A líder do Movimento Cristão Liberação (MCL), Ofelia Acevedo, escreveu uma carta comovedora a Oswaldo Payá, falecido no dia 22 de julho em circunstâncias não esclarecidas, onde afirma que seu marido entregou sua vida generosamente a Deus e que ambos sabem que o mal não prevalecerá em Cuba.

"Só Deus sabe o que você sofreu há um mês, quando experimentou a imensa maldade do mal, que depois de te perseguir durante tanto tempo chegou a conseguir definitivamente seu troféu, arrancando-te a vida. Mas você entregou generosamente sua vida nas mãos do seu Pai, onde sempre se esteve. Mas você e eu sabemos que o mal não prevalecerá. Sua vitória sempre é efêmera", expressou na carta publicada por um jornal espanhol e reproduzida nesta quarta-feira pelo site Oswaldopaya.org.

No texto, Ofelia Acevedo expressa sua esperança de que sua família –ainda pressionada pelo Governo comunista- sairá logo do pesadelo que está vivendo, "porque você nos inspira, porque sabemos que confia em nós e nos comunica seu valor, sua coragem e esperança, porque nos ensinou a viver na verdade e buscar a justiça".

"Estou pensando, meu amor, nessa tua condição natural, que te fazia diferente, a firmeza que mantinha em tudo o que fazia e dizia (…) e é o seu sentido de responsabilidade, sobre tudo para com os jovens, os pobres, os indefesos e os discriminados. Você tinha a necessidade de entregar aos outros o que sabia, de dar sempre o melhor de ti", acrescentou.

Isto, expressou, se manifesta na quantidade de gente simples que se aproximava da sua casa em busca de uma palavra de esperança e que agora dizem o muito que aprenderam com o líder católico. Vinham, indicou, para descarregar suas frustrações pelos abusos que sofriam e pelas carências que padeciam. "Quando lhes fechavam todas as portas, você lhes abria as nossas", recordou.

"Como podia ter uma palavra para todos e que as pessoas saíssem satisfeitas, se não podia resolver os seus problemas? Agora posso ver que eles sentiam que você carregava um pouco dos seus problemas também", afirmou.

Por isso, "compreendo melhor sua pressa para que sejam feitas as mudanças verdadeiras que o povo necessita" e a reclamação a favor dos direitos humanos para os cubanos, pois a falta destes "gera a pobreza, a desigualdade e transtorna todos os valores morais".

Ao terminar sua carta, Ofelia Acevedo recordou um texto do Dietrich Bonhoeffer, "que você sabe que eu gostava muito de você e do Harold (Cepero) também".

"‘Quem se mantém firme? Somente aquele para quem a norma suprema não é sua razão, seus princípios, sua consciência, sua liberdade ou sua virtude, mas é capaz de sacrificar tudo, quando se sente chamado à fé e somente na união com Deus e na ação obediente e responsável, o responsável, cuja vida deseja que seja uma resposta à pergunta e ao chamado de Deus’. Onde estão os responsáveis? Oswaldo José Payá Sardiñas, meu marido durante quase 26 anos, é um desses responsáveis", expressou.

Oswaldo Payá, líder fundador do MCL, faleceu no dia 22 de julho junto com o ativista Harold Cepero enquanto iam para o oriente de Cuba. Segundo o Governo comunista, isto foi um acidente automobilístico devido a um excesso de velocidade. Esta versão é rechaçada pela família que afirma ter informação de que o automóvel onde viajava seu marido foi jogado da estrada por outro veículo.

O MCL promove o Projeto Varela para obter a transição pacífica de Cuba à democracia.