O Cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, disse que, diante dos atuais desafios da Igreja Católica, esta não deve tomar soluções rápidas, mas aprofundar sua compreensão da tradição ininterrupta do celibato sacerdotal no rito latino.

O Purpurado fez esta declaração durante a apresentação de seu livro "Friends of the Bridegroom: For a Renewed Vision of Priestly Celibacy", lançado em 2 de outubro. EWTN Publishing publicou a tradução em inglês do livro.

O Cardeal Ouellet disse em coletiva de imprensa que é "cético" diante da ideia de considerar na Amazônia a ordenação sacerdotal de homens idosos casados, os chamados “viri probati”.

Também afirmou: "Alguém acima de mim é cético". Mas, quando perguntado se estava se referindo ao Papa Francisco, o Purpurado respondeu que não falaria sobre o pensamento do Papa, mas que sabia que havia alguns acima dele "na Cúria Romana" que também são céticos.

“Não sou contra o fato de haver um debate, mas acho que, neste momento da história e da Igreja, há uma necessidade de reflexão. E, assim, minha intervenção é para corroborar com o debate, para dar algo substancial para ajudar no discernimento”, afirmou.

"Continuo sendo cético devido às convicções e ao conhecimento da tradição católica no rito latino, por isso, acho que isso deve ser muito levado em consideração no debate", continuou, acrescentando que permanece aberto ao que acontecerá durante o sínodo.

O Cardeal Ouellet também assinalou que sabe que o Papa Francisco mencionou que não tem intenção de mudar a prática da Igreja sobre o celibato sacerdotal no rito latino, mas que não excluiu a possibilidade de uma exceção.

O Purpurado, de 75 anos, disse que entregou ao Pontífice duas cópias de seu livro e ele está contente de que considere um debate.

O Cardeal Ouellet, que é de Quebec, Canadá, também é presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Foi nomeado para esse cargo e como chefe da Congregação para os Bispos em 2010. Antes de se tornar bispo, lecionou por anos em seminários em Roma e na América do Sul.

Em uma entrevista a EWTN News Nightly, em 1º de outubro, o Cardeal Ouellet explicou que há muitas razões pelas quais escreveu o livro, mas uma foi sua experiência trabalhando com sacerdotes e dando formação.

Disse que achava que era um bom momento para contribuir com seus anos de "conhecimento, sabedoria e experiência" à discussão da Igreja sobre o celibato sacerdotal e, no contexto particular do sínodo amazônico deste mês, para o debate sobre “viri probati”.

Além disso, argumentou que também foi inspirado após a carta de encorajamento do Papa Francisco, em 4 de agosto, aos sacerdotes, e queria acrescentar algo mais ao que o Papa disse sobre o assunto.

“Acredito que o celibato sacerdotal, mas também a consagração religiosa, é um poderoso testemunho da divindade de Jesus Cristo e de seu chamado para segui-lo e deixar tudo para estar com Ele e fazer o que Ele nos pede que façamos. Então, para mim, esse é o primeiro significado do celibato, e do celibato sacerdotal, é testemunhar a divindade de Cristo”, disse o Purpurado.

O que tenta mostrar no livro, assegurou, é "a sacramentalidade da Igreja como um sinal da comunhão trinitária da qual participam os fiéis".

“Acho que o celibato será renovado se o sacerdote tiver uma ideia melhor de seu próprio sacerdócio. O fundamento desse vínculo muito próximo entre o celibato e o sacerdócio é o fato de o sacerdote ser responsável por um ministério escatológico, ou seja, de proclamar e dar a Palavra definitiva de Deus ao mundo”, acrescentou.

O Cardeal também disse que a tradição da Igreja Católica Romana "deve ser fiel às suas próprias raízes e ao seu próprio estilo".

“O vínculo entre o celibato e o sacerdócio na Igreja Latina vem dos apóstolos e manteve-se ao longo dos séculos, apesar dos tempos de decadência, de dificuldades, de rejeição... Sempre foi difícil, mas continua sendo um testemunho extraordinário da divindade de Cristo e diante da presença do Senhor ressuscitado entre nós para lhe dar uma resposta, porque ele está lá, nos chamando para a comunhão”, assegurou.

"O celibato – continuou – é uma realidade muito viva. E, obviamente, pede-nos que sejamos coerentes com nossos compromissos e que sejamos fiéis aos nossos votos. Penso que com a oração, com a fraternidade e com um sentido da Palavra de Deus podemos conseguir isso”.

No livro, o Cardeal Ouellet aborda diretamente o sínodo amazônico deste mês e a “busca de novas formas em um contexto missionário”.

“Estão surgindo novas estratégias missionárias que poderiam ter um impacto em longo prazo no ministério sacerdotal, seja localmente ou mais amplamente, dada a influência globalizante de uma cultura midiática sem fronteiras. Alguns aspiram à rápida adoção da solução pastoral de viri probati, ou seja, homens casados, chefes de famílias estáveis, que poderiam ser ordenados sacerdotes para garantir a celebração eucarística de comunidades indígenas dispersas que consideram o valor do celibato como sendo exterior”, escreve.

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"Essas perspectivas podem ser atraentes para alguns e causar preocupação em outros lugares, considerando que os elementos de ideologia e estratégia estão entrelaçados para alcançar resultados mais ambiciosos e importantes em nível universal", acrescentou.

O Cardeal Ouellet escreve que algumas correntes de pensamento "liberais" ou "protestantes" estão ressurgindo para aproveitar a situação e propor programas de reforma que vão além das intenções e orientações do Papa Francisco.

Em vez disso, explica, o Papa Francisco colocou o Sínodo Amazônico sob o movimento do Espírito Santo, em uma atmosfera de oração, diálogo e abertura à novidade. Por isso, requer uma discussão livre de ideias divergentes, explica. E não são necessárias apenas ideias opostas, mas também "interesses opostos e forças hostis à influência da Igreja".

"Dito isto – continua o Cardeal – os novos caminhos do futuro produzirão frutos evangélicos se forem consistentes com uma proclamação completa do Evangelho, sine glosa, que não sacrifica nada dos valores permanentes da tradição cristã".

O Purpurado diz no livro que "a criatividade pastoral" é necessária para estar atento às características culturais ao abordar a falta de sacerdotes, mas primeiro devemos verificar a qualidade do testemunho missionário, que podem transmitir efetivamente a fé quando impregna toda a sua vida e motiva inequivocamente seu estilo de vida e atividade evangelizadora.

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