O Papa Francisco pronunciou algumas sugestões concretas para a pastoral vocacional e advertiu sobre a necessidade de adequar a linguagem da Igreja aos jovens, os quais vivem continuamente “em conexão” com a Internet e a informática em geral. O Santo Padre pediu que se trabalhe intensamente e com muita paciência neste campo.

“Quando eu era jovem, o trabalho com os jovens era feito em círculos de reflexão. Nós nos reuníamos, refletíamos sobre esse tema, depois sobre outro, cada um estudava o tema primeiro... E estávamos satisfeitos e fazíamos algumas obras de misericórdia, visitas a hospitais, a alguma casa de retiro”, contou o Santo Padre.

Entretanto, o Papa Francisco explicou que antes, acompanhar as vocações era um trabalho “mais sedentário” e, ao contrário, “hoje os jovens estão em movimento e devemos trabalhar com eles em movimento e tentar ajudá-los a encontrar sua vocação em suas vidas”.

“Isso cansa... É preciso se cansar! Não se pode trabalhar pelas vocações sem se cansar. É o que a vida, a realidade, o Senhor e todos nos pedem”, exclamou o Pontífice.

Estas palavras foram pronunciadas pelo Santo Padre, sem discursos preparados, nesta quinta-feira, 6 de junho, na Sala do Consistório do Vaticano, ao receber representantes dos Centros nacionais para as vocações da Igreja da Europa, os quais participam de um congresso em Roma, de 4 a 7 de junho.

Como já aconteceu em outras ocasiões, o Papa Francisco decidiu no começo da audiência entregar o discurso escrito preparado para a ocasião e falar espontaneamente, sem ler nenhum texto.

“Preparei uma reflexão aqui, que entregarei ao Cardeal (Angelo Bagnasco), e me permito falar um pouco de improviso sobre o que vem ao meu coração”, explicou o Papa.

Em primeiro lugar, o Pontífice assinalou que, quando fala de vocações, “muitas coisas vêm à mente, muitas coisas para dizer, que se pode pensar ou fazer, planos apostólicos ou propostas”, mas destacou que, “antes de tudo, gostaria de esclarecer uma coisa: que o trabalho para as vocações, com as vocações, não deve ser, não é proselitismo. ‘Não é buscar novos sócios para este clube’. Não!”, alertou.

A pastoral vocacional “deve se mover ao longo da linha de crescimento que Bento XVI nos indicou tão claramente: crescimento da Igreja é por atração, não por proselitismo. Assim. Também nos disseram – os bispos latino-americanos – em Aparecida. Não se trata de ir buscar onde encontrar pessoas”.

Nesse sentido, o Papa recordou que, no Sínodo de 1994, um meio de comunicação denunciou “o tráfico de noviças” ao se referir à Congregação feminina que, nos anos 1990, aceitava postulantes à vida religiosa procedentes das Filipinas quando não tinham casas neste país.

“A Conferência episcopal das Filipinas disse: ‘Não. Em primeiro lugar, ninguém vem maqui para pescar vocações, não’. E as irmãs que tiverem casas nas Filipinas que façam a primeira parte da formação nas Filipinas. Isso evita algumas ‘deformações’. Queria esclarecer isso, porque o espírito do proselitismo nos causa danos”, advertiu o Santo Padre.

Além disso, Francisco destacou a importância dos acompanhantes vocacionais, porque “ajuda um jovem ou uma jovem a escolher a vocação de sua vida, seja como leigo, leiga, sacerdote ou religiosa, é ajudar a assegurar que encontre o diálogo com o Senhor. Que aprenda a lhe perguntar: ‘O que quer de mim?’. Isso é importante, não é uma convicção intelectual”.

“A escolha da vocação deve vir do diálogo com o Senhor, qualquer que seja a vocação. O Senhor inspira-me a avançar na vida desta forma, por este caminho. E isto significa um bom trabalho para vocês: ajudar o diálogo. É claro que, se não dialogarmos com o Senhor, será difícil ensinar os outros a dialogar sobre este ponto. Diálogo com o Senhor”, indicou o Papa.

Por isso, o Santo Padre incentivou quem impulsiona a pastoral vocacional a ter paciência com os jovens, porque “trabalhar com os jovens requer muita paciência, muita, muita capacidade de escuta”.

Deste modo, o Papa Francisco pediu que compreendam a linguagem dos jovens. “Às vezes, falamos com os jovens como estamos acostumados a falar com os adultos. Para elas, muitas vezes, nosso idioma é ‘esperanto’, é como se estivéssemos falando esperanto, porque não entendem nada”, alertou.

“Sabem muito sobre os contatos, mas não comunicam. Comunicar é talvez o desafio que devemos ter com os jovens”, assegurou e acrescentou que é necessário “ensinar-lhes que a informática é algo bom, sim, ter algum contato, mas não é essa a linguagem: é uma linguagem ‘gasosa’. A verdadeira linguagem é comunicar. Comunicar, falar”.

“É um trabalho a ser feito passo a passo. Também depende de nós entendermos o que significa para uma pessoa jovem viver sempre ‘em conexão’, onde a capacidade de se recolher em si mesmo se foi: este é um trabalho para os jovens”, explicou.

Nesse sentido, o Pontífice reconheceu que “não é fácil”, porque “não pode ir com ideias pré-concebidas ou com a imposição puramente doutrinal, no bem sentido da palavra: ‘Você deve fazer isso’ Não!”, exclamou.

“Devemos acompanhar, guiar e ajudar para que o encontro com o Senhor os faça ver qual é o caminho da vida. Os jovens são diferentes uns dos outros, são diferentes em todos os lugares, mas são os mesmos na inquietação, na sede de grandeza, no desejo de fazer o bem. Todos são iguais. Há diversidade e igualdade”, explicou o Papa.

Ao finalizar, Francisco agradeceu aos presentes pelo trabalho que realizam e lhes pediu que leiam e reflitam o discurso preparado previamente e que entregou no começo da audiência.

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“Não percam a esperança, sigam em frente com alegria”, incentivou o Santo Padre e os convidou a rezar juntos o Regina Coeli, porque era meio-dia.

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