O Papa Francisco assinalou na quinta-feira, 29 de novembro, que vender aqueles templos que já não têm uso, devido, entre outras razões, à “falta de fiéis e de clero”, não deve ser “a primeira e a única solução na qual pensar”.

Em uma mensagem aos participantes do congresso “Deus já não vive aqui? Dispensa de lugares de culto e gestão integrada de bens eclesiásticos culturais”, realizado em 29 e 30 de novembro na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, o Santo Padre assegurou que “a cessão não deve ser a primeira e a única solução na qual pensar nem jamais ser efetuada com o escândalo dos fiéis. Caso seja necessária, deveria ser inserida na ordinária programação pastoral, precedida por uma adequada informação e ser o mais partilhada possível”.

O congresso foi organizado pelo Pontifício Conselho para a Cultura, junto com a Pontifícia Universidade Gregoriana e a Conferência Episcopal Italiana.

Em sua mensagem, o Papa assinalou que os bens culturais da Igreja “são testemunho da fé comunidade que os produziu ao longo dos séculos e, por isso, são a sua maneira instrumentos de evangelização que se somam aos instrumentos ordinários do anúncio, da pregação e da catequese”.

“Mas esta sua eloquência original pode se conservar inclusive quando já não são usados na vida ordinária do povo de Deus, em particular através de uma adequada exposição museológica, que não os considere apenas documentos da história da arte, mas que lhes devolva quase uma nova vida para que possam continuar desempenhando uma missão eclesial”.

Em seguida, o Santo Padre indicou que “a constatação de que muitas igrejas, necessárias até há alguns anos, agora já não o são, seja por falta de fiéis e de clero, seja por uma distribuição diferente da população nas cidades e nas zonas rurais, deve ser vista na Igreja não com ansiedade, mas como um sinal dos tempos que nos convida a refletir e nos obriga a nos adaptarmos”.

“É o que de alguma maneira afirma a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, quando, sustentando a superioridade do tempo sore o espaço, declara que “o tempo ordena os espaços, ilumina-os e transforma-os em elos de uma cadeia em constante crescimento, sem marcha atrás’”, disse.

Recordando o martírio de São Lourenço, que ao receber a ordem do tirano de entregar os tesouros da Igreja apresentou os pobres que esta atendia, o Santo Padre destacou que “a iconografia sagrada muitas vezes interpretou esta tradição mostrando São Lourenço no ato de vender os preciosos objetos de culto e de distribuir os lucros conseguidos aos pobres”.

“Isso constitui um ensinamento eclesial constante que, embora proponha o dever de proteção e conservação dos bens da Igreja, e em particular dos bens culturais, declara que não têm um valor absoluto, mas que, em caso de necessidade, devem servir ao bem maior do ser humano e, especialmente, ao serviço dos pobres”.

Embora este evento “dará sugestões e indicará linhas de ação”, o Pontífice indicou que “as decisões concretas e últimas cabem aos bispos”.

“A eles recomendo encarecidamente que cada decisão seja fruto de uma reflexão conjunta conduzida dentro da comunidade cristã e em diálogo com a comunidade civil”, expressou.

“A edificação de uma igreja ou o seu novo destino não são operações que podem ser tratadas somente a partir de um ponto de vista técnico ou econômico, mas que devem ser avaliadas segundo o espírito de profecia: através delas, de fato, passa o testemunho da fé da Igreja, que acolhe e valoriza a presença do seu Senhor na história”, disse.

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