Em um artigo publicado na sexta-feira última no semanario político italiano L’EXPRESSO, o vaticanista Sandro Magíster anota que, embora o Papa João Paulo II tenha perdido temporariamente a voz, “fala forte e claro” no seu último livro “Memoria e Identidade”.

Segundo Magíster, desde a Encíclica “Evangelium Vitae” de 1995 o Pontífice não expressava palavras tão duras contra as democracias que legislam a favor do aborto e em contra da vida e o direito natural. Segundo a vaticanista, em coincidência pelo menos parcial com autores não crentes, que contudo, reconhecem o papel do direito natural –tais como o filósofo Leo Strauss e o científico Leon Kass, atual responsável da Casa Branca para temas de bioética-, o “antimoderno” João Paulo II é tudo menos inatual.

A obra “Memoria e Identidade” recolhe as conversações mantidas em 1993 entre João Paulo II e dois filósofos poloneses amigos seus, Josef Tischner, falecido em 2000, e Krzystof Michalski.

Dez anos depois, em 2003, o Pontífice decidiu botar em ordem os temas do diálogo e adicionar outra conversa mantida com o seu secretário pessoal, o Arcebispo Stanislaw Dziwisz, que inclui reflexões sobre o atentado do 13 de maio de 1981 e a expansão das redes do terror no mundo, desde o ataque de 11 de setembro até a massacre de crianças em Beslan, em Osetia do norte.

No livro, o Papa João Paulo II reconhece que a democracia é o modo de governo mais natural ao homem, todavía ao mesmo tempo lembra que o sistema democrático não pode violar a lei natural. Conclui assim que as leis em contra da vida, como aquelas que legalizam o aborto, a eutanásia ou o “matrimônio” homossexual, carecem totalmente de validez jurídica.

No seu artigo, Magíster apresenta o juizo de dois importantes intelectuais italianos que expressam suas opiniões nas respectivas entrevistas, sobre a crítica que o Pontífice lança às democracias occidentais.

Os entrevistados são Giovanni Sartori, Professor da Universidade de Florença,  laicista e habitual crítico das posições do Santo Padre; e Silvio Ferrari, católico e docente na Universidade Estadual de Milão.

Sartori, na entrevista publicada pelo vaticanista italiano, reconhece que a acusação de que a democracia pode converter-se numa tirania quando viola o direito natural “tem precedentes inclusive fora da Igreja, no pensamento laicista”, e cita Jacob L. Talmon, autor da obra “A Democracia totalitária”.

Ferrari por sua parte, indica que o Pontífice adverte sobre o problema de que a democracia se converta em mera formalidade que oculta uma forma de totalitarismo, mas reconhecendo que não existe alternativa viável à democracia.

Os comentários completos dos dois analistas sobre o livro do Papa se encontram em inglês na página de Sandro Magíster. www.chiesa.espressonline.it/index.jsp?eng=y