“Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra”, narra o Evangelho de Mateus (2,11) sobre o momento em que os Magos do Oriente encontraram o Menino Jesus. Este episódio foi recordado pelo Igreja no último domingo, 3, ao celebrar a Epifania do Senhor. No Brasil, será rememorado também no próximo dia 6, quando se comemora o Dia de Reis.

É uma tradicional festa trazida pelos colonizadores portugueses no século XVIII e que ainda se mantém viva em diversas cidades. Trata-se da Folia de Reis, “grupo que reúne cantadores e instrumentistas para celebrar a data”, conforme explica o Professor e coordenador do Curso de Jornalismo na Faculdade Canção Nova, João Rangel, em artigo sobre essa tradição.

“Em Portugal, a manifestação cultural tinha a principal finalidade de divertir o povo. Aqui no Brasil, passou a ter um caráter mais religioso”, explica o jornalista.

Embora o Dia dos Santos Reis seja apenas em 6 de janeiro, em muitas localidades, os festejos começam logo após o Natal. Muitos seguem também o calendário litúrgico e comemoram esta festa no domingo da Epifania. Foi o que aconteceu na Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), onde grupos de Folia de Reis visitaram presépios.

No Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, mais de 40 pastorinhas, da cidade de Santa Luzia, seguiram em procissão após a Missa das 11h, encenando a Folia de Reis visitando os presépios da Igreja Nova das Romarias, Cripta São José e Ermida da Padroeira.

Também em Caeté, a Festa da Epifania do Senhor foi celebrada na Comunidade Divino Espírito Santo, que recebeu a visita das Guardas de Marujos de Nossa Senhora do Rosário e Santo Expedito de Ravena (Distrito de Sabará), do Congado Santo Antônio de Caeté e do Coral da Ordem dos Templários da Cruz de Santo Antônio, da cidade de Santa Luzia.

Os caminhos percorridos pelos grupos de Folia de Reis remetem ao percurso feito pelos Magos até encontrarem o Menino Jesus.

De acordo com João Rangel, os grupos de Folia de Reis percorrem as cidades “entoando versos alusivos à visita dos Reis, passando de porta em porta em busca de oferendas, que podem variar de um prato de comida a uma simples xícara de café. Em cada casa que é acolhida, a Folia apresenta-se cantando e tocando músicas de louvor a Jesus e aos Santos Reis, em volta do presépio, com muita alegria”.

A tradição da Folia de Reis conta com diferentes figuras que formam o grupo, sendo o líder o Capitão, que carrega a Bandeira. “Geralmente feita com tecido e decorada com figuras que representam o menino Jesus, a Bandeira é enfeitada com fitas e flores de plástico, tecido ou papel, sempre costuradas ou presas com alfinetes, nunca amarradas com ‘nós cegos’”, esclarece João Rangel, ao destacar que se trata de uma crença segundo a qual a forma de prender os enfeites é uma maneira de “não ‘amarrar’ os foliões ou atrapalhar a caminhada”.

O grupo é antecedido pelo palhaço, com suas roupas coloridas, máscara e uma espada ou varinha de madeira. “É ele o responsável por abrir passagem para a Folia”, conta o artigo. Os outros membros cantam e tocam seus instrumentos musicais, como violas, violões, caixas, pandeiros, também enfeitados com fitas e tecidos coloridos.

“Cada cor possui o seu próprio simbolismo”, explica o jornalista em seu artigo. De acordo com ele, “rosa, amarelo e azul, podem representar a Virgem Maria; branco e vermelho, o Espírito Santo”.

João Rangel ressalta ainda que, por esta tradição religiosa e popular, fiéis consideram o Dia de Reis como o encerramento dos festejos natalinos, quando costumam desmontar suas árvores de Natal e presépio.

Seguindo o calendário litúrgico, o Tempo do Natal tem início na véspera do Natal de Nosso Senhor e segue até o primeiro domingo depois da Festa da Epifania, no começo de janeiro. Durante este período são celebradas pela Igreja as festas da Circuncisão do Senhor, da Sagrada Família, de Santa Maria Mãe de Deus, da Epifania, dos Reis Magos e do Batismo de Jesus.