Apesar de sofrer de paralisia e depender de respirador artificial 24 horas do dia, como consequência de ter sofrido de poliomielite quando era ainda bebê, Paulo Henrique Machado aprendeu a realizar animações em 3D e se encontra embarcado no projeto de realizar uma série animada para crianças em base a sua vida.

Paulo é um cinéfilo e mora em um quarto do Hospital das Clínicas de São Paulo há 45 anos e tem muitas lembranças de filmes. Além disso, tem dois computadores bem equipados para realizar suas animações.

Quando era criança, recorda, ia com a sua cadeira de rodas pelo hospital, "para cima e para baixo, entrando no quarto das outras crianças que estavam ali; foi assim que descobri meu universo".

Em declarações à BBC, Paulo assinalou que quando era criança, "para mim, jogar futebol ou brincar com brinquedos normais não era uma opção, assim usava mais a minha imaginação".

A mãe de Paulo morreu quando ele tinha apenas dois dias de nascido. Quando era ainda bebê contraiu a poliomielite, em uma das últimas grandes epidemias dessa enfermidade no país.

Marcia Fizeto, que entrou para trabalhar como enfermeira no hospital pouco depois de que chegou Paulo, recorda que "era muito triste ver essas crianças, todas jogadas, imobilizadas em suas camas ou com muito pouca mobilidade".

Nessa época, os médicos não davam mais de dez anos de esperança de vida para estas crianças.

Paulo recordou como seus companheiros no hospital, seus amigos, que padeciam sua mesma enfermidade, foram morrendo um a um.

"Estávamos eu, Eliana, Pedrinho, Anderson, Claudia, Luciana e Tânia. Estiveram aqui por um bom tempo também, mais de dez anos", recordou.

A morte de seus amigos "foi difícil", reconheceu, pois "cada perda era como um desmembramento... como uma mutilação".

"Agora só ficamos dois de nós, eu e Eliana", disse, referindo-se a Eliana Zagui.

Os médicos ainda não conseguem compreender como Eliana e Paulo sobreviveram todos estes anos juntos.

Paulo assinalou que embora "alguns acreditem que somos como marido e mulher; somos mais como irmão e irmã".

"Cada dia, quando acordo, tenho a certeza de que minha força está aí, Eliana. E é recíproco. Eu confio nela e ela confia em mim", disse.

Dificilmente Paulo e Eliana podem sair do hospital, pelo risco de que sofram alguma infecção no exterior, por isso cada viagem é para Paulo memorável.

Segundo seus cálculos, esteve fora do centro médico ao redor de 50 vezes em sua vida.

"Há algumas (viagens) que se destacam, como ver a praia pela primeira vez quando tinha 32 anos. Abri a porta do automóvel e vi o mar e pensei: o que é isto!", recordou.

Recentemente, em maio de 2013, Paulo conseguiu arrecadar 65 mil dólares, através de uma campanha na internet, com o objetivo de produzir uma série animada em 3D, titulada "As aventuras de Leca e seus amigos", baseada em um livro escrito por Eliana.

Nesta produção, que animará com a técnica stop-motion, Paulo procura contar sua vida com Eliana, conhecida também como "Leca", e seus amigos.

Paulo quis fazer a série "atrativa, não só colorida, mas também cheia de travessuras para que as crianças gostem".

"Acho que os meus personagens são realistas, porque vêm de alguém que está deficiente. Sei as dificuldades que enfrentam", assegurou.