O presidente da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), Dom Roberto Lückert, se pronunciou sobre a denúncia de que mais de 80 menores foram detidos pelo regime do presidente Nicolás Maduro.

"A informação ainda é muito vaga. O que eu sei é que adolescentes foram presos como se fossem ‘terroristas’ durante as manifestações. Neste momento, há uma informação dupla, uma por parte das pessoas atingidas, ou seja, as famílias e testemunhas da atitude repressiva, e outra são os testemunhos dos meios de comunicação”.

"Sobre os testemunhos ligados ao governo, afirma-se que (os manifestantes) estão inventando, provocando as pessoas, que fazem terrorismo, que querem um golpe de Estado. Agora há uma terrível repressão nas ruas pelo governo", expressou Dom Lückert em entrevista ao Grupo ACI em 31 de janeiro.

Dois deputados e uma advogada membros da ONG Coalizão pelos Direitos Humanos denunciaram em 28 de janeiro a prisão de mais de 80 menores. Isso teria acontecido depois das manifestações em massa que ocorreram no dia 23 de janeiro em todo o país e que foram convocadas pela oposição.

Segundo as Nações Unidas, desde então, pelo menos 850 pessoas foram presas, o maior número de prisões nos últimos 20 anos. Informaram também que 40 pessoas morreram.

"Se a prisão (de crianças) for verdadeira, a razão pela qual o fizeram é a chantagem, chantagear as pessoas por meio das crianças, isto é, deixá-las com medo. 'Se vocês não controlam seus filhos adolescentes, então nós vamos prendê-los’. O pior é que muitas vezes os pais não sabem onde estão presos", explicou o Prelado.

Dom Lückert disse que a participação nas manifestações foi totalmente voluntária e que ele compareceu na que foi realizada em sua cidade, Coro.

"Eu fui para a manifestação em Coro, subi ao palco, li um documento, insistindo na realidade do país, porque, como Arcebispo Emérito de Coro, tenho um povo que sofre de fome, falta de medicamentos, perseguições, pobreza e, sobretudo, um governo muito mentiroso", indicou.

Finalmente, Dom Lückert disse que "o governo tentou fazer uma contramanifestação, mas não deu certo por causa da grande presença de um povo que estava protestando por seus direitos".

A crise na Venezuela se agravou nas últimas semanas após Nicolás Maduro, presidente do país desde 2013, assumir novamente o cargo no dia 10 de janeiro para um novo mandato.

Maduro ganhou as controversas eleições presidenciais de 2018, cujo resultado não foi reconhecido por diversos países.

Depois de sua posse, o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou o presidente Maduro como ilegítimo e fez um chamado para que se realizem novas eleições.

Em 23 de janeiro, Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, órgão legislativo não reconhecido por Maduro e que foi substituída por ele pela Assembleia Constituinte, foi declarado presidente interino.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, reconheceu no dia 24 de janeiro Guaidó como presidente interino da Venezuela, enquanto países como a Rússia, Cuba e México expressaram seu apoio ao regime Maduro.

O Parlamento Europeu e outros países latino-americanos, como Peru, Colômbia, Equador, Brasil e Argentina, também expressaram seu apoio a Guaidó.

Por outro lado, no dia 31 de janeiro, a União Europeia anunciou a criação do chamado "Grupo de Contato de países europeus e latino-americanos" que terá "90 dias" de duração e busca desta maneira encontrar uma solução para a crise da Venezuela por meio de eleições.

Manifestações convocadas pela oposição reuniram multidões em todos os estados do país, inclusive na capital Caracas, para protestar contra Maduro.

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