O governo da Índia informou em 29 de janeiro, em sua pesquisa econômica anual, que o aborto seletivo das meninas provocou a falta de 63 milhões de mulheres no país.

De acordo com Associated Press (AP), “a proporção desigual de homens e mulheres, na maioria das vezes, acontece devido aos abortos seletivos por sexo e ao fato de que os meninos recebem uma alimentação e cuidados médicos melhores”.

Na Índia, o aborto seletivo é ilegal e os médicos não podem revelar o sexo do bebê. Entretanto, é comum encontrar muitos médicos dispostos a ignorar as leis.

Além disso, informa AP, “a mistura de velhas crenças e a realidade econômica faz com que milhões de famílias indianas tenham medo de ter filhas”.

O relatório também assinalou que outras 21 milhões de meninas nasceram sem ser “desejadas” por suas famílias.

“As famílias onde nasce um filho homem são mais propensas a parar de ter filhos do que as famílias nas quais nasce uma filha mulher”, indicou o relatório.

Estudos recentes mostram que as meninas recebem menos educação, nutrição e cuidados médicos do que os meninos.

Além disso, as mulheres muitas vezes são pressionadas pelas suas sogras para terem filhos homens.

Na Índia, o nascimento de um menino é motivo de celebração e orgulho familiar, enquanto o nascimento de uma menina pode provocar vergonha e até luto para os pais, pois se preocupam com as enormes dívidas que vão ter que fazer por conta de seus casamentos.

Em alguns casos, inclusive, a própria família da mulher grávida induz o aborto, batendo no seu ventre.

O grande número de abortos de meninas, assinala ‘The Washington Post’, causou a existência  de aproximadamente 50 milhões de homens menores de 25 anos, que podem ser considerados uma “bolha populacional excessiva” – parecida com a da China devido à política do filho único vigente durante vários anos – que causa alguns desafios, relacionados à dificuldade de encontrar uma parceira.

“Talvez uma área na qual a sociedade indiana – e isso é do governo à sociedade civil, comunidades e famílias – precisa refletir mais é a chamada ‘preferência pelo filho’, pois o seu desenvolvimento parece não ter provado ser um antídoto”, indica a pesquisa.

Em abril de 2016, o Instituto Charlotte Lozier divulgou um relatório no qual assinalava que o aborto seletivo não ocorre somente na Índia e na China, mas também nos países ocidentais como os Estados Unidos.

Em todo o mundo, explicou Anna Higgins do Instituto Lozier, “há 160 milhões de meninas a menos por causa do aborto seletivo por sexo. Isso é algo que está afetando a sociedade humana em geral”.

Em sua opinião, o aborto seletivo por sexo é uma “discriminação letal e sexual contra as meninas”. “De qualquer forma é inerentemente injusto”, lamentou.

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