“O Papa Francisco encontrará na Albânia um modelo exemplar de convivência pacífica entre as religiões”, afirmou o Arcebispo de Tirana (Albânia), Dom Rrok Mirdita, ao referir-se à visita que o Santo Padre realizará em 21 de setembro a este país que, na década de 1960, sofreu uma forte perseguição religiosa no afã do então governo comunista de estabelecer a primeira nação ateia do mundo.

Com esta visita, o Papa realizará a sua primeira viagem a um país europeu, a qual contempla encontros com as autoridades civis, religiosas e os fiéis.

Em declarações à Rádio Vaticano, o Prelado destacou a grande catolicidade dos fiéis locais, que viveram “a pertença à Igreja Universal” inclusive quando o Sucessor do Pedro e a Igreja “eram considerados inimigos na pátria”.

“Penso na longa perseguição religiosa sob o regime comunista, mas também em outros momentos do passado. Agora é o Sucessor de Pedro que olha para nós e vem encontrar-nos, para confirmar-nos na fé e para fazer homenagem ao martírio e ao sofrimento dos católicos, mas não só. A Igreja na Albânia espera-o com alegria e afeto, mas também as outras religiões e não-fiéis têm grande estima e apreço por ele”.

Nesse sentido, recordou que depois da queda do comunismo se pensava que surgiriam as tensões inter-religiosas entre as comunidades ortodoxas, muçulmanas sunitas, católicas e muçulmanas bektashi, “mas não foi absolutamente assim. Albânia oferece um modelo exemplar de convivência pacífica”.

“Não digo que se tenha chegado a essa harmonia sem sacrifício, mas os sacrifícios feitos ao longo da história deram frutos de paz, dos quais hoje desfrutam todos os cidadãos no país. Os albaneses aprenderam, ao longo dos séculos, que se pode ser plenamente fiéis à própria religião no pleno respeito da religião dos outros”.

“Não se pode agradar a Deus violando os direitos dos irmãos, mas pode-se honrar a Deus, também em público, sem com isso invadir o espaço dos outros. Portanto, o Papa Francisco encontrará na Albânia um modelo exemplar de convivência pacífica entre as religiões”, afirmou.

Durante a entrevista difundida nesta sexta-feira, Dom Mirdita também recordou a visita de São João Paulo II faz 21 anos, que significou “uma carícia no corpo atormentado da igreja martirizada. Foi um dia de luz para toda a nação. Ele reconstituiu a hierarquia eclesiástica e consagrou os primeiros quatro bispos”.

Agora, explicou, a Igreja local tem leigos engajados, “um clero autóctone, religiosos e religiosas albaneses que auxiliam muitos missionários que trabalharam com generosidade, mas que aos poucos passam o bastão às novas gerações albanesas”.

“Também a sociedade mudou muito, mas alguns desafios permanecem os mesmos, como a corrupção, pobreza, desemprego, criminalidade organizada e a justiça”, assinalou.

O Arcebispo de Tirana disse que embora o pequeno país europeu tenha carências materiais, “é rico de outros valores. Temos a população mais jovem do continente, apesar dos fluxos migratórios, temos uma família ainda forte, na qual os anciãos são respeitados, ouvidos e são bem tratados”.

“Temos a preciosa convivência pacífica entre as religiões e, apesar do trauma da ditadura e do grande sofrimento do passado recente, não caímos na cilada de uma nova luta entre classes e mantivemos a paz social. Então pode-se dizer que o Papa Francisco entra no continente europeu através do encontro com um povo que não é abastado, que sofreu muito, mas que também tem muito a dar à Europa”, afirmou.