“Muitos esperavam uma nova norma canônica e agora ficarão desiludidos” pois o Papa Francisco “não inova neste documento, mas segue a grande tradição pastoral e prudencial da Igreja”, afirmou na manhã de hoje o Cardeal Christoph Schonborn durante a apresentação da exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, acerca do amor na família.

O Arcebispo de Viena e encarregado de apresentar o documento do Santo Padre na Sala de Imprensa da Santa Sé, ressaltou que o Pontífice destaca no texto dois critérios que devem guiar a leitura do mesmo: o discernimento e o acompanhamento.

“Este discernimento nunca poderá prescindir das exigências da caridade da Igreja”, precisou.

Por sua parte, o Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário do Sínodo dos Bispos, agradeceu ao Papa por esta nova exortação e ressaltou que nela “o Santo Padre afirma a doutrina do matrimônio e da família, especialmente no capítulo três”.

“É significativo que Amoris Laetitia surja quando celebramos o Jubileu da Misericórdia e quando a instituição familiar confronta uma crise no mundo inteiro”. O texto, disse, “representa uma esplêndida síntese do pontificado do Papa Francisco”.

Ao ser perguntado a respeito do acesso à comunhão dos divorciados em nova união, o Cardeal Schonborn explicou que com este texto “não há uma nova disposição canônica”.

Para ampliar sua resposta recordou que há alguns anos, em 1981, um cardeal alemão que era conhecido pela sua claridade de pensamento respondeu a uma pergunta semelhante aconselhando que o tema seja dialogado “com seu confessor porque não se deve brincar com os sacramentos, nem com a nossa consciência”.

“O Papa fala muito da consciência. Como está a sua consciência frente a Deus? Não podemos brincar com Deus”, alertou.

Em seguida, o Cardeal austríaco disse que muitos se concentraram neste tema da comunhão para os divorciados em nova união quando “o Papa Francisco quer expor uma visão conjunta e não focar apenas em um ponto particular, o qual é importante, mas ainda particular”, que não pode abordar-se sem o critério do discernimento sem o qual “tudo cairia ‘do céu’ porque não teria conexão”.

A respeito destes fiéis, o Cardeal assinalou que existe a possibilidade de que decidam viver “como irmão e irmã, mas isto não é apenas um assunto centrado somente nas relações sexuais, pois este envolve toda a vida. O Papa Francisco não entra na casuística, mas nas instruções principais” para acompanhar estas pessoas e integrá-las na Igreja adequadamente.

Ninguém deve temer que com a Amoris Laetitia o Papa Francisco nos convide a um caminho não fácil”, sublinhou.

“Que o Papa eleve a voz sobre sua alegria e confiança na família, esta já é uma mensagem para toda a sociedade”, precisou em seguida.

A alegria da família

No início de sua apresentação, o Arcebispo de Viena compartilhou sua alegria pelo modo “com o qual o Papa Francisco fala da família” na exortação que é “um texto belíssimo”. “Posso dizer que às vezes nossos documentos eclesiásticos são um pouco fatigantes, mas apesar do texto extenso, a leitura é belíssima”.

No texto, o Santo Padre busca integrar todos porque cada um necessita de misericórdia, até em “um casamento no qual tudo está bem, também necessitam do perdão e de um novo início”.

“O Papa Francisco conseguiu falar de todas as situações sem catalogá-las e com uma benevolência fundamental, com o olhar de Jesus que não exclui a ninguém”, acrescentou. “Por isso, a leitura da Amoris Laetitia é tão importante. Ninguém deve sentir-se condenado nem desprezado”.

O Cardeal se referiu também ao modo como o Papa usa a linguagem e “muda o tom” com o qual “mostra um profundo respeito com cada pessoa onde já não são um problema, mas cada pessoa é única no seu caminho a Deus. Esta atitude fundamental atravessa toda a exortação”.

Esta exortação – prossegue – não favorece o laicismo, um everything goes (tudo é válido) e o Papa Francisco não deixa nenhuma dúvida sobre sua intenção e nossa missão, como ressalta o numeral 35 do documento: ‘como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimónio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano’”.

O Cardeal sublinhou também que os capítulos centrais da exortação são o quatro e o cinco, intitulados respectivamente “O amor no matrimônio” e “Amor que se torna fecundo”.

“Não podemos encorajar um caminho de reciprocidade se não consolidamos o amor conjugal”.

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“O capítulo quatro é um extenso comentário do hino da caridade, para acreditar no amor e crescer nele. Trata-se de um processo dinâmico”.

O Papa, explicou o Cardeal, exorta a caminhar para a santidade, a “descobrir a riqueza do matrimônio e o que significa descobrir a riqueza o amor”.

O capítulo oito, prossegue, mostra “como a Igreja trata as feridas”. É o resultado dá a reflexão dos Sínodos dos Bispos de 2014 e 2015. Ali, disse, “manifesta-se a fecundidade do método do Papa Francisco que queria uma discussão aberta sobre o acompanhamento pastoral das situações irregulares”.

Segundo o Arcebispo de Viena, uma chave de leitura pode ser a vida dos pobres, “por meio deles vemos com claridade os pequenos passos” que as pessoas dão para avançar. No texto, indica, vemos além disso “a experiência do Papa Francisco que caminhou com tanta gente pobre”.

Ao ser perguntado acerca de quem são os autores da exortação que colaboraram com a redação do texto, o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, explicou que “quando há um documento assinado pelo Papa, ou seja, Francisco, não há outros autores. Podem haver outros colaboradores, mas não podemos atribuir-lhe a mais ninguém”.

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