“Rezar pelos vivos e pelos mortos” foi a última catequese do Papa Francisco no ciclo sobre a misericórdia. Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Pontífice explicou que “rezar pelos defuntos é, antes de tudo, um sinal de reconhecimento pelo testemunho que deixaram e o bem que fizeram”.

“As catequeses, como disse no início, terminam aqui. Fizemos o percurso das 14 obras de misericórdia, mas a misericórdia continua e devemos exercitá-la destes 14 modos”, disse o Papa.

A seguir, o texto completo da catequese:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Com a catequese de hoje concluímos o ciclo dedicado à misericórdia. Mas as catequeses terminam, a misericórdia deve continuar! Agradeço ao Senhor por tudo isso e conservemos no coração como consolo e conforto.

A última obra de misericórdia espiritual pede para rezar pelos vivos e pelos defuntos. A essa podemos acrescentar também a última obra de misericórdia corporal, que convida a enterrar os mortos. Este último pode parecer um pedido estranho; e, em vez disso, em algumas partes do mundo que vivem sob o flagelo da guerra, com bombardeios que dia e noite semeiam medo e vítimas inocentes, esta obra é tristemente atual. A Bíblia tem um belo exemplo a propósito: aquele do velho Tobit que, arriscando a própria vida, enterrava os mortos apesar da proibição do rei (cfr Tb 1, 17-19; 2, 2-4). Também hoje há quem arrisca a vida para dar sepultura às pobres vítimas das guerras. Portanto, esta obra de misericórdia corporal não está distante da nossa exigência cotidiana. E nos faz pensar naquilo que acontece na Sexta-Feira Santa, quando a Virgem Maria, com João e algumas mulheres, estavam junto à cruz de Jesus. Depois da sua morte, vem José de Arimateia, um homem rico, membro do Sinédrio, mas que se tornou discípulo de Jesus, e oferece para ele o seu sepulcro novo, escavado na rocha. Foi pessoalmente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus: uma verdadeira obra de misericórdia feita com grande coragem (cfr Mt 27, 57-60)! Para os cristãos, a sepultura é um ato de piedade, mas também um ato de grande fé. Colocamos no túmulo o corpo dos nossos entes queridos, com a esperança de sua ressurreição (cfr 1 Cor 15, 1-34). Este é um rito que permanece muito forte e sentido no nosso povo, e que encontra ressonâncias especiais neste mês de novembro dedicado em particular à recordação e à oração pelos defuntos.

Rezar pelos defuntos é, antes de tudo, um sinal de reconhecimento pelo testemunho que deixaram e o bem que fizeram. É um agradecimento ao Senhor por tê-los dado e pelo seu amor e sua amizade. A Igreja reza pelos defuntos de modo especial durante a Santa Missa. Diz o sacerdote: “Lembrai-vos, Senhor, dos vossos filhos que nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz. Dai a eles, Senhor, e a todos que repousam em Cristo, a beatitude, a luz e a paz” (Cânon romano). Uma recordação simples, eficaz, cheia de significado, porque confia os nossos entes queridos à misericórdia de Deus. Rezemos com esperança cristã que estejam com Ele no paraíso, à espera de nos encontrarmos juntos naquele mistério de amor que não compreendemos, mas que sabemos ser verdadeiro porque é uma promessa que Jesus fez. Todos ressuscitaremos e todos permaneceremos para sempre com Jesus, com Ele.

A recordação dos fiéis defuntos nunca deve nos fazer esquecer também de rezar pelos vivos que junto conosco todos os dias enfrentam as provações da vida. A necessidade desta oração é ainda mais evidente se colocamos à luz da profissão de fé que diz: “Creio na comunhão dos santos”. É o mistério que exprime a beleza da misericórdia que Jesus nos revelou. A comunhão dos santos, de fato, indica que somos todos imersos na vida de Deus e vivemos no seu amor. Todos, vivos e mortos, estamos na mesma comunhão, isso é, como uma união; unidos na comunidade de quantos receberam o Batismo e daqueles que se alimentaram do Corpo de Cristo e fazem parte da grande família de Deus. Todos somos a mesma família, unidos. E por isso rezemos uns pelos outros.

Quantos modos diferentes existem para rezar pelo nosso próximo! São todos válidos e aceitáveis a Deus se feitos com o coração. Penso de modo particular nas mães e nos pais que abençoam os seus filhos de manhã e à noite. Ainda há este hábito em algumas famílias: abençoar o filho é uma oração; penso na oração pelas pessoas doentes, quando vamos encontrá-las e rezamos por elas; na intercessão silenciosa, às vezes com lágrimas, em tantas situações difíceis pelas quais rezar. Ontem veio à Missa na Santa Marta um bravo homem, um empreendedor. Aquele homem jovem precisa fechar a sua fábrica porque não dá mais e chorava dizendo: “Eu não consigo deixar sem trabalho mais de 50 famílias. Eu poderia declarar falência da empresa: vou embora com o meu dinheiro, mas o meu coração vai chorar toda a vida por essas 50 famílias”. Eis um bravo cristão que reza com as obras: veio à Missa para rezar para que o Senhor lhe dê uma saída, não somente para ele, mas para as 50 famílias. Este é um homem que sabe rezar, com o coração e com os fatos, sabe rezar pelo próximo. Está em uma situação difícil. E não busca a saída mais fácil: “Que se arranjem eles”. Este é um cristão. Fez tão bem a mim ouvi-lo! E talvez há tantos assim hoje, neste momento em que tanta gente sofre pela falta de trabalho; penso também no agradecimento por uma bela notícia que diz respeito a um amigo, um parente, um colega…: “Obrigado, Senhor, por esta coisa bela!”, também isso é rezar pelos outros! Agradecer ao Senhor quando as coisas vão bem. Às vezes, como diz São Paulo, “não sabemos como rezar de modo conveniente, mas o próprio Espírito intercede com gemidos inexprimíveis” (Rm 8, 26). É o Espírito que reza dentro de nós. Abramos, portanto, o nosso coração, de modo que o Espírito Santo, examinando os desejos que estão no mais profundo, possa purificá-los e levar a cumprimento. No entanto, para nós e para os outros, peçamos sempre que se faça a vontade de Deus, como Pai Nosso, porque a sua vontade é, seguramente, o bem maior, o bem de um Pai que não nos abandona jamais: rezar e deixar que o Espírito Santo reze em nós. E isto é belo na vida: reze agradecendo, louvando a Deus, pedindo algo, chorando quando há qualquer dificuldade, como aquele homem. Mas o coração esteja sempre aberto ao Espírito para que reze em nós, conosco e por nós.

Concluindo estas catequeses sobre misericórdia, nos empenhemos em rezar uns pelos outros para que as obras de misericórdia corporais e espirituais se tornem sempre mais o estilo da nossa vida. As catequeses, como disse no início, terminam aqui. Fizemos o percurso das 14 obras de misericórdia, mas a misericórdia continua e devemos exercitá-la destes 14 modos. Obrigado.

Com tradução de Canção Nova

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