Recentemente, Dom Guo Xijin foi obrigada a sair da residência onde vivia, juntamente com alguns sacerdotes, depois que autoridades chinesas cortam a água e a eletricidade da casa, alegando “razões de segurança”.

De acordo com a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) Portugal, após cortar a água e a luz da casa do Prelado, as autoridades colocaram no edifício um letreiro no qual afirma que a medida foi tomada porque o edifício não cumpre com as normas de segurança relativas a incêndios e por isso teve de ser fechado.

ACN cita a agência de notícias ‘Asia News’, que relata o caso e afirma se tratar de “um gesto de pressão e raiva” contra o prelado e os padres que têm se negado a aderir à igreja “independente”, isto é, à Associação Patriótica Católica.

Segundo ‘Asia News’, Dom Guo é “vítima” do acordo assinado entre a China e o Vaticano, em 2018, para a nomeação de bispos, o qual, afirma, que transformou a Diocese de Mindong “numa espécie de ‘projeto piloto’ para a sua aplicação”.

Na China, existe a Associação Patriótica Católica, que é controlada pelo governo, e a chamada Igreja Clandestina, não oficial, que reúne os católicos fiéis ao Papa e à Santa Sé.

Conforme assinala ACN, para a assinatura do acordo com a China, o Vaticano colocou Dom Guo Xijin como Bispo Auxiliar de Dom Vincenzo Zhan Silu, o qual era indicado pelo governo de Pequim para a Diocese de Mindong e foi retirado da situação de excomunhão em que se encontrava.

Entretanto, Dom Guo Xijin tem se recusado a aderir à estrutura da igreja organizada pelo Partido Comunista.

Além disso, segundo ‘Asia News’, tal como Dom Guo, “muitos padres” têm se recusado a assinar a adesão à Associação Patriótica Católica e, “nos últimos dias”, ao menos “cinco paróquias foram fechadas”, também sob a alegação de questões de segurança. Entre essas paróquias, estão a de Fuan, com mais de 10 mil fiéis, e a de Saiqi, com cerca de 3 mil.

Perseguição religiosa

Por sua vez, Human Right Watch denunciou a existência de “um sofisticado sistema de censura na Internet” na China, o que se considera alarmante nas suas implicações no que diz respeito aos direitos humanos.

Relatório divulgado por esta organização em janeiro acusa o regime de Pequim de “construir um estado de vigilância tecnológica Orwelliano” e um “sofisticado sistema de censura na Internet”, destinado a “silenciar críticos”, e aponta à repressão dos muçulmanos uigures.

A Fundação ACN assinala que a estimativa é de que as autoridades chinesas tenham sob detenção, nos chamados campos de reeducação, cerca de 1 milhão de membros desta minoria muçulmana na província de Xianjiang, e tais medidas são justificadas com alegações de combate ao terrorismo.

Por outro lado, assinala ACN, tem havido condenações internacionais quanto a essa repressão das autoridades chinesas com as comunidades religiosas. Recorda, por exemplo, que em outubro do ano passado, o presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz da Igreja Católica em Portugal manifestou sua desaprovação quanto à perseguição religiosa à comunidade cristã na China.

Em uma entrevista concedida à ACN Portugal, Pedro Vaz Patto declarou que “as violações da liberdade religiosa” se acentuaram na China, dando como exemplos a proibição da “educação religiosa de crianças e adolescentes e a sua entrada em lugares de culto, o uso de tecnologia mais avançada para o controlo da população”.

Para Vaz Patto, essas medidas são “próprias de um Estado totalitário que pretende controlar todos os domínios da vida das pessoas, incluindo os mais íntimos, como é a religião”.

Além disso, considerou que entre as principais vítimas destas medidas do Estado chinês estão “sobretudo as comunidades, de várias religiões, que escapam ao controlo estatal”, tendo especificado que, entre os que “mais sofrem essa repressão”, estão “as comunidades clandestinas cristãs, ou não cristãs”, mas também se referiu aos muçulmanos uigures.

“É evidente que já houve uma resolução do Parlamento Europeu a denunciar esta situação, mas não teve grandes consequências”, disse, em referência à existência de cerca de 1 milhão de prisioneiros uigures em Xianjiang.

“O pretexto é o combate ao terrorismo, mas não podemos associar toda a população, só por ser muçulmana, ao terrorismo”, acrescentou.

O presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz da Igreja Católica em Portugal assinalou ainda que “não existe” por parte dos cristãos, nem de qualquer outra religião, “algum propósito de combater politicamente o Estado”, mas “a repressão, a privação das liberdades religiosas atinge todas as religiões”. Por isso, “não podemos ignorar a situação da China no que diz respeito aos direitos humanos”, concluiu.

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