Ofelia Acevedo, viúva de Oswaldo Payá e nova líder do Movimento Cristão Libertação (MCL), pôs em dúvida a versão do Governo de Cuba de que seu marido morreu em um acidente de trânsito e pediu à Espanha e à Suécia colaboração para que possa falar com os dois sobreviventes do fato.

Oswaldo Payá e o também membro do MCL, Harold Cepero, faleceram no domingo após um acidente automobilístico. Seus dois acompanhantes, o espanhol Angel Carromero Barrios e o sueco Jens Aron Modig, saíram feridos, mas sobreviveram.

"Eu quero que me dêem uma investigação transparente, que me deixem falar com as testemunhas vivas do fato, com as pessoas que estiveram ao lado do meu marido até a última hora. Eu encaminhei ambas as petições ao embaixador da Espanha e da Suécia. Quero que vocês as façam chegar ao Governo espanhol", expressou em um arquivo de áudio difundido esta quarta-feira 25 no site oswaldopaya.org.

Acevedo assinalou que a única informação que tem é de um major de sobrenome Sánchez "que me viu um momento no departamento de Medicina Legal para me fazer entrega do cadáver". "Brevemente me disse que foi um acidente, que tinham perdido o controle do veículo por excesso de velocidade e que o carro perdeu o controle e bateu contra uma árvore e que isso tinha provocado a morte do meu marido e a do jovem no carro", indicou.

Entretanto, a nova líder do MCL assinalou que até o momento não recebeu "nada por escrito, nem reportagem gráfica ou fotográfica alguma" por parte do Governo. Do mesmo modo, recordou que seu marido sempre foi "muito precavido" quando dirigia e que ele pedia o mesmo às pessoas que às vezes o levavam em algum veículo.

"Eu tenho esta breve informação dada por este oficial. Não tenho nenhuma obrigação de acreditar nela", expressou.

Acevedo recordou que nas duas últimas duas décadas sua família e os membros do movimento opositor experimentaram ameaças contra suas vidas. Portanto, indicou, "tenho todo o direito a por em dúvida (a versão dada pelo oficial)".

"Eu não tenho intenção de procurar culpados, mas tenho todo o direito de saber como foi o episódio. Não posso dizer que foi um acidente. Isso é o que me diz o Governo, mas não tenho por que acreditar no Governo tampouco. O que temos é uma vasta experiência de mentiras e difamações de parte do Governo a respeito do meu marido e do movimento", acrescentou.

Do mesmo modo, a viúva de Payá aproveitou para desautorizar Elizardo Sánchez Santa Cruz, porta-voz da Comissão Cubana de Direitos humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), que em um primeiro momento disse à AFP que pediram "a dois colaboradores nossos residentes em Bayamo que se transladassem ao lugar do acidente. Viram a árvore onde bateram" e "pelo dano recebido se vê que o impacto foi brutal e que não havia outro veículo envolvido".

"Algumas rádios de Miami (disseram que o automóvel foi tirado do caminho por outro que investiu contra ele), mas o nosso trabalho é apegar-nos à verdade dos fatos e os fatos se ajustam a um lamentável acidente, no qual pode haver responsabilidade indireta do Governo pela desastrosa situação da estrada", acrescentou.

Entretanto, segundo a Radio Nederland, Sánchez explicou posteriormente "que ele não foi tão categórico ao dizer que ‘a morte de Oswaldo Payá foi produto de um desafortunado acidente’".

"Pelos informes que recebemos sabemos que ocorreu um acidente, mas não podemos entrar em detalhes em relação à causa. Dissemos de maneira categórica que devemos esperar que se produza a declaração dos dois sobreviventes", indicou Sánchez à emissora.

Ofelia Acevedo assinalou que não conhece equipe de testemunhas "que chegam até ali e vêem as coisas. Eu não tenho nenhuma foto do carro ainda, nem do lugar onde foi", tampouco os pertences pessoais de Payá, como "a pequena câmara de vídeo que levava".

"Portanto eu não estou desautorizando por completo a versão que ele (Elizardo Sánchez) está dando, nem ratificando que isto foi um acidente porque eu ainda não estou convencida”, expressou Ofelia Acevedo.