corpus Christi, e Dom Joseph Strickland, Bispo de Tyler, no Texas. Entretanto, Dom Stickland indicou à CNA por correio eletrônico que ele “não assinou esta carta”.

Outros signatários são o Bispo Auxiliar de Astana (Cazaquistão), Dom Athanasius Schneider e o Pe. Curzio Nitoglia, sacerdote da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (lefebvristas), um grupo que não está em plena comunhão com a Igreja. Este sacerdote é autor de um artigo intitulado “O Magistério do Vaticano II”, publicado em 1994, no qual afirma que “a Igreja do Vaticano II, portanto, não é a Igreja Católica Apostólica e Romana instituída por nosso Senhor Jesus Cristo”.

Até o momento, quase 4 milhões de pessoas testaram positivo para coronavírus e pelo menos 272 mil morreram.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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