A Igreja Católica em Cuba insistiu ao Governo de Raúl Castro que empreenda "reformas urgentes" no sistema de saúde ante o "deterioração dos hospitais", a "corrupção", a falta de medicamentos e o serviço precário de médicos "mal remunerados".

Em um artigo publicado em sua revista semanal Palabra Nueva, afirma-se que "não é necessário cair em mãos de Wikileaks para que se produzam as fugas informativas de determinados acontecimentos" nos centros de saúde cubanos, citando como exemplo a morte de 26 doentes do Hospital Psiquiátrico de Havana, ocorrida em janeiro de 2010.

"Ter ignorado os males incipientes nos levou a situações indesejáveis e trágicas", lamenta a nota assinada por Orlando Márquez, porta-voz do Arcebispado de Havana, na que critica que as autoridades cubanas tenham feito alarde dos "êxitos" obtidos em matéria de saúde, sem tomar medidas para frear a deterioração deste serviço na ilha.

Márquez menciona problemas como "a deterioração dos hospitais e o temor a estar internado, a contaminação das salas de operações que, em ocasiões, chegaram a provocar mortes", assim como "o cansaço e esgotamento dos médicos e enfermeiras mal remunerados e mal alimentados nas longas horas de trabalho em nossos centros assistenciais".

"A fama nos subiu à cabeça e não previmos o que podia ocorrer, nem quisemos ver a ferida que se abria cada vez mais, com o passo dos anos, em nosso sistema de saúde", assinala o texto.

O artigo ilustra como a corrupção penetrou em todos os setores da sociedade cubana. "Chegamos a um ponto em que quase ninguém escapa ao mal do roubo e a compra e venda no mercado negro, porque este é um vício que penetrou em todos os poros da sociedade cubana contemporânea", explica.

"Tampouco ajuda a obstrução mental de alguns, se o que estiver em jogo é, precisamente, a saúde de nosso sistema", adverte a Igreja no texto intitulado 'Reformas: Também na Saúde Pública'.

Desde que triunfou a revolução em 1959, o regime castrista afirmou ser exemplar no mundo em matéria de saúde e educação, superando em qualidade os serviços que oferecem as principais potências como os Estados Unidos. Cuba exportou milhares de médicos a importantes missões humanitárias, destacando por seu trabalho.

Entretanto, denúncias como a descrita em Palabra Nueva foram produzidas nos últimos anos e foram divulgadas através dos dissidentes que, burlando as restrições que há sobre Internet, publicam suas impressões do que acontece nos hospitais cubanos.

O Governo de Raúl Castro atribui os problemas econômicos ao bloqueio econômico que mantém os Estados Unidos sobre Cuba há quase meio século, com o que sanciona a terceiros países que fazem negócios com a ilha.

"Por tudo isso, necessitamos reformas urgentes", insiste o artigo do Arcebispado de Havana.

"Não se trata só de produção ou de cumprir compromissos econômicos internacionais, o qual é importante sem dúvida (...) é, acima de tudo, um modo de saldar uma velha dívida moral conosco mesmos", particulariza o texto.

As reformas que está fazendo o regime e que serão debatidas no próximo 16 de abril no Congresso do governante Partido Comunista de Cuba "não trarão o paraíso à ilha, mas pode ajudar na diminuição da corrupção e a pôr freios a uma amoralidade que ameaça asfixiando-nos", considera Márquez.