Apesar do cessar-fogo decretado pelo presidente Salva Kiir, o Sudão do Sul ainda vive sob os reflexos dos recentes confrontos deflagrados no país. Diante disso, a Igreja Católica lançou um apelo, através do Conselho das Igrejas do Sudão do Sul, para uma jornada de oração pela paz no país, neste sábado, 16 de julho.

Após um acordo de paz que durava onze meses, na quinta-feira, 7, eclodiram novos confrontos na capital do Sudão do Sul, Juba, entre as tropas leais ao presidente Salva Kiir e ao vice-presidente Riek Machar, que já haviam se confrontado entre dezembro de 2013 e agosto de 2015. O conflito entre os dois grupos deixou cerca de 300 mortos. Além disso, mais de 36 mil pessoas fugiram de suas casas e estão refugiadas em missões de acolhimento das Nações Unidas e em Igrejas, entre outros locais.

Na segunda-feira, 11, foi anunciado um cessar-fogo. Entretanto, embora a violência tenha diminuído, o clima de tensão permanece elevado e nas últimas horas tem-se assistido à partida dos cidadãos estrangeiros que permaneciam na capital, apesar de os voos comerciais continuarem suspensos.

Alemanha, Reino Unido, Itália, Japão, Índia e Ruanda são alguns dos países que já começaram a retirar os seus cidadãos do Sudão do Sul. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenou, inclusive, o envio de soldados para o país para a proteção da embaixada e seus funcionários.

Os confrontos armados fizeram com que a população passasse a temer o regresso de uma guerra civil que assolou o país durante anos. Segundo a Fundação Pontífice Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), há relatos da fuga de milhares de pessoas em consequência dos mais recentes tiroteios e bombardeamentos.

De acordo com esses relatos, “muitas igrejas têm sido alvo” dos tiroteios, o que obrigou também à fuga de “muitos padres e irmãs”.

A vice-diretora de comunicação internacional da ACN, Maria Lozano, indicou que as informações provenientes da igreja no Sudão do Sul apontam momentos de profundo terror e angústia, com as populações “cercadas por tiros e artilharia pesada” com “centenas de soldados aos gritos”, assustando os civis, “na sua maioria, mulheres”.

Em muitos lugares, especialmente na capital, Juba, viveram-se situações dramáticas, com relatos de pessoas obrigadas a procurar abrigo “debaixo de caixotes e contentores”, até sob “pilhas de barras de ferro”, sempre que se escutaram os “disparos dos canhões”, que faziam “estremecer” todos os edifícios em redor.

De acordo com a Fundação ACN, depois das horas dramáticas que se viveram no último fim de semana, a situação parece um pouco mais calma embora a tensão permaneça visível nas dioceses de Yei, Rumbek, Wau, Tombura-Yambio e Malakal.

Informações prestadas à Fundação Pontifícia relatam que, neste momento, “os militares e a polícia têm assegurado a proteção” das pessoas que se encontram nas igrejas, embora as populações sejam “aconselhadas a não saírem dos edifícios”, ainda mais porque continuam escutando “disparos e bombardeamentos”.

Esses confrontos armados foram já frontalmente condenados pelas Nações Unidas e pela União Africana.

A presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, considerou como “totalmente inaceitáveis” os confrontos que trouxeram a morte e a violência ao Sudão do Sul, precisamente na semana em que o mais jovem país do mundo assinalava a sua independência, conquistada em 9 de julho de 2011.

“Os governos e as lideranças existem para proteger os vulneráveis, para servir o povo, não para o atacar e ser a causa do seu sofrimento”, afirmou Dlamini-Zuma.

Ela ressaltou que “os beligerantes estão de volta às trincheiras, enquanto as pessoas do Sudão do Sul, em vez de celebrarem os cinco anos de independência, estão uma vez mais barricadas nas suas casas ou têm de fugir como ovelhas diante de lobos”.

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