Enquanto os protestos em massa continuam em Hong Kong, um líder estudantil diz que os católicos desempenham um papel decisivo na hora de incentivar os manifestantes a se manterem pacíficos em suas reivindicações.

“Os protestos do domingo passado foram pacíficos. Felizmente, não houve conflitos relevantes entre a polícia e os manifestantes”, assegurou Edwin Chow, presidente interino da Federação de Estudantes Católicos de Hong Kong à CNA, agência em inglês do Grupo ACI.

Os protestos em Hong Kong começaram há quase três meses, como resposta a um projeto de lei sobre a extradição para a China. Esse projeto de lei acabaria com a autonomia de Hong Kong, que possui seu próprio sistema jurídico, em relação à China continental, que é muito mais repressiva.

Apesar da ameaça de violência da polícia e da preocupação crescente por uma possível repressão das autoridades chinesas, estima-se que 1,7 milhões de pessoas tenham ido às ruas de Hong Kong no domingo, 18 de agosto, para participar de uma manifestação pacífica.

No entanto, essa não foi a manifestação mais numerosa deste ano. O protesto no dia 6 de junho reuniu cerca de dois milhões de pessoas. Até agora, nem todas as manifestações foram pacíficas; de fato, em várias ocasiões, a polícia e os manifestantes recorreram à violência.

“Desde junho passado até antes deste último protesto, a polícia quase sempre havia usado gás lacrimogêneo e balas. No entanto, durante o último fim de semana a polícia não voltou a utilizá-lo, tampouco entrou em algum confronto sério com os manifestantes”, assegurou Chow.

Por sua vez, os manifestantes continuam denunciando o uso excessivo de força pela polícia, bem como a possibilidade de Hong Kong começar a extraditar suspeitos de serem criminosos para serem julgados na China continental.

Esta é uma das principais razões para as manifestações em Hong Kong, pois, em fevereiro passado, o governo da China introduziu o projeto de lei que propõe extradições à China. Embora, sua aprovação tenha sido suspensa indefinidamente.

No entanto, os cristãos em Hong Kong continuam preocupados com o fato de o governo comunista chinês continuar procurando maneiras de perseguir aqueles que ajudam os cristãos na China continental, onde a liberdade de religião está severamente restrita.

"O governo chinês reprime e pressiona a Igreja na China continental e preocupa-nos que, quando tivermos comunicação com os membros da Igreja, o governo faça represálias contra nós", disse Chow.

O administrador apostólico de Hong Kong, Cardeal John Tong, pediu ao governo que a lei de extradição seja completamente eliminada e também que se realize uma investigação independente sobre o uso excessivo da força por parte da polícia de Hong Kong.

Em 18 de agosto, a Federação de Estudantes Católicos de Hong Kong participou do protesto e celebrou um momento de oração antes da marcha.

Chow também explicou que atualmente há várias manifestações previstas para o mês de agosto e que em setembro também haverá outros protestos que coincidirão com o início das aulas.

“Minha aula começará em 2 de setembro, mas, na realidade, o sindicato dos estudantes, a maioria dos estudantes universitários, estamos planejando fazer uma greve neste dia. Eu acho que é um dever, isso vai acontecer. Vamos entrar em greve”, indicou.

Chow, que estuda Governo e Estudos Internacionais na Universidade Batista de Hong Kong, manifestou à CNA seu desejo de ver católicos e outros cristãos assumirem um papel mais importante nos protestos em andamento contra o governo.

Nesse sentido, Chow destacou o papel especialmente importante que os católicos tiveram no início dos protestos, quando dirigiram o canto de alguns hinos religiosos. No entanto, durante as semanas seguintes, seu papel diminuiu.

“É uma boa oportunidade para que católicos e outras denominações cristãs nos unamos. Acho que temos valores semelhantes, o mesmo objetivo... Assim, podemos cooperar e, dessa forma, nosso poder será maior", disse Chow à CNA na semana passada.

Este jovem também enfatizou que considera que os manifestantes estão mudando suas táticas para tentar ser menos hostis. Durante as últimas semanas, alguns protestos foram realizados no Aeroporto Internacional de Hong Kong, o que causou inúmeros problemas.

“Foi neste momento que os manifestantes repensaram sua estratégia. Acham que, talvez, um protesto pacífico possa ter mais apoio. Penso que, devido ao choque anterior e à excessiva violência, podemos ter perdido algum apoio e queremos conquistá-lo novamente”, explicou Chow.

“Considero também que o tema principal dos protestos é a violência policial, é difícil convencer as pessoas de que somos contra a violência quando também a usamos. Esta pode ser a razão principal pela qual este protesto deste fim de semana foi mais pacífico”.

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Nesse sentido, Chow explica que os grupos cristãos podem desempenhar um papel importante para incentivar os manifestantes a manterem a paz.

“Os grupos cristãos temos a responsabilidade e o poder de acalmar nossos amigos. Por exemplo, cantar hinos cria uma atmosfera pacífica e pode ajudar a manter a tranquilidade”, afirmou.

Chow também explicou que o clero católico tem sido muito solidário. A Federação convidou o bispo emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen, para celebrar a Missa no dia 16 de junho, em frente à sede do governo.

O Bispo Auxiliar de Hong Kong, Dom Joseph Ha Chi-shing, também participou de alguns protestos e apoiou os manifestantes. Participou de uma oração ecumênica que ocorreu fora do edifício do Conselho Legislativo com milhares de cristãos.

"Católicos de todas as idades se juntaram às nossas atividades", "não são apenas os adolescentes que participam do protesto, mas os idosos, os adultos também se juntam a nós e apoiam o protesto".

Nos Estados Unidos, a comunidade católica chinesa da Arquidiocese de San Francisco e o Departamento de Vida e Dignidade Humanas estão organizando uma vigília de oração com adoração eucarística para rezar por Hong Kong neste dia 26 de agosto, às 18h30, na Igreja de Santa Ana, em San Francisco.

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