Em uma extensa entrevista publicada na segunda-feira por ‘The Washington Post’, o ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, Dom Carlo Maria Viganò, acusou o Papa Francisco de "mentir descaradamente" no caso do ex-cardeal Theodore McCarrick e reiterou que o Papa sabia desde 2013 dos abusos cometidos pelo ex-arcebispo de Washington DC.

A saga iniciada por Dom Viganò contra o Pontífice começou em agosto de 2018 e agora continua através de uns e-mails trocados com ‘The Washington Post’ durante dois meses. A extensa entrevista foi publicada pelo jornal norte-americano em 10 de junho e é o resultado das respostas a cerca de 40 perguntas.

O jornal indicou que "as passagens selecionadas que contêm acusações não verificadas foram removidas, outras foram ligeiramente editadas para maior clareza".

O texto foi publicado dias depois que o Santo Padre disse na entrevista concedida a Televisa que sobre as denúncias contra McCarrick " não sabia de nada". Além disso, Francisco indicou que não lembra que Viganò falou com ele sobre os abusos do ex-cardeal durante o encontro que tiveram em junho de 2013.

"Em relação a esta coisa que diz que falou comigo naquele dia, que veio... Eu não me lembro se ele me falou sobre isso. Se é verdade ou não. Nem ideia! Mas vocês sabem que eu não sabia nada sobre McCarrick, senão não teria me calado, não?", disse o Papa em uma entrevista divulgada em 28 de maio.

Na troca de e-mail com ‘The Washington Post’, Dom Viganò disse que em 23 de junho de 2013 "o próprio Papa Francisco me perguntou sobre McCarrick e lhe disse que tinha um grande registro sobre seus abusos na Congregação dos Bispos e que corrompeu gerações de seminaristas. Como alguém, especialmente um Papa, poderia esquecer isso?".

"Estamos em um momento verdadeiramente sombrio para a Igreja universal: o Sumo Pontífice agora está mentindo descaradamente a todo o mundo para encobrir suas más obras! Mas a verdade sairá à luz com o tempo, sobre McCarrick e sobre todos os demais acobertamentos, como já aconteceu no caso do Cardeal Wuerl, que também ‘não sabia nada’ e tinha ‘um déficit de memória’”, expressou Viganò.

O ex-núncio fez sua primeira acusação em 25 de agosto de 2018, quando o Papa estava na Irlanda participando do Encontro Mundial das Famílias. Em uma carta de onze páginas, Dom Viganò disse que o Santo Padre não havia levado em consideração as sanções que Bento XVI impusera ao agora ex-cardeal.

Agora, nos e-mails trocados com o jornal norte-americano, Dom Viganò disse que, embora a expulsão de McCarrick do Colégio dos Cardeais e do sacerdócio seja uma "punição justa", isso poderia ter sido feito "há mais de cinco anos" e que sua carta de agosto de 2018 acelerou a decisão da Santa Sé.

Segundo o ex-núncio, desde sua primeira carta até a expulsão de McCarrick houve "sete meses de silêncio total" e "é difícil evitar concluir que o tempo foi pensado para manipular a opinião pública".

Em seus e-mails, Viganò também acusou o Papa de encobrir os abusos dos quais o bispo argentino Gustavo Zanchetta é acusado. No entanto, na entrevista concedida a Televisa, o Santo Padre explicou o processo seguido com o prelado e assinalou que seu caso está atualmente nas mãos da Congregação para a Doutrina da Fé.

Além disso, sobre sua decisão de não responder à primeira carta de Viganò e deixar que a imprensa investigue, o Papa disse a Televisa que fez isso porque "as evidências estavam lá, julguem vocês. Foi um ato de confiança realmente. E segundo, por Jesus, que em momentos de fúria não se pode falar, porque é pior. Tudo vai contra você. O Senhor nos ensinou esse caminho e eu o sigo".

As acusações de Viganò contra o Papa foram rejeitadas por vários episcopados, como da Europa, Argentina, Espanha, entre outros.

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