Jack Kevorkian, conhecido mundialmente como o "Doutor Morte" por seu apoio à eutanásia e por ter colaborado no suicídio de 130 pessoas (tendo filmado uma delas), faleceu esta madrugada em um hospital de Detroit (Estados Unidos) à idade de 83 anos.

A morte de Kevorkian, que tinha sido condenado a 25 anos da prisão por homicídio em segundo grau por um destes casos, ocorreu às 02:30 a.m. desta sexta-feira, conforme indicou seu advogado e amigo Mayer Morganroth.

Liberado em 2007, Kevorkian esteve internado há um mês por diversos problemas: falhas nos rins, diabete, hepatite C. O "Dr. Morte" tinha prometido em diversas declarações, logo depois de sua libertação, a não voltar a participar de suicídios.

A história do "Dr. Morte"

"Devem me acusar. Se não o fizerem, entender-se-á que não acreditam que se trate de um crime. Não necessitam mais provas, ou sim?". Com estas palavras, Jack Kevorkian ou o "Doutor Morte", desafiou as autoridades do estado norte-americano de Michigan e assinou, sem sabê-lo nem esperá-lo, sua sentença a 25 anos de cárcere no programa televisivo que transmitiu um vídeo com seu último "suicídio assistido".

Em 1987, Kevorkian iniciou formalmente seu macabro ofício de assistente de suicídios com um aviso publicitário no qual se apresentava como "médico assessor de doentes abandonados que desejem morrer com dignidade" e saltou à fama graças a que os meios massivos cobriram amplamente a invenção do Mercitron, um aparelho criado em sua própria cozinha que se converteu na primeira máquina do mundo para suicidar-se.

Desde esse momento Janet Adkins, Marjorie Wantz, Karen Shofftall, Margaret Garrish, Thomas Youk e outras dezenas de pessoas, passaram a ser nomes conhecidos na crescente lista de "pacientes" que procuravam terminar os padecimentos de seus males em plena crise emocional, vítimas da obsessão mortal de Kevorkian, que se preocupou mais por vê-los morrer que por verificar se estavam realmente doentes.

O doutor L.J. Dragovic, médico forense do condado de Oakland, foi quem conduziu a investigação sobre as autópsias. Desde que terminou seu trabalho se nega a considerar como "suicídio facilitado por um médico", algum dos casos nos que interveio Kevorkian injetando drogas letais ou proporcionando monóxido de carbono.

O que viu bastava e em sua opinião, Kevorkian "não é mais que um carrasco em série".

Desde seus anos de estudante, Kevorkian era visto por seus companheiros como um sujeito no mínimo "inquietante", inclusive em relação à plenitude de suas faculdades mentais. Não por coincidência conseguiu o apelido de "Doutor Morte" logo depois de graduado, e não nos últimos anos, como a maioria pensa.

Tinha a afeição de relatar os massacres de seus antepassados armênios pelos turcos na Primeira guerra mundial e defendia o holocausto nazista porque "jamais poderão ser feitos novamente as experiências com humanos".

Kevorkian se converteu no centro de atenção de companheiros e chefes mais por suas estranhas afeições que por suas inovações médicas, desde que era residente de patologia em um hospital de Detroit durante a década de 50.

Fazia turnos especiais em busca de pacientes moribundos para manter-lhes as pálpebras abertas com fita adesiva e fotografar suas córneas com o fim de observar se os vasos sangüíneos mudavam de aspecto no momento da morte, todo isso obviamente sem lhe importar a dignidade do moribundo.

Convencido de que nenhuma experiência era muito desatinada, no princípio dos anos sessenta já ensaiava transfusões de sangue de cadáveres a pessoas vivas, procurava permissões para experiências com réus condenados à morte por considerar "um privilégio único fazer provas com um ser humano que vai morrer".