Diante da repercussão das recentes declarações do Cardeal Robert Sarah, com uma sugestão de mudança na celebração da Missa a partir do Advento, e posterior esclarecimento da Santa Sé, Pe. José Eduardo de Oliveira, da Diocese de Osasco (SP), conhecido também pelo seu ativo apostolado através das redes sociais, ressaltou que o mais importante “é a posição do nosso coração”.

No último dia 5 de julho, o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, assinalou que “é muito importante que voltemos assim que possível a uma orientação comum, dos sacerdotes e fiéis todos na mesma direção: para o oriente ou ao menos para o tabernáculo”.

Posteriormente, a Santa Sé divulgou um comunicado intitulado “Algumas elucidações sobre a celebração da Missa”, no qual afirma que “não estão (...) previstas novas diretrizes litúrgicas a partir do próximo Advento, como alguns impropriamente deduziram a partir de algumas palavras do Cardeal Sarah”.

Em recente texto publicado em seu Facebook, o Pe. José Eduardo, Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma), expressou que não havia comentado “a polêmica de Card. Sarah e o ‘ad orientem’ antes “porque já imaginava que seria este o desfecho”.

Entretanto, considerando importante algumas precisões, o sacerdote explicou que “uma coisa é a ‘posição do altar’ e outra a ‘posição interior do celebrante’”.

“Esta última sempre é ‘versus Dei’, como esclareceu uma resposta autêntica da Congregação para o Culto Divino do ano 2000 (Cf. prot. 2036/00/L), pois o padre reza a Deus, não ao povo, mas pelo povo e com o povo”, pontuou.

Por outro lado, no que diz respeito à posição do altar, o padre recordou que “a Igreja sempre teve as duas posições coexistindo em harmonia: ‘coram Deo’ (de frente para Deus) ou ‘coram populo’ (de frente para o povo). Ele cita por exempla as igrejas em estilo basilical, onde os altares sempre eram construídos voltados para o povo, mas sempre “ad orientem”, “pois o ponto de referência sempre foi Deus, e nunca houve um conflito entre os dois estilos”.

Entretanto, assinala Pe. José Eduardo, o problema se tornou praticamente ideológico nas últimas décadas, com “uma dialética artificial” entre as posições. Porém, recorda que a resposta da Congregação para o Culto Divino indica que as duas posições permanecem válidas.

“Na referida resposta autêntica, a Igreja já esclareceu que a norma litúrgica se refere a que se ‘possa’ celebrar facilmente ‘coram populo’, mas não que isso se ‘deva’ em todos os casos. Cabe aqui o discernimento pastoral na comunhão da Igreja”.

No comunicado divulgado pela Santa Sé, é esclarecido que “as normas relativas à celebração eucarística estão plenamente em vigor, como assinala o número 299” da Instrução Geral do Missal Romano, no qual se estabelece que se construa o altar afastado da parede, de modo a permitir andar em volta dele facilmente e a celebração se possa realizar de frente para o povo, o qual convém que seja possível em todas as partes. Segundo o mesmo, o altar, deve ocupar o lugar que seja de verdade o centro para espontaneamente convergir a atenção de toda a assembleia dos fiéis.

Contudo, Pe. José Eduardo chama atenção para certa “hipocrisia” de nossos dias. “Há tempos – afirma – se mandou alterar a fórmula da consagração para ‘pro multis’, e ninguém fez nada, embora houvesse um prazo de dois anos”. Além disso, recorda que “o próprio Papa Francisco mandou que se moderasse mais o ‘abraço da paz’, e praticamente ninguém viu nada se fazendo a respeito”. Mas, com relação a uma intervenção feita pelo Cardeal Sarah, “sem praticamente novidade alguma”, criou-se “uma celeuma”.

“A liturgia, no final das contas, se tornou um festival de gostos, e o problema que o Card. Sarah aponta continua candente: não se trata da posição do altar, mas da nossa posição interior”, assinala o sacerdote, levantando o questionamento sobre quem estamos buscando, se a nós mesmos e nossa popularidade ou a Deus.

Pe. José Eduardo recorda ainda que certas discussões em torno das palavras do Cardeal Sarah “voltaram àquela vergonhosa expressão de ‘celebrar de costas para o povo’”.

Por fim, o sacerdote declara que “independente da posição do altar, o que se pode sanar pela presença da Cruz ao centro, como faz Papa Francisco (que também celebra ‘versus Dei’ todos os anos, pelo menos na Capela Sistina, na festa do Batismo do Senhor, quando batiza os bebês), o que mais importa é a posição do nosso coração: celebramos para Deus”.

“Ele é nosso alvo, nosso centro, nosso horizonte… E isso não apenas enobrece a ação litúrgica, mas santifica o povo que dela participa, pois este não veio à Santa Missa para conferir a performance do padre, mas para passar pelo novo e vivo caminho aberto pelo Sangue do Cordeiro, entrar pelo véu rasgado e contemplar o Trono da Graça, para encontrar salvação e auxílio oportuno”, conclui.

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