“A misericórdia foi o ‘fio condutor’ que guiou as minhas viagens apostólicas durante o ano passado”, afirmou o Papa Francisco no tradicional discurso que dirigiu ontem ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, e também fez uma breve recordação de suas visitas apostólicas realizadas na América, na Ásia, na Europa e na África, onde abriu a primeira Porta Santa do Jubileu da Misericórdia.

Durante seu extenso discurso, no qual falou principalmente acerca da crise migratória que enfrenta a Europa como resultado das centenas de milhares de pessoas que fogem da violência no Oriente Médio, o Papa se referiu a sua visita a Sarajevo, “cidade profundamente ferida pela guerra nos Balcãs e capital de um país, a Bósnia-Herzegovina, que se reveste dum significado especial para a Europa e o mundo inteiro”.

“Como encruzilhada de culturas, nações e religiões, tem-se esforçado, com resultados positivos, por construir sem cessar novas pontes, valorizar aquilo que une e olhar as diferenças como oportunidades de crescimento no respeito por todos. Isto é possível através de um diálogo paciente e confiante, que sabe assumir os valores da cultura de cada um e acolher o bem proveniente das experiências alheias”, expressou o Santo Padre.

Em seguida, recordou sua viagem à Bolívia, Equador e Paraguai, “onde encontrei povos que não se rendem diante das dificuldades e, com coragem, determinação e espírito de fraternidade, enfrentam os numerosos desafios que os afligem, a começar pela pobreza generalizada e as desigualdades sociais”.

“Durante a viagem a Cuba e aos Estados Unidos da América, pude abraçar dois países que, depois de prolongada divisão, decidiram escrever nova página na história, empreendendo um caminho de avizinhamento e reconciliação”.

A família como escola de misericórdia

O Pontífice recordou que a viagem aos Estados Unidos por ocasião do Encontro Mundial das Famílias, “bem como durante a viagem ao Sri Lanka e às Filipinas e com o recente Sínodo dos Bispos, recordei a importância da família, que é a primeira e mais importante escola de misericórdia, na qual se aprende a descobrir o rosto amoroso de Deus e onde cresce e se desenvolve a nossa humanidade. ”.

“Infelizmente, a família tem de enfrentar neste tempo em que está ameaçada pelos crescentes esforços de alguns em redefinir a própria instituição do matrimônio mediante o relativismo, a cultura do efêmero, a falta de abertura à vida”, lamentou o Papa.

“Hoje há um medo generalizado à condição definitiva que a família supõe e, quem o paga, são sobretudo os mais novos, muitas vezes frágeis e desorientados, e os idosos que acabam por ser esquecidos e abandonados. Pelo contrário, da fraternidade vivida na família, nasce a solidariedade na sociedade”, que nos leva a ser responsáveis uns pelos outros”.

O Santo Padre disse que “isto só é possível se nas nossas casas, bem como na sociedade, não deixarmos sedimentar incômodos e ressentimentos, mas dermos lugar ao diálogo, que é o melhor antídoto contra o individualismo tão largamente espalhado na cultura do nosso tempo”.

África e o Jubileu da Misericórdia

Finalmente, o Pontífice recordou sua viagem à África, no último mês de novembro para visitar o Quênia, a Uganda e à República Centro-Africana. Neste último país, na Catedral de Bangui, Francisco abriu a primeira Porta Santa do Ano Santo da Misericórdia.

“Em um país longamente atribulado pela fome, a pobreza e os conflitos, onde a violência fratricida dos últimos anos deixou feridas profundas nos espíritos, dilacerando a comunidade nacional e gerando miséria material e moral, a abertura da Porta Santa da Catedral de Bangui pretendeu ser um sinal de encorajamento para erguerem o olhar, retomarem o caminho e reencontrarem as razões do diálogo”, afirmou.

Como se recorda, a República Centro-Africana sofreu a guerra civil entre muçulmanos e cristãos.

“Lá onde se abusou do nome de Deus para cometer injustiça, quis reiterar, juntamente com a comunidade muçulmana da República Centro-Africana, que ‘quem afirma crer em Deus deve ser também um homem ou uma mulher de paz’ e, consequentemente, de misericórdia, porque nunca se pode matar em nome de Deus”.

“Só uma forma ideologizada e extraviada de religião pode pensar fazer justiça em nome do Onipotente, massacrando deliberadamente pessoas indefesas, como aconteceu nos sanguinários ataques terroristas dos meses passados na África, Europa e Oriente Médio”, assinalou.

Nesse sentido, o Papa Francisco afirmou que a convivência pacífica “entre membros de religiões diferentes é possível quando se reconhece a liberdade religiosa e se assegura uma real possibilidade de colaborar para a edificação do bem comum, no respeito mútuo da identidade cultural de cada um”.

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