Na primeira investigação criminal sobre um caso de eutanásia desde que a Bélgica legalizou esta prática, as autoridades do país examinam a morte de uma mulher com síndrome de Asperger que, de acordo com os promotores, pode ter sido envenenada ilegalmente em 2010.

Tine Nys, de 38 anos, foi diagnosticada com síndrome de Asperger, transtorno leve do espectro autista, dois meses antes de receber a eutanásia. Esta síndrome é uma das condições de saúde mental mais comuns que levam a esta prática na Bélgica, assim como a depressão e os transtornos de personalidade, segundo informa Associated Press.

A eutanásia de adultos foi legalizada na Bélgica em 2002 e a de menores em 2014.

A comissão de eutanásia do país havia rechaçado previamente as reivindicações da família Nys.

A irmã da mulher falecida disse a Associated Press que, embora Nys tivesse problemas de saúde mental, era "impensável que esses problemas justificassem a sua morte".

Depois que a família de Nys apresentou uma denúncia criminal, seus médicos tentaram bloquear a investigação. O psiquiatra que aprovou o pedido de Nys de acabar com a própria vida, Thienpont Lieve, supostamente escreveu que a família da "paciente" estava "traumatizada, ferida e disfuncional, com pouca empatia e respeito pelos outros".

Os médicos que aprovaram a eutanásia, incluindo Thienpont, agora enfrentarão um julgamento por envenenamento, segundo um promotor do caso, e poderiam ser condenados à prisão perpétua.

Joe Zalot, especialista em ética do Centro Nacional de Bioética Católica da Filadélfia, recordou que o ensinamento católico sustenta que tanto a eutanásia quanto o suicídio assistido são inadmissíveis.

"Ambos são imorais, mas eu diria que a eutanásia é muito mais grave, porque, em muitos casos, está matando o paciente sem seu consentimento; inclusive o paciente nem sequer sabe o que está acontecendo", disse Zalot a CNA – agência em inglês do Grupo ACI.

“Há outros casos de famílias de pessoas que foram submetidas à eutanásia, tanto na Bélgica quanto na Holanda, que têm algumas perguntas muito sérias sobre o que os médicos estão fazendo, depois que seus entes queridos foram assassinados sem que eles soubessem”, acrescentou.

Em sua encíclica Evangelium vitae de 1995, São João Paulo II escreveu que "a eutanásia é uma violação grave da lei de Deus, pois é o assassinato deliberado e moralmente inaceitável de uma pessoa humana. Esta doutrina se baseia na lei natural e na palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal".

Zalot assegurou que "a eutanásia é semelhante ao assassinato", porque acaba com "a vida de alguém e, da perspectiva da Igreja Católica, ninguém deveria ter a capacidade, muito menos o direito, de acabar com a vida de outra pessoa".

"Entre os argumentos de misericórdia (morte) escutarão: 'Estamos fazendo isso para aliviar a dor de alguém'. Mas, na maioria dos casos, a dor pode ser aliviada sem recorrer à eutanásia", acrescentou.

A legislação belga permite que menores de qualquer idade que tenham uma doença terminal peçam a eutanásia. É necessário o consentimento dos pais, assim como o acordo dos médicos e psiquiatras.

Em 2016 e 2017, três menores pediram a eutanásia, de acordo com um relatório do governo.

Houve 2.028 mortes por eutanásia em 2016 e 2.309 em 2017, com um aumento de 13%. O relatório revelou que o câncer é o principal motivo pelo qual as pessoas pedem a eutanásia.

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