Rafa, pai de Nico, uma criança com síndrome de Down, deu uma profunda lição sobre o valor da vida de seu filho ao escritor espanhol Arcadi Espada, que afirmou que dar à luz a crianças com deficiência é uma "imoralidade e uma aberração".

Durante o programa de entrevistas "Chester", transmitido pelo canal privado Cuatro da televisão espanhola, o entrevistador explicou algumas declarações que Arcadi Espada, escritor espanhol polêmico, fez em relação a pessoas que deixam seus filhos nascerem com deficiência.

"Há pessoas que consideram que, se a criança for detectada com alguma doença, ela tem todo o direito de continuar com a criança doente. Parece-me uma imoralidade e uma aberração", afirmou Espada.

Também enfatizou que, "se o serviço público avisou para você que essa pessoa nascerá com deficiências gravíssimas que representarão para a sociedade um custo que poderia ter sido evitado, você obviamente deverá assumir a responsabilidade moral de ter trazido ao mundo um filho nessas condições e, segundo, a responsabilidade econômica de manter essa criança nas condições necessárias para a pessoa e sua dignidade".

O programa contou com a intervenção de Rafael, pai de Nicolás, uma criança com síndrome de Down, que explicou, com voz emocionada, como seu filho "tem, como todo espanhol, uma série de direitos dispostos na Constituição espanhola. Têm o direito a uma educação, um trabalho, uma vida independente, a ter cuidados de saúde sem que ninguém possa jogar na cara deles o fato de terem uma deficiência. E acima de tudo, eles têm o direito de viver porque têm uma vida plena como o resto das pessoas e uma vida digna".

Rafael assinalou também que as pessoas com síndrome de Down "não estão doentes, mas têm uma alteração genética, que é diferente".

"Eles sofrem quando você os humilha e eu posso garantir que meu filho com síndrome de Down não é bobo nem pior do que outros, e ainda não consigo entender que possa dizer que meu filho deveria me denunciar por crimes contra a humanidade porque ele nasceu”.

Pela falta de argumentos, o escritor foi embora antes de terminar a entrevista sem fundamentar suas afirmações. Enquanto isso, o entrevistador decidiu conceder um longo aplauso a Rafa.

Resposta de fundações pró-vida

A Down Espanha, associação que reúne pessoas com síndrome de Down, agradeceu "tanto a intervenção emotiva de Rafa, como o apoio e carinho recebido pelo nosso coletivo".

"Também queremos agradecer a Risto Mejide e ao programa Chester por seu posicionamento em favor de pessoas com síndrome de Down e seu apoio aos direitos coletivos", asseguraram em seu site.

Por outro lado, a Fundação Jérôme Lejeune enviou um comunicado no qual destacou que "a existência de uma patologia ou doença no ser humano não nega a sua realidade pessoal. Ou seja, as pessoas são pelo simples fato de serem, não porque vivam em determinadas condições de idoneidade, muito menos porque outras pessoas lhes reconheçam seu ser pessoal”.

"Todo ser humano tem direito de viver, independentemente das condições em que esta vida ocorre. Portanto, negar a uma pessoa o direito à vida é sempre uma violação de direitos", destacam no comunicado enviado pela Fundação.

Asseguram também que "os pais que reconhecem o direito de viver de seus filhos não fazem nada além de reconhecer que são pessoas. Obrigar um pai a violar os direitos de seu filho, como obrigá-lo a tirar sua vida através do aborto induzido, seria uma imoralidade grave, como também contrária a toda justiça e ordem legal".

"Sabemos, por experiência própria, que a presença dessas pessoas nas famílias é, na maioria dos casos, uma oportunidade de crescimento e superação para todos os seus membros. A beleza da vida se manifesta sempre que se permite manifestar-se e, de maneira particularmente intensa, na realidade da deficiência e no surgimento do desafio que representa", ressalta a Fundação Jérôme Lejeune.

Por fim, lembram que "é obrigação do serviço público de saúde na Espanha respeitar o direito de todos à saúde. O diagnóstico médico é chamado a ser a ferramenta que permita o exercício desse direito, e não a privação dele”.

"Os espanhóis nos sentimos orgulhosos de termos construído juntos um serviço de saúde pública que respeite as normas de justiça, equidade e proporcionalidade. Lamentamos que existam cidadãos que não compartilhem a função deste serviço público", assinalam.

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