O governo da Nicarágua decidiu reduzir em 91% o orçamento público 2020 destinado à conservação de igrejas católicas e protestantes, muitas destas históricas e declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Segundo o jornal local ‘La Prensa’, o orçamento geral da República de 2020, aprovado na semana passada, destinou apenas 112,7 mil dólares à preservação de templos, quando em 2019 era de cerca de 1,2 milhão de dólares.

A Nicarágua enfrenta problemas econômicos que derivam em grande parte da crise político-social iniciada em abril de 2018, quando ocorreram protestos nacionais contra a reforma do sistema de saúde e previdência, realizada pelo governo de Daniel Ortega. A Igreja neste país foi afetada por ataques contra bispos, sacerdotes e templos por parte de paramilitares vinculados ao regime.

Dom Abelardo Mata, porta-voz da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) e um forte crítico do governo, assinalou que a preservação dos templos históricos é um compromisso do Estado nicaraguense com a UNESCO.

“Alegra-me muito que o governo se distancie desta forma porque assim ninguém se vê obrigado a ser submisso a ele, nem se calando por benefícios que dizem que o governo dá, quando é obrigação e não é o governo, mas o Estado da Nicarágua que assumiu compromissos, por exemplo, com o patrimônio histórico, o qual obriga a Igreja a manejar seus próprios recursos para a preservação de seu patrimônio”, disse Dom Mata a ‘La Prensa’.

O Prelado assegurou que o corte no orçamento mostra "o estilo ditatorial" do governo de Ortega.

“É muito melhor (que não tenham designado um orçamento), porque se valem disso para argumentar direitos, não apenas sobre os ambientes, mas também sobre as pessoas que estão à frente destes ambientes. Então, melhor não pegar dinheiro desta gente. Eu, pessoalmente, celebro isso, porque desta forma, nos separamos totalmente deles, é muito sadio pelo tipo de governo que há”, assegurou o Bispo.

Por sua parte, Dom Carlos Avilés, vigário da Arquidiocese de Manágua, disse a ‘La Prensa’ que o corte na ajuda não se deve apenas à crise econômica, mas trata-se de um "castigo político".

“Cortaram onde menos lhes importa, assim estão castigando política e economicamente e fazem os cortes para se manter. Se nos cortam, nós continuamos funcionando. Além disso, é dinheiro de impostos, do próprio povo, não é que o governos esteja nos fazendo um favor”, disse Dom Avilés.

Um dos templos afetados, como indicou o Prelado, é a Catedral de León, cuja arquitetura e design se plasmou durante a época da colônia espanhola e hoje é patrimônio da humanidade. Nesta catedral, jazem os restos do poeta Rubén Darío.

‘La Prensa’ também assinala que, ao contrário do ano anterior, desta vez o governo retirou totalmente os fundos da Catedral de Manágua.

 A Conferência Episcopal da Nicarágua participou como mediadora e testemunha da crise político-social na tentativa de dialogar com o governo de Daniel Ortega em maio de 2018, mas o presidente da Nicarágua descreveu os bispos como "conspiradores".

Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a crise produziu 328 mortes até o momento, embora as organizações locais afirmem ter sido 651.

Atualmente, a inflação do país é de 4,03%, de acordo com as últimas estatísticas fornecidas pelo Banco Central da Nicarágua, sendo o país com a inflação mais alta da América Central.

Entre outras coisas, em setembro de 2019, o diretor da Cáritas Nicarágua, Pe. Francisco Chavarría, denunciou que o regime do presidente Daniel Ortega retém "sem nenhuma justificativa formal" cerca de doze contêineres que pertencem a várias paróquias do país.

Segundo o diretor da Cáritas, esse problema já dura um ano.

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